4 • O TESOURO DE LEGRAND

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Chegando junto à árvore, Legrand virou-se e perguntou, tocando ao mesmo tempo os dois olhos de Júpiter:
- Foi por este ou por este olho que você passou o cordão com o escaravelho?
- Foi por este, patrão, eu já disse, o olho esquerdo, exatamente como o senhor mandou. - E novamente o criado colocou a mão sobre o olho direito.

Legrand retirou a estacada do primeiro lugar, onde caíra o escaravelho. Posicionou-a três polegadas a oeste de sua primeira posição. Mediu novamente do tronco da árvore até a estaca e depois seguiu em linha reta até uma distância de uns cinquenta pés. Dessa vez, chegou a um lugar bem distante de onde havíamos cavado inicialmente. Em torno desse novo local, outro círculo foi demarcado e mais uma vez nos pusemos a cavar.

Trabalhamos em silêncio por mais uma hora e meia. De repente, fomos interrompidos por latidos insistentes do cachorro, que logo pulou dentro do buraco e começou a cavar. Não se passou muito tempo até que um amontoado de ossos humanos ou o que restou de dois corpos começasse a aflorar da terra, misturado a muitos botões de metal e roupas esfarrapadas. Mais dois ou três golpes de picareta arrancaram uma enorme faca espanhola e, mais adiante, várias moedas de ouro e de prata.

Surpreendi-me ao entrever um certo abatimento e frustração no rosto suado de Legrand ao insistir em que continuássemos cavando. Mal fechou a boca, e tropecei em algo. Caí de joelhos, o rosto quase se chocando contra o chão. O bico de minha bota sr prendera num grosso anel de ferro enterrado na terra fresca.
- Tem algo aqui! - gritei, vítima de um repentino mas incontrolável entusiamo.

Cavamos, cavamos e cavamos até descobrirmos que o anel de ferro era um dos dois que estavam presos a uma pesada arca de madeira, que desenterramos com redobrada excitação.

Ficamos espantados com a sua conservação e dureza. Media uns três pés e meio de comprimento e dois e meio de largura. Contamos mais quatro argolas além das duas que vimos inicialmente, três para cada lado, uma para cada provável carregador. A arca era tão pesada que mal conseguíamos movê-lá. Felizmente a tampa estava presa apenas por dois ferrolhos, e foi possível puxá-los para o lado. Ao abri-la, um tesouro de valor incalculável surgiu diante de nossos olhos. Metais e pedras preciosas de todos os tipos e tamanhos cintilavam maravilhosamente sob a luz das lanternas.

Impossível definir os sentimentos que fervilhavam dentro de nós e nos mantinham paralisados diante de tanta riqueza. Faltavam-nos palavras. Júpiter era o mais absolutamente encantado e em dado momento deixou-se cair no buraco. Com os braços enterrados até a altura do cotovelo na resplandecente fortuna, ficou ali parado por um longo tempo. Finalmente, parecendo fora de si, exclamou:
- Tudo isso veio do escaravelho de ouro! O pobre inseto dourado que eu xingava, que detestava, que.. que...

Coube a mim trazê-lo e ao patrão de volta à realidade. Lembrei aos dois que o mais prudente seria retirarmos aquele tesouro dali antes que amanhecesse. Ambos concordaram comigo, mas ainda perdemos certo tempo discutindo como fazê-lo. Acabamos chegando à conclusão de que o melhor seria esvaziar a arca e esconder, no meio da densa vegetação, a maior parte de seu conteúdo, que deixaríamos sob a guarda do cachorro. Enquanto isso, voltaríamos para casa com a parte mais leve dentro da arca.

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O Escaravelho De Ouro - Edgar Allan PoeOnde histórias criam vida. Descubra agora