Capítulo 4

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Velho guerreiro, nova guerra

-"Não devemos perder tempo com esses pesos mortos... temos milhares de vidas pra salvar."
-"Quatro pessoas também contam, Hiordan... Faz seu trabalho que o meu faço eu!"

-AARGHH!

Grita o velho cavaleiro despertando de mais uma noite de sono insuportável.
Worin Peryon, um habitante solitário do vale de Evets, ao sul de Woffujon e centenas de quilômetros do Vale Real, se levanta vagarosamente a procura de água.
- Vinte anos! Vinte longos anos... Pra que me torturar com sonhos assim? - Diz Worin, bebendo o que achou em seu cantil.
O homem de quarenta e poucos anos alimenta seu cachorro, toma um banho num lago próximo á sua cabana e em seguida se arruma e vai até o vilarejo, onde vê pessoas que não conhece mas sempre comprimenta:
- Olá senhor Peryon! Lindo dia né?
- Igual a todos os outros meu amigo.
Muitos o observa com certo medo pois o misterioso homem vive ali faz duas décadas mas não tem nenhuma ligação com nenhuma das pessoas do local. Worin entra numa taverna e pede um copo de café.
- Acabou faz tempo. - responde Jellian, o dono do lugar - Os grãos foram saqueados ao passar por Yonem.
- Merda! - resmunga Worin - Não se pode beber nada nesse buraco? Me dê uma cerveja então. - diz ele batendo a mão no balcão.
- Calma lá coroa. - diz um jovem acompanhado de três comparsas - estresse mata.
Worin olha um por um e nada diz.
- Ele deve ser doido... Vinte anos numa cabana sem ao menos uma mulher, hahaha!
Todos na taverna observam o momento tenso, quando Worin se levanta e se dirige até a porta mas é impedido por um dos rapazes.
- Que foi vovô? Com medo de nós?
- Deixem o homem em paz! - diz Jellian - Ele nada fez.
O rapaz que parece ser o líder do grupo se aproxima do dono do bar e lhe acerta um soco no nariz.
- Aqui em Evets nós somos a lei. A gangue Krass comanda tudo... Venha velho, mostre do que é feito.
Worin se vira e anda em direção ao rapaz.
- Qual seu nome meu jovem?
- Huhg Krass seu velhaco.
- E sua idade?
- 22 anos. Vamos velho, ou quer meu histórico?
Worin caminha até Huhg que ao ver que o homem não para de encará-lo desfere um soco.
Alguns desviam o olhar, mas os que não o fizeram viram Worin desviar e continuar andando até Jellian.
- Você está bem?
- EI SEU BOSTA! ME ENCARA! - grita Huhg.
Jellian se levanta e balança a cabeça de maneira positiva.
- Rapaz, o único lugar sem lei é em Yonem. Não transforme esse pacato local esquecido pelos reinos naquele inferno. Use suas habilidades, que são poucas, em algo bom.
Todos se espantam pois ninguém se metia com a gangue Krass. Worin deixou uma moeda contendo 10 unidades e se despediu de Jellian. E andou até a saída. Huhg com raiva por ter sido ignorado tenta um golpe pelas costas, mas Worin desvia e lhe desfere um gancho de direita devastador que o apaga na mesma hora. Os comparsas tentam atacar mas não conseguem acertar um golpe sequer no homem, que acerta um com um chute no estômago, outro com uma cotovelada na testa e outro com uma joelhada no nariz. Todos se espantam. Ele sai da taverna e se depara com a chegada de dez cavaleiros portando o brasão Heyken. Worin então tenta se esconder atrás de um barril quando um dos cavaleiros convoca a todos a comparecer a noite na praça central. Os moradores ficam murmurando sem entender enquanto Worin sai e vai direto para sua cabana.
Ao chegar ele solta seu cachorro:
- Vai seu pulguento! Corre e vai atrás do que comer.
O cão corre pela pequena floresta que cerca a cabana enquanto o dono fica refletindo enquanto bebe água:
"Soldados de Heyken... O que os trazem aqui?"- pensou ele - "Nunca em duas décadas nenhum oficial próximo aos reinos veio aqui..."
Seu pensamento é interrompido pelo latido de seu animal que vem abanando o rabo trazendo um coelho em sua boca.
- Bom garoto! Mas você o babou todo... Pode comer! Procurarei uns peixes para assar a noite.
As horas passam e Worin curioso com o ocorrido decide ir, mas com disfarce, pois tinha receio de ser reconhecido. Ele então se dirige até a praça de maneira sorrateira, vestindo um velho manto com capuz, escondendo o rosto.
Os soldados da lua guerreira então se juntam a multidão curiosa. Um deles apanha da bolsa uma carta e começa a ler:
