FOI MINHA CULPA

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- Temos um de nossos convidados favoritos no show de hoje. Ele é o mundialmente famoso médium espiritual James Van Praagh. Oi, James. Seja bem-vindo novamente ao show - Rona disse. Ela era a DJ de um dos mais populares shows de rádio do país e, ao longo dos anos, me convidara muitas vezes.
Antes de começar a receber mensagens, levo algum tempo concentrando minha energia. Depois, focalizo a mente para preparar-me para ouvir, sentir ou ver qualquer um dos espíritos que esteja perto da pessoa que telefona para o programa.
- Hoje temos a Thereza na linha. Diga oi para o James, Thereza.
- Oi, James - Thereza cumprimentou.
Ao ouvir o som da voz da pessoa que está do outro lado da linha, eu me concentro nela para ver se há energias ao seu redor. Quando Thereza falou, ouvi uma voz bem estridente e recebi uma impressão. No centro da mente, vi um homem jovem bem junto do ombro esquerdo da moça e soube instintivamente que era o irmão dela.
- Bom dia, Theresa - eu disse. - O seu irmão morreu com mais ou menos 22 anos?
- Sim - ela respondeu.
O irmão então projetou uma cena na minha consciência. Ela continha sangue e partículas pretas correndo por uma veia humana. A seguir, vi um braço marcado por picadas de agulha. O jovem estava chorando.
- Seu irmão está me passando a impressão de que morreu de overdose. Isso está correto?
Pude ouvir Theresa suspirar. Aparentemente essa confirmação a impactara, como se ela estivesse vivenciando a agonia da morte do irmão outra vez. Ela começou a chorar. Após alguns momentos, sussurrou:
- Sim.
O espírito então me enviou seu nome: Mark.
- Mark está me dizendo que sente muito. Ele não pretendia ir embora desse jeito.
Theresa voltou a chorar e então, de repente, ficou em silêncio.
Rona rapidamente interveio.
- Theresa, você ainda está aí?
Alguns segundos depois, Theresa gritou.
- Foi minha culpa. Eu deveria tê-lo feito parar. Foi por minha culpa que ele morreu. Eu queria fazê-lo parar, mas não consegui.
Naquele momento, Mark me enviou pensamentos, pedindo que dissesse à irmã que parasse de se culpar por isso.
Eu disse a ela:
- Essa foi uma escolha dele. Você não teve nada a ver com isso. Mark ama você.
Theresa continuava chorando. Finalmente ela reagiu:
- Ele me telefonou aquela noite. Tinha certeza de que era ele, mas não consegui pegar o telefone. Talvez estivesse drogado e eu simplesmente não podia lidar com aquilo outra vez.
- Quem é Roger? - perguntei.
A menção de Roger a fez chorar de novo.
- Oh, meu Deus. Não consigo acreditar nisso! Diga a ele que sinto muito. Por favor!
- Mark pode ouvir seus pensamentos, Theresa. Você pode dizer a ele diretamente que sente muito.
Rona interveio:
- Você conhece alguma pessoa chamada Roger, Theresa?
- Conheço, sim. O Roger é um antigo namorado meu. Eu o apresentei a meu irmão. Eu não sabia que ele traficava cocaína.
A pobre da Theresa continuou a soluçar. Rona e eu tentamos consolá-la, mas ela prosseguiu no seu lamento.
- Se eu não os tivesse apresentado, meu irmão estaria vivo hoje. Foi Roger quem vendeu as drogas que o mataram.
Eu imediatamente disse a Theresa:
- Seu irmão está dizendo que você não fez nada de errado. Ele precisava descobrir por si mesmo. Se você quiser fazer alguma coisa por Mark, por favor, perdoe a si mesma. Ele não gosta de vê-la sofrer.
Theresa então pediu:
- O senhor pode perguntar o que ele queria naquela noite quando me telefonou? Não consigo parar de pensar nisso. Eu deveria ter pego o telefone.
Enviei uma mensagem telepática a Mark perguntando o motivo de sua ligação. Ele me mostrou forografias espalhadas sobre uma cama.
- Ele está se referindo a fotografias numa caixa de sapato. Você compreende?
- Sim - ela respondeu.
- Mark está dizendo alguma coisa que soa como "bomica", "bomipa", ou mais como "bonita". Não tenho certeza do que isso significa.
Theresa reagiu com espanto.
- Meu Deus. Eu era a irmã mais velha e tomava conta dele. Quando estava aprendendo a falar, ele me olhava e dizia "Você é bomica", porque não conseguia pronunciar "bonita". Ele dizia: "Eu amo você, bomica."
Pude sentir o alívio na voz dela.
Rona interrompeu:
- Obrigada, Theresa. Agora temos de atender outra chamada.
- Espere! Posso dizer mais uma coisa? - ela pediu.
- Sim, vá em frente - Rona respondeu.
- As fotografias que o senhor mencionou. Mark de fato guardava fotos numa caixa de sapato. Quando o encontraram em seu quarto, havia fotografias de nós dois quando éramos pequenos espalhadas por todo o chão.
Eu a interrompi para transmitir-lhe que, naquele momento , o irmão dela estava dizendo: Eu amo você, Bonita.
