Unilateral

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 Apoio a cabeça em uma mão e finjo que estou prestando atenção na Sra. Mavis explicando sobre como os Transcendentes tomaram varias províncias na Bulgária no século dezessete. Olho para o relógio, mais sete minutos e estaria livre dessa baboseira por dois dias, certo que teria que trabalhar mais do que todo o resto da semana, mas; que grande besteira! Estávamos agindo exatamente igual aos adolescentes Loakin, estudando um passado que não vai mudar e que não vai nos ajudar em nada no campo de batalha.

Bufo e o sinal de saída toca, jogo meus cadernos dentro da bolsa surrada e saio da sala. Já estou atravessando a porta quando esbarro em Irla, ou Irlanda, ou Vadia Rainha do colégio.

- Olhe por onde anda, escrava – ela fala com desdém.

As Vadias Suditas atrás dela riem exageradamente. Escrava? Eu trabalho para que todo o lado sul funcione, é um serviço difícil porém sou eu e outros coletores que mantém todo o exercito vivo.

Abro um sorrisinho zombeteiro e faço uma ligeira reverencia:

- Desculpe pela minha pele trabalhadora tocar em suas preciosas roupas, Alteza. Ah, esqueci que você perdeu o titulo junto com seu pai inútil.

Todos sabem que o pai de Irla perdeu todo logo que sua mãe se casou com um Astrate de um clã mais rico há dois anos.

- Como você ousa... – ela começa

Levanto uma sobrancelha sem tirar o sorrisinho da cara:

- Vai reclamar com o papai, alteza.

Contorno o corpo perfeito de Irla e faço sinal para as três garotas atrás dela se separaram para eu passar.

- Meninas – aceno com a cabeça

Sigo pelo corredor deixando Irlanda fervendo de raiva para trás. A Abelha Rainha do colégio costumava ser uma das garotas mais ricas de toda a área sul até sua mãe deixar do pai dela, levando toda a fortuna da família junto. Irlanda Oshan vem de uma de vampiros muito antiga e orgulhosa, tanto que alem dos olhos castanhos e o cabelo loiro, herdou da mãe o sobrenome de impacto, uma tradição da família Oshan.

Mudo minha rota ao ver Orianna, a bruxa com as menores notas e os maiores peitos que a área sul já havia visto, e Dean, meu ex cafajeste que me traiu, no fim no corredor. Minha paciência esta curta demais para encarar a vadia ruiva.

Entro no banheiro e me encaro no espelho, meu rosto quase desprovido de maquiagem, a não ser pelo delineador em meus olhos, está pálido. Meu cabelo repicado até os ombros com algumas mechas vermelhas está mais arrepiado que o normal, até a franja que cobre minha testa está um pouco mais rebelde sinal de que algo ruim esta para acontecer.

Sou uma bruxa Unilateral, o que significa que nasci sem o lado ''natural'' do oficio, ou seja, não tenho controle sobre os elementos naturais como a maioria das bruxas tem. Meus poderes são basicamente telecinese e outras coisas não relacionadas aos elementos. Poucos de nos nascem assim, o que nos da algumas vantagens como emprego garantido e moral diante os superiores. A maioria das bruxas tem olhos de cores naturais, porém os meus são verde esmeralda com pupilas finas, olhos de gato. Acho que com o passar dos anos aprendi a gostar disso.

Reparo em minhas roupas, tão diferentes das que as outras garotas usam. Enquanto elas preferem vestidos, saias e outras roupas desconfortáveis, eu prefiro calças jeans, coturnos, blusas escuras e jaquetas meláveis, super confortável. Quando se é uma coletora, deve-se estar preparada para lutar a qualquer momento.

Os coletores vão a área neutra e procuram por crianças Transcendentes que não tem conhecimento de seus poderes, pois é, nem todos tem a sorte de nascer na família Oshan não é. O oficio se torna perigoso quando os coletores do lado sul tentam roubar a sua coleta, o que é extremamente incomodo pois, apesar de se dedicarem mais aos estudos, os coletores Loakin são bons de briga.

Saio do banheiro e caminho até o portão, onde devo esperar minha equipe para irmos até a base. Admito que meu emprego é duro, porém trabalho com a melhor equipe que um coletor poderia querer. Kioha, uma vampira loira e pequena demais para ter quinze anos é minha suporte, Eileen é a melhor atiradora que a área sul já viu, e é boa de briga, por ser lobisomem. E por fim, temos Eiliah, nosso astrate nerd que apesar de ser um gênio em computação, lida com facas como um assassino profissional.