"O rei supremo Alvus Blackius está morto!"
Todos se espantam. Worin fica chocado com a notícia.
Muitos começam a murmurar.
-"Após quase vinte anos de reinado, nosso soberano caiu vítima de conspiração e armadilha feita pelos seus próprios aliados. Sem ter a quem herdar a coroa, pois a família real inteira foi chacinada por covardes cruéis, Dorvus Heyken, braço direito do outrora rei e cavaleiro da lua guerreira agora é o nosso novo rei supremo da terra em que habitamos. Todos devem saudar seu novo e supremo rei Heyken."
Todos ficam perpléxos. Worin abalado com a notícia tenta sair mas é visto por Huhg e sua gangue. Ele é atingido pelas costas e cai no meio da multidão, que se dispersa e abre um círculo com Worin e os quatro membros da gangue Krass dentro.
- Qual o motivo desse circo? - gritou o capitão Less Hymm do exército da lua guerreira - Vocês deviam se ajoelhar a nós. Serão penalizados.
Os quatro de uma vez atacam Worin, que se contêm para nao chamar atenção, mas é agredido por eles. Os soldados apartam a briga e um dos Krass arranca o manto e a camisa de Worin, revelando diversas cicatrizes em seu corpo.
- Parem com essa baderna!
- Vá a merda! - grita um dos Krass - Nunca deram valor a esse lugar! Por quê dariam agora?
- Diferente do falecido Alvus, o rei Dorvus agora tomará posse de toda a terra em que seus olhos se deitarem. Sua bandeira será fincada em cada solo e tudo fará parte de seu reino.
A multidão se divide em aplausos, pois talvez agora teriam benefícios reais e em vaias. Os soldados empunham suas espadas para afastar a todos.
- Aqui pro seu rei - diz Huhg cuspindo no capitão - Evets é minha propriedade.
O capitão em um movimento veloz mata Huhg com sua espada, o que assusta a todos.
- Jamais blasfemem como esse imundo, pois essa é a recompensa.
Worin se levanta e dá de cara com o capitão Less.
- Wo... Worin...Worin Peryon! Impossível!
Worin corre e some na multidão. Os soldados tentam achar ele seguindo ordens de seu capitão, mas em vão pois nunca haviam ido a esse lugar, enquanto Worin passou duas décadas escondido no local.
- Quem de vocês sabem onde mora Worin Peryon? - gritava o capitão Less - Vamos, digam ou todos terão o mesmo destino desse moleque que eu matei!
- Eu... Eu posso te levar... - disse um dos jovens da gangue Krass - Só tenha piedade.
- Caso o encontremos será impossível mostrar tal sentimento.
Worin chega em sua cabana e solta novamente seu cachorro.
- Não dê uma de herói. Só comece a latir caso alguém chegue perto de casa!
O cachorro correu para o mato enquanto Worin apanhava um baú num buraco escondido no chão da cabana.
Enquanto isso, se aproximando do local os soldados e o jovem baderneiro se perguntavam o motivo do capitão mostrar temor ao ver o velho misterioso.
O capitão começa a falar.
- Qualquer soldado já ouviu falar da batalha do Vale Huun.
- Sim senhor... Centenas de guerreiros do rei Alvus foram chacinados por selvagens que se aliaram ao lorde Kamm Grieh quando tentavam resgatar seis pessoas que faziam parte do conselho real.
- E o resto da história? - pergunta o capitão Less - Vocês sabem?
- Soldados da lua guerreira foram enviados para o apoio, mas de nada adiantou. Todos os seis foram mortos pelos selvagens.
O capitão retira o capacete e coça a cabeça.
- Alguém já ouviu falar da Estrela de Guerra?
- Eles são uma lenda...
O jovem Krass sem entender pergunta:
- Estrela? Achei que só houvesse o Sol guerreiro e a Lua guerreira...
- A Estrela de Guerra era um grupo de elite, que era enviado para fazer trabalhos que nem mesmo os maiores guerreiros tinham coragem de fazer... Tarefas que nem o grande cavaleiro e agora nosso rei supremo Dorvus Heyken ousaria aceitar.
- Porra... - diz o jovem - E o que o velho tem a ver?
- A equipe enviada tinha três membros: Emmet Huwin, Kon Hiordan e Worin Peryon!
- Como é? E você tá nos levando até esse cara?
O capitão dá um soco no rapaz e manda continuar a levar eles até o esconderijo de Peryon.
- Senhor... e o que houve?
- Dois dos conselheiros morreram durante o resgate, juntamente com Emmet. Hiordan decidiu desistir da missão, pois haviam muitos para lutar e os quatro restantes os atrasaria, mas Worin não aceitou. Fontes disseram que Hiordan então o atacou pelas costas e o lançou rio abaixo e matou ali mesmo os quatro que ele deveria resgatar.
