Parte 01 de 03 - Presente

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©Essa história foi escrita por Kaline Bogard sem fins lucrativos, feito de fã para fãs. Cópia parcial ou total, assim como o uso do enredo, está terminantemente proibido. Plágio é crime.

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Pensei em muitas formas de começar a contar essa história. A minha história. Mas nenhuma delas parecia boa o bastante. Acho que eu estava idealizando demais a narrativa, querendo tornar algo banal em fantástico.

Algo banal não.

Nada na minha vida pode ser tratado pela alcunha de "banal".

Pra facilitar sua compreensão, vou me apresentar. Meu nome é Aomine Hayato. Tenho dezesseis anos e estou no segundo ano colegial. Sou filho de duas mães e diagnosticado como soropositivo desde o meu nascimento.

Uau.

Até eu me surpreendo quando falo as coisas dessa forma. Mas também sinto um tipo de... distanciamento. Como se olhasse de fora para a vida de outra pessoa. Sensação que trato logo de espantar sempre que se abate sobre mim. Com todos os prós e os contras, eu não trocaria minha vida por nada. Gosto da minha família e gosto de quem eu sou.

Não é fácil, claro.

Tenta imaginar como é crescer filho de duas mulheres no Japão. Visualiza na sua mente viver no Japão sendo portador do HIV. Dois estigmas que são chagas abertas na sociedade e sangram dia após dia.

Sortudo eu... Taiga kachan diz que eu sou seu bilhete premiado.

Às vezes não me sinto assim.

Isso podia me derrubar, sei bem. Mas aprendi a usar ao meu favor e tornar ferramentas para me tornar mais forte. Não fisicamente, mas deixar a minha mente imbatível. Porque a sociedade te pega pelo ponto fraco e te vira do avesso. Se você deixar.

Fisicamente eu não sou muito diferente das outras pessoas. Quer dizer, eu sou alto. Pra caralho (levando em conta os padrões japoneses, claro). Sou péssimo pra contar histórias, tenha paciência. Pra resumir: se você olhar pra mim não vai achar que eu tenho AIDS, não é como levar uma tatuagem na testa. A maior parte do tempo eu tomo o coquetel e isso é suficiente pra me deixar bem.

Mas tem momentos em que não é assim. Porque até uma gripe pode me derrubar. Teve dias tão ruins que eu pensei que não ia... você sabe... estar aqui pra continuar a minha história.

Desde que eu entrei no Colegial as coisas estão bem estáveis. Mesmo a parte ruim, as outras pessoas entendem como um "ruim normal". Eu mudei de escola, então não se espalhou que eu nasci diferente.

O diretor dessa escola tem a mente muito aberta. Ele fez uma reunião com os três membros da minha família e tivemos uma conversa madura da qual nunca me esquecerei. Até porque, convenhamos, é inesquecível receber orientação sobre sexo seguro na frente de suas duas mães... e esse foi o ponto mais forte do nosso encontro. O diretor falou muito sobre minha responsabilidade. Além de ser cedo para começar com... hum... isso, ele me alertou para a importância de me precaver e não disseminar o vírus. Mas não é como se eu tivesse planos de sair transando como louco por aí. Ou sequer transando! Sou um adolescente. Japonês. Qual é.

Mas a decisão do diretor me deixa em um dilema de merda. Não quero esconder de ninguém, não é como se eu sentisse vergonha do que sou. Mas... já sei por experiência própria que a recepção é bem ruim. Pessoas tendem a temer o que não compreendem. Não as culpo por isso. As culpo apenas por se defender, atacando.

Elas me atacaram. Muito. Por todo o Ensino Fundamental.

Fiz a promessa de que, caso sofra Ijime no Colegial também, eu vou desistir. Arrumo um emprego e deixo a escola para lá. Já falei isso para minhas mães. Nenhuma das duas gostou muito, mas respeitaram a decisão.

A vida em três tempos (AoKa)Onde histórias criam vida. Descubra agora