- Tanja Iardella sua piranha! – Kioha vem correndo em minha direção.

Apesar da falta de tamanho, a vampira é forte e extremamente rápida. Com um movimento perfeito, Kioha empurra meus ombros para baixo ao mesmo tempo que da uma cambalhota perfeita por cima de minha cabeça. Senti-me como uma barra de apoio.

- Sua vampirinha de merda – exclamo caçoando dela

- Me chama de vampirinha de novo e eu arranco seus olhos – ela aponta o dedo para mim.

Eu e Kioha temos esse relacionamento desde que nos conhecemos, há cinco anos. Ela veio de uma família de humanos com dez anos, enquanto eu vivi na mansão Iardella minha vida toda. Desde então, nossa amizade é repleta de brigas físicas e verbais, piadas sujas e batalhas com Loakin's.

- Onde estão aquelas vadias? – pergunta ela

- E aquele vadio – corrijo, lembrando-me de Eliah.

- Que seja – Kioha da de ombros e começa a andar – já devem estar da base. Vamos.

Suspiro e sigo a vampira minúscula. Ela não deve ter mais de um metro e quarenta e sete centímetros, porém o que lhe falta em altura é compensado na beleza, Kioha tem cabelos loiros ondulados que descem até a cintura, grandes olhos verdes e um rosto fino característico dos vampiros. Como ela só se alimenta de sangue animal, seus olhos não são vermelhos, porem quando irritada, eles tomam uma coloração quase vermelha. Agora, com seu cabelo preso em um rabo-de-cavalo alto, as orelhas pontudas ficam visíveis e ostentando brincos de pedras negras. Kioha se veste quase igual a mim, porém ao invés de coturnos, ela usa saltos altos e batom vermelho vinte e quatro horas por dia. Não posso negar, minha melhor amiga é linda demais.

Chegamos a base, uma construção cinza e simples depois de quinze minutos de caminhada. Consigo ver Eileen de longe, já carregando o rifle e acomodando-o nas costas, enquanto Eliah manuseava duas pistolas, provavelmente ajeitando-as para ela.

Eileen também é linda, sua cabeleira ruiva cacheada desce até a cintura, e ela sempre a deixa solta, ostentando os cachos para as escravas-de-chapinha. Como é uma lobisomem, seus olhos tem um tom azul Royal penetrante, o que deixa seu olhar intenso ainda mais assustador. Eileen tem o corpo mais bonito que já vi, um equilíbrio perfeito entre quadris, cintura fina, seios e altura mediana. Suas roupas são sempre pretas e de couro, dando a ela um ar perigoso. Apesar do jeito rude e das roupas grosseiras, Eileen é a pessoa mais compreensiva e engraçada que conheço.

- Estamos esperando a meia hora – ela diz, sem tirar os olhos da arma

- Trinta minutos passam muito devagar quando você tem que carregar mil armas para essa obcecada ai – comenta Eliah.

O garoto não passa despercebido também, com um e oitenta de altura, cabelos loiros e olhos negros, ele é a combinação perfeita entre anjo e demônio, um astrate digno.

- Da um tempo, já tive que limpar suas facas quando você ficou doente – reclamo – Vamos, estamos perdendo tempo.

- Uma criança de um adolescente – Eileen passa os dados da missão – ambos moram no mesmo quadrante, o que facilita muito.

Entramos no carro e continuamos comentando enquanto a lobisomem dirige para a área neutra.

- Quais espécies? – Kioha pergunta

- Fada e lobisomem – Eliah responde

- Alguma ameaça dos soldados Loakin? – indago

- Sempre tem essa possibilidade – Eileen responde – mas isso torna tudo mais divertido.

O sol já esta se pondo enquanto dirigimos pela estrada principal até a área neutra. Sinto uma energia vindo de meu corpo que agita meus cabelos, sei que algo ira acontecer. Meu coração acelera e aperto minhas mãos, em uma tentativa frustrada de fazê-las pararem de suar.

- Está tudo bem, Tanja? – Eliah pergunta

- Sim – minto.

Meu maior erro.


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⏰ Última atualização: Dec 04, 2015 ⏰

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Transcendentes: As Crônicas da Mansão IardellaOnde histórias criam vida. Descubra agora