Nicolas Cruz

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Fiquei mais de dez minutos sentindo o peso da minha cabeça sob minha mão, ouvindo Sra.Sharon dar as boas vindas de primeiro dia de aula, o que de certo modo era inútil porque não havia nenhum aluno novo.
- Que fique claro as regras: não se pode usar nenhuma substância proibida ou ingerir nenhum liquido alcoólico dentro desta propriedade. Entendido? - Falou Sharon, e logo depois de nenhum aluno se manifestar, abriu um sorriso no rosto e atravessou a porta, saindo da sala.
Esse ainda era um assunto um pouco delicado pra mim. Álcool, cigarros e drogas.
Claro que, como qualquer adolescente de 17 anos os mesmos me rodeiam. Já usei e uso, mas muito pouco e apenas de vez em quando. Meus amigos ficam bebâdos e chapados cotidianamente. O que me assusta, porque meu pai era alcoólatra e morreu quando eu tinha apenas nove anos de idade. O assunto ainda é perturbador.
Antes que eu percebesse o sinal já havia tocado, e todos já arrumavam seus materiais e corriam feito animais em direção á saída. Meio escancarado, joguei a mochila nas costas e olhei para a porta. Greta encostava as costas na parede ao lado, me esperando com um sorriso bobo. Segui em sua direção e dei um beijo delicado em sua bochecha, o que a deixou um pouco corada.
- Vamos? - Perguntou ela, segurando minha mão.
Balancei a cabeça concordando e andamos em direção a saída.
Faz cinco anos que namoramos. A pedi em namoro quando tínhamos doze anos de idade. Na verdade foi bem bizarro, porque não tinha muita noção do que estava fazendo. Lembro que estávamos todos no parque e a chamei para uma canto.
Falei que gostava muito dela e queria que fosse minha namorada. Depois do "sim" dei a ela uma rosa meio murcha, mas mesmo assim ela ficou toda sorridente. Recebi um beijo na bochecha e então, Greta foi correndo contar a Malaine.
Mas eu realmente me apaixonei por ela quando a vi sentada sozinha no canteiro da sala, quando tínhamos nove anos.
Sempre fomos muito amigos, porque éramos vizinhos quando pequenos, e sempre brincávamos juntos. Mas logo que seus pais se separaram, ela foi morar com sua mãe e nunca mais nos vimos. Nos reencontramos no terceiro ano do infantil, então voltamos a se falar.
Todos nossos amigos sempre comentam que somos inseparáveis e temos a melhor relação amorosa de todas. Realmente, eu e Greta mantemos uma relação estável e muito saudável, brigamos muito pouco e por motivos idiotas. E bom, tenho um amor muito grande pela pequena menina de cabelos pretos e olhos claros.
- Vamos para a casa da Melaine, beleza? - Greta perguntou, sem olhar nos meus olhos.
- Claro. - Virou tradição sairmos depois da aula. Sempre vamos para casa de alguém ou para o parque aqui na esquina.
Encontramos Oliver, Melaine e Tate na frente da escola. Seguimos em direção a casa de Mel, que se encontrava perto da escola, então andávamos sem muita preocupação.
O sol estava começando a desaparecer, mas o céu ainda estava claro. Greta cruzou seu braço por dentro do meu, e encostou a cabeça em meu ombro magrelo.
Os três caminhavam a trás da gente, Tate fazendo piadas idiotas enquanto os outros riam sarcasticamente, sem nenhum esforço.
Chegando, descemos para o porão, onde é confortante e tranquilo.
Fizemos uma rodinha no chão e sentamos de pernas cruzadas. Melaine foi a ultima a chegar; balançando seus cachos claros, ela praticamente arremessou garrafas de vodca, licor e wisky no centro, e
sentou-se.
- Prontinho - disse ela, esfregando uma mão na outra e sorrindo maliciosamente.
Tate foi o primeiro a pegar uma garrafa de licor, foi dando goles longos e leves, e derrepente a garrafa já estava vazia. Todos olhavam para ele, provavelmente se perguntando o mesmo que eu: Por que Tate fazia isso? Por que era tão idiota?
Eu sei que não parece grande coisa, mas a situação acabou virando um pouco constrangedora, para todos.
Fomos passando, garrafa por garrafa. Logo o som se encontrava ligado, e nós, totalmente perdidos, entre palavras e cores.
Antes mesmo que percebecemos, todas as garrafas já estavam vazias, e quase todos estavam bêbados. Menos eu, que não havia ingerido mais de dois goles de vodca e estava 100% sóbrio.
Deite no sofá empueirado e pude avaliar a sala: Melaine, que estava muito bebâda, dançava/ se esfregava em Oliver que parecia apenas querer preparar um drinque e fumar um cigarro, ele não estava bebâdo.
Do outro lado da sala, Tate, que estava tremendente bebâdo, conversava com uma planta enquanto equilibrava o cigarro sobre os dedos. E, logo a minha frente, Greta. Arrastava-se delicadamente sobre meu corpo, em direção ao meu rosto. Era difícil não se apaixonar por aquele momento. Ela segurou meu pescoço, com dificuldade porque afinal estava deitado, e me beijou. E nos beijamos até meus lábios adormecerem e eu enjoar daquele gosto de licor.
- Te amo. - ela sussurrou. Greta não estava sóbria. Nem bebâda.
- Te amo mais. - sussurrei de volta, mas ela já estava dormindo.
Tentei pegar no sono, mas não estava me sentindo confortável com Greta em cima de mim. Com seu corpo pesando sobre o meu.
Foi quando Oliver anunciou:
- Ou, vai ter uma festa aqui no clube da esquina. Fecho? - Ele disse, com o celular na mão, como se tivesse acabado de receber a noticia.
- Fecho - Disse Melaine e Tate, no mesmo instante.
- Vamos? - Me perguntou Greta, que derrepente havia acordado. Ela olhava com esforço para cima, e desta vez, no fundo dos meus olhos.
- Acho que não to afim - fiz uma pausa - tenho que voltar pra casa. - Interpretei uma cara tristonha, mas encarei a verdade. Minha mãe realmente pediu pra que voltasse mais cedo hoje, mas também somei o fato de que estava cansado e não estava muito no "pique" de balada. - Mas você vai - falei a ela, tocando em seu nariz, simpaticamente.
- Tem certeza? - Ela torceu o rosto, como se fosse uma pergunta decisiva.
- Claro.
- Te amo - ela engoliu um seco - Por mim fecho! - Deu um berro, como se os outros estivessem milhares de metros distante dela.
- Nico? - perguntou Oli, sem se importar muito.
- Não posso.
- Sentiremos sua falta - Disse Tate, como se fosse engraçado, mas abri um sorriso por me soar simpático. 
Com todos já decididos, subimos em direção a porta. Tate e Melaine cambaleando um em cima do outro. Assim que pisamos na calçada, todos os olhares pareceram confusos e meio sem rumo. Mas logo partiram para a direita e eu, para esquerda, direto para o ponto de ônibus.
Greta se aproximou e afirmou que me encontraria no meu apartamento assim que a festa acabasse, e eu concordei. Me despedi do resto e segui para o ponto.
Era oito horas da noite e a rua já estava tranquila, com poucos carros e pouca movimentação de pessoas.
Quando percebi já estava no meu quarto, me arrumando para dormir, enquanto minha mãe gritava que eu precisava fazer compras no mercado, pois nossa geladeira estava deserta.
Me joguei sobre a cama e dei graças a deus por aquele momento. A ideia de finalmente poder descansar era pacifica e me tranquilizava. Mergulhei em um sono profundo, que pareceu ter durado segundos quando acordei.
Alguém tinha acendido as luzes do meu quarto, devia ser minha mãe.
Mas era Greta. Ela soltava murmurinhos que não compreendia.
Eu não sai da cama, nem mesmo da posição em que estava, apenas fiquei observando ela entrar e fechar a porta, não sendo nada delicada.
Ela se jogou contra mim, tentando me beijar, fazendo gestos engraçados e descancarados.
- Você está bebâda, Gre - eu disse, seguido de uma gargalhada.
- Não...- ela continuava tentando me beijar e ignorando o fato que estava bebâda. Mas virei o rosto. Não queria beija-la, não daquele jeito.
Ela exalou o hálito forte e quente no meu ombro e disse, olhando para o vazio:
- Ah, chato - Levantou e saiu de cima de mim, pegou sua bolsa que se encontravam em cima da mesa e parou a frente da porta do quarto - vou pra casa.
Levantei assim que ela disse.
- Não, você não vai dirigir assim. - Dei dois passos em sua direção, e estabeleci á sua frente. Criando uma situação de conflito.
- Vou - ela fez uma pausa e me encarou - eu estou ótima, ué.
- Não, não está - segurei sua mão tentando impedir que abrisse a porta - eu levo você, mas não pode dirigir desse jeito - ela deu de ombros. Cortava minha fala, murmurando e negando. Fazia uma tremenda força com o braço, tentando impedir que eu pegasse as chaves, que estavam em sua mão.
- Eu tenho que ir pra casa, me deixa - ela também puxava a chave em sua direção, fazendo força. E quando percebi estávamos competindo pelas chaves do carro. Eu só queria que ela não dirigisse bebâda, mas já estava ficando bravo.
- Eu sei, então eu dirijo - continuávamos disputando - mas não vá ser idiota e fazer uma burrice dessas! - percebi que havia levantado o tom de voz.
Paramos a briga com as chaves do carro em minha mão e Greta me encarando indiguinada.
- Você - ela arregalou o olho e apontou o dedo indicador - não fale desse jeito comigo.
- Só não seja idiota e dirija a essa hora da noite chapada!
- Para de me chamar de idiota! - ela levantou o tom de voz, e me empurrou com raiva. Eu voei para traz e bati com força a cabeça na quina da mesa de madeira, que estava logo alí. Caí no chão e coloquei a mão na ferida. Onde doía, ardia e latejava.
- Ugh! - Resmunguei, ainda com a mão sobre a ferida. Doía bastante e também sangrava muito. - Ai.
- Meu deus - ela colocou a mão cobrindo a boca, chocada. Ela encostou as costas na parede a frente e deslizou em direção ao chão, até ficar sentada. Ela olhava pra mim e chorava ao mesmo tempo, soluçando:
- Desculpa... - Pedir desculpas era inútil. Eu virei o rosto, impedindo que nossos olhares se cruzassem.
Ficamos desse jeito por alguns minutos: os dois, ás quatro da manhã, sentados de frente para o outro, na porta do meu quarto. Evitando qualquer contato visual.
Ela chorando e eu resmungando, ferido.
Não vou negar, eu estava bravo, e com certeza não estava para perdoar.
Depois de irmos ao médico, a deixei em sua casa. E apenas pelos olhares de despedida, pude dizer que realmente estávamos brigados.
E desta vez não era por um motivo idiota.

Á flor da peleOnde histórias criam vida. Descubra agora