Primeira parte

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Seu nome significa "bondade e felicidade". Ela, uma filha de coreanos de família humilde nascera no Brasil. Com, ainda, seus dezoito anos,semi-analfabeta já era casada e morava em uma boa casa no interior de São Paulo com seu marido ,"poderoso" pelo significado do seu nome, cujas origens e situação seriam as mesmas se ele não tivesse vindo de um poder aquisitivo melhor. Em uma tarde que precedia a abertura dos jogos da Copa do Mundo FIFA daquele ano de 2002, ela vestida com seu macacão que usava geralmente quando mexia em seu jardim, que ficava na parte de frente da casa ao lado da garagem de frente para a rua, para a qual teria uma boa vista se não fosse aqueles muros tão altos. Naquele momento colhia alguns temperos para o jantar que faria para seu marido, mais tarde. Em geral era uma mulher sozinha tendo como suas únicas companhias as hortaliças, legumes e um pé de acerola, que era o seu xodó. No tronco dele, perto das raízes tinha algumas pequenas cruzes que ela mesma tinha colocado.

Vez ou outra escutava suas vizinhas felizes dentro da casa umas das outras. Ouvia enquanto estavam dentro, elas rindo e cantando músicas religiosas. Sun-Hi não tinha nada disso, ou qualquer outra doutrina que não fosse servir ao marido. Naquele dia não foi diferente,porém, curiosa, ela saiu no portão para observá-las, enquanto saíam da casa ao lado. Todas a cumprimentaram quando a viram, porém nunca tinham conseguido tirar dela um sorriso ou informações a mais como qualquer bom vizinho. Ela estava interessada em se abrir um pouco mais, porém não sabia como. Percebendo algo no olhar dela uma das vizinhas lhe deu um panfletinho, ela só pôde agradecer e guardar no bolso quando viu o carro do marido dobrando a esquina e entrando na rua. Sem demora, ela foi para dentro de sua casa, para que ele não achasse que aquela movimentação de mulheres tivesse sido por obra dela.

Mais a noite, da cozinha onde ela estava preparando o jantar, dava para se ouvir o som de volume médio da televisão, pela qual estava sendo divulgados os grupos e as primeiras disputas dos jogos. "Coreia do Sul contra Polônia", ela escutou.

Um brado foi o som que veio daquele cômodo, dando a ela a impressão de que Kang-Dae estava entrando furioso na cozinha, fazendo com que ela se assustasse a ponto de deixar com que sua faca caísse de ponta no chão de tacos, bem próximo ao seu pé esquerdo.

— Coreia!!!— o marido exaltava o time com gestos e voz carregados de desejo para que ganhassem.

 Ao perceber que o berro não tinha sido para ela, saiu da posição de petrificada, pegou a faca e continuou com o seu afazer, porém com as mãos um pouco trêmulas por conta do susto.



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