Os soldados começaram a se preocupar.
- Worin Peryon foi dado como morto e Kon Hiordan desertou e a Estrela de Guerra foi desativada, pois soldados de elite desequilibrados poderiam pôr a perder toda a luta que foi feita para consolidar o falecido Alvus Blackius rei supremo.
- Ele devia estar morto! - disse um dos soldados - E agora temos que caçar um fantasma?
O capitão suspira e diz:
- Não viemos para fazer dele um prisioneiro. Ao achar ele, matem-no!
Os homens então chegam até a cabana. Um silêncio tenso e concentração tomam conta deles.
- Pronto... Posso ir? - diz o jovem Krass.
- Sim!
O capitão então atravessa o coração do rapaz e se junta aos seus homens.
O cachorro de Worin então os surpreende e ataca, mordendo um dos soldados na garganta. O capitão Less corta-lhe a cabeça, cessando os latidos que serviriam de alerta. Worin então aparece. Trajando sua antiga armadura, com estrelas talhadas no metal e um brilho quase tênue causado pelo tempo em que estava guardada. Ao ver seu cachorro caído sem vida ele fica irado.
- Ele estava comigo faz oito anos...
O capitão Less limpa o sangue do animal de sua espada e ordena um ataque dos oito soldados restantes.
- Vocês vieram em dez soldados. Um meu cachorro matou, - diz Worin - e esse verme desse capitão é meu alvo por tê-lo matado. Vão embora... Não precisam morrer por nada.
Os soldados hesitam e o capitão grita com eles:
- Vamos seus malditos... Peguem ele!
Dois deles atacam, mas Worin bloqueia os golpes e os esmurra evitando matá-los.
- Se... Senhor... Ele é uma estrela da guerra...
- Não importa! Matem ele!
Três deles resolvem atacar e Worin os golpeia novamente, com chutes e socos. O capitão tenta aproveitar a bagunça e ataca, mas acerta seu próprio soldado. Worin o encara e diz:
- Última chance rapazes! Fujam ou morrem.
Quatro deles correm, o capitão e apenas três soldados restantes ficam.
- Seus inúteis! Irei pessoalmente decaptá-los quando terminar aqui!
- Você não terá essa chance - diz Worin - Vou matar você aqui e agora!
Os três soldados pulam para matar Worin, que num golpe rasga a garganta de um deles, em seguida atravessa o peito do próximo. O terceiro recua e é morto pelo capitão.
- Idiota covarde! Eu mesmo faço isso!
Então chega a hora dos experientes guerreiros se enfrentarem. Worin fixa o olhar em Less que engole seco.
- Você tinha apenas quinze anos quando eu ja matava os melhores Less!
- Matando você seu velho, - diz Less - Eu serei nomeado lorde! Serei o melhor!
Então Worin ataca, Less defende e lhe acerta um soco.
- Se vire pra mim - diz Less - Não o atacarei pelas costas como seu amigo Hiordan.
Ao ver o oponente bambear, Less tenta acertar a espada no pescoço de Worin, que bloqueia com o bracelete da armadura.
- Hiordan errou ao não ter me matado de verdade!
Less grita:
- Isso acaba hoje.
Worin o acerta com um chute no joelho de Less e em seguida corta-lhe as mãos.
- Aaaargghhh!
Worin coloca a lâmina na garganta de Less e lhe amaldiçoa.
- Hahaha... Matar a mim de nada adiantará... - diz Less, agonizando - O rei supremo Heykey saberá disso!
- Aquele convencido se tornou rei... Quem conspirou contra Alvus também matará a Heyken.
- Não... Não matará. Ele mesmo quem assassinou tanto o rei Alvus quanto sua família... E colocou a cabeça de todos leais a Alvus Blackius a prêmio... Você... Uma estrela de guerra... Tão leal ao rei será caçado também... Essa vila será dizimada só por você ter morado aqui... Sua lealdade ao rei Alvus o matará!
Worin hesita, mas o encara e diz:
- Não sou leal a rei nenhum! Não mais! E se ele vier atrás de mim, farei o que eu fazia de melhor...
- O quê? - pergunta Less - O quê vai fazer?!
Worin sorri.
- Irei caçar o rei!
Num golpe só cortou a cabeça de Less. Worin com suas próprias mãos enterrou seu cachorro, apanhou o brasão da lua guerreira e voltou para a cabana. Pegou todos seus suprimentos e uma caixa com moedas contendo milhares de unidades. E seguiu em sua nova e talvez última missão: Entrar em uma guerra particular e praticamente suícida contra o novo rei supremo da terra em que ele habita.

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⏰ Última atualização: Dec 16, 2015 ⏰

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