Algumashoras mais tarde, naquela mesma noite, Sun-Hi já estava de pijama eterminava de ajeitar o quarto para poder dormir quando seu maridoentrou e empurrou-a sobre a cama. Enquanto ela se virava de bruços,ele tirava a roupa de ambos com ferossidade. Se fosse um casal comum,poderia-se dizer até que fizeram amor, mas o ato estava mais paraviolência sexual. Ela cheirosa dos pés a cabeça, e ele com ocheiro da mistura de uísque e suor. Entretanto, já estavaacostumada, sabia que não poderia demonstrar nem uma reação nemboa, menos ainda ruim. Em geral preferia vagar em pensamentos, assimtudo poderia passar mais de pressa. A única coisa que passava em suacabeça, naquele momento, era a sorte que seus pais tinham por ter umgenro que os sustentavam em tudo e que os tratavam como seus própriospais, já que ele não os tinha. Mesmo depois de acabado, o ato,aqueles pensamentos nunca eram o suficiente para afastar a tristezagerada por aqueles que sempre a mantinham firme.
Enquantoele dormia, roncando e ocupando quase todo o espaço da cama, ela,ainda acordada, passava a mão na própria barriga e deixava-seiludir pelo fato de que gostaria muito de ter um filho, como os desuas vizinhas, que enchiam a rua de alegria com as brincadeiras. Amaternidade seria um grande presente para ela, porém havia um outromotivo, que dependendo do ponto de vista, poderia parecer até umpouco egoísta. E esse era o fato de que a criança, além decompanhia para ela, trouxesse um pouco de amor e compaixão para avida do pai. Porém a realidade não condizia com seus sonhos, poisSun-Hi sabia que seu útero era fraco. Há muito tomava remédio paraengravidar e, com sorte, talvez um dia ela conseguisse um únicofilho.
Às20:30 da noite, do dia 4 de junho, foi dado o início ao primeirojogo da Coreia. Kang-Dae estava sentado na sala com seu uísque,enquanto Sun-Hi estava no quarto deles, fazendo oraçõessilenciosas para que ele não se sentisse incomodado. Aprendera afazê-las de tanto ouvir suas vizinhas que se reuniam para agradecerpelas vidas que tinham e pedir cura para aqueles que necessitavam.Por não ter orientação, a oração de Sun-Hi era simples: sópedia para que a Coreia do Sul ganhasse aquele jogo.
Doisa zero para o time da casa foi o placar, o que fez com que seu maridodesse muitos gritos de felicidade e a levasse para jantar em umrestaurante depois do término da partida. Ela ficou feliz, mas teveque tratá-lo a noite inteira como se ele mesmo tivesse vencido.
Seisdias depois, às três e meia da tarde, o jogo era contra os EstadosUnidos. Kang-Dae tinha saído mais cedo do trabalho, mas chegou vinteminutos depois do início da partida, o que proporcionou a esposa umtapa bem dado na face. Este era o modo dele descarregava suas raivase frustrações. O empate do jogo deixou o clima da casa ainda maispesado. Porém, felizmente, ele bebeu tanto que acabou dormindo nosofá por um bom tempo naquela noite.
Nomesmo horário do primeiro jogo, foi o do dia 14 de junho, contraPortugal. Enquanto rolava, a jovem fazia sua oração como se fosseum mantra, repetindo sempre a mesma coisa. Achava que era assim quedeveria fazer. O 1x0 para a Coreia do Sul fez com que seclassificasse para a Segunda Fase. Ela ficou feliz. Sentia, também,que todo o seu corpo estava aos poucos se enchendo de uma alegriasingular, afinal havia uma esperança do time do marido ganhar.Naquela noite, também saíram para comemorar. Quando voltaram, semque o marido percebesse, ela vomitou tudo o que tinha comido. Pensavaque tivesse exagerado, mesmo comendo pouco.