Por causa das limitações de tempo de um programa de rádio, é difícil dar às pessoas que telefonam toda a ajuda de que precisam. Era impossível resolver o sentimento de culpa de Theresa em releção a Mark em alguns minutos, por telefone. Geralmente eu ajudo a pessoa a encontrar um terapeuta na cidade onde mora.
Durante o intervalo, depois do telefonema, perguntei ao direto do programa se poderia me comunicar com Theresa fora do ar.
- O irmão dela está me implorando para falar com ela mais um pouco.
O diretor concordou e, após o show, telefonei para Theresa, que continuava chorando.
- Você não está se sentindo melhor depois de falar com seu irmão? - perguntei.
- Sim, mas ainda me sinto culpada por não tê-lo ajudado quando ele precisou de mim.
- Isso é algo que você terá de elaborar para se perdoar.
Logo em seguida, Mark começou a comunicar-se e levou nossa conversa para uma direção bastante inesperada: Diga a minha irmã que eu tinha voltado para a Terra para aprender uma das lições mais importantes da minha vida.
- Que lição foi essa? - perguntei a Mark.
Ele continuou: Como uma alma, tive de aprender a não deixar que as deogas me impedissem de lidar com as experiências rotineiras da vida. Vivi diversas vidas anteriores, nas quais consumi álcool e drogas em excesso. Morri de overdose em outras duas vidas. Dessa vez, voltei para ver se podia derrotar essa personalidade viciadora. Foi isso o que vim fazer nessa vida. Era um teste para ver se eu tinha crescido.
Transmiti aquelas informações a Theresa.
- Você está me gozando? - ela me perguntou com rispidez.
- Não. É isso o que ele está dizendo.
Mark explicou melhor: O vício é uma lição difícil de ser aprendida. A pessoa se droga para não se sentir responsável. É a maneira cômoda de não lidar com os estresses e as escolhas da vida. Acho que não fui suficientemente forte, ou que não acreditei em mim mesmo o bastante para derrotar o vício, apesar de ter tentado. Você melhora com cada oportunidade de vida. Precisarei fazer tudo isso novamente, mas prometi a mim mesmo que vou superar esse vício. Por falar nisso, obrigado por todas as orações.
A profunda percepção de Mark nos deixou estupefatos.
Theresa perguntou:
- Onde é que ele está agora?
- Ele diz que está num lugar de reflexão, como um hospital. Ele sabe perfeitamente que é uma alma e quer ajudar você e outras pessoas a entenderem por que ele se envolveu com as drogas. Ele está dizendo: As pessoas podem começar a ver o vício nas drogas a partir de um ponto de vista diferente e talvez ter mais compaixão com os viciados. Ele disse que você não deveria se sentir culpada pelo vício dele.
- Obrigada, James.
- Ele quer transmitir mais uma coisa. Mark está dizendo: As pessoas deveriam fazer o máximo possível para largar seus vícios e se curar enquanto estão no corpo humano, para não trazerem essa memória e esse desejo para cá. Eles poluem a mente.
Já ouvi a mesma afirmação vinda de outros espíritos e quero enfatizar a importância desse fato. Quando morremos, nossos desejos mais ardentes vão conosco. É muito mais fácil e eficaz liberar nossos vícios físicos, mentais e emocionais quando estamos na forma humana do que como espíritos, porque os vícios fazem parte da natureza humana.
Theresa estava satisfeita:
- Meu sonho se concretizou. Falei com meu irmão e me sinto melhor.
E com isso nos despedimos. Foi um belo início para o meu dia.
Essa comunicação demonstra muito bem por que eu amo a mediunidade. Ela é uma troca benéfica e poderosa entre o plano físico e o espiritual. Quando uma pessoa tem a chance de se comunicar com um ente querido, pode começar a ver os acontecimentos a partir de uma nova perspectiva. Theresa teria passado toda a vida se martirizando por uma culpa que não teve. No entanto, foi-lhe concedida a oportunidade de testemunhar uma visão maior da jornada de uma alma e das lições que o irmão escolheu vivenciar. Ao tomar conhecimento disso, ela teve a chance de se curar muito mais rapidamente com a sua nova percepção sobre o vício. Passou também a ver as pessoas que a cercavam como almas aprendendo suas lições.
Todos os tipos de culpa são capazes de nos devastar. A culpa nos faz sentir totalmente responsáveis pelo resultado de uma situação. Constato isso no meu trabalho todos os dias. Os parentes geralmente vivenciam sentimentos de culpa em relação à morte de seus entes queridos. "Eu deveria ter estado no hospital ao seu lado para chamar uma enfermeira", "Eu não deveria ter saído de casa", "Eu deveria ter atendido o telefone e salvado a vida dele".
A culpa é um sentimento inerente ao ser humano. Seu propósito é nos fazer acreditar que fizemos algo errado. Apesar de experimentarmos a culpa em vários momentos da vida, não sabemos lidar com ela. Frequentemente a sufocamos ou a negamos. É fácil perceber a irracionalidade da culpa naqueles que nos cercam, porque é muito mais simples perdoar os erros das outras pessoas do que os nossos próprios erros. Por alguma razão ilógica, nos impomos um padrão mais severo do que o que estabelecemos para os outros. Ao compreendermos que a culpa não muda nada, e nos prejudica, talvez possamos começar a nos desvencilhar dela.

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