Primeiro capítulo

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Aquela não era a primeira vez que Luke via varias pessoas espancarem alguém, também sabia que aquela não seria a ultima vez que veria aquilo acontecer. E como sempre, ele apenas desviou do grupo de pessoas e continuou andando, sem parar ou ao menos se importar com o que quer que estivesse acontecendo de fato – pois sabia do que aquilo se tratava. Tinha uma prova muito importante naquela manhã, e não iria se atrasar por causa daquilo.

No entanto, ele não era tão insensível quanto parecia, sentira um aperto no coração ao ouvir os berros desesperados da pessoa que estava sendo espancada, era à voz de uma garota. Vários homens, a maioria de sua idade, estavam batendo em uma garota – esse fato fez seu estomago embrulhar. Mas nem isso o fez dar meia volta e tira-la de lá, apenas continuou seu trajeto em direção a sua escola – essa que não ficava muito longe de onde estava.

Sabia o motivo de estarem a espancando, era um tanto obvio aos seus olhos. Ela provavelmente era uma anomalia que se passava por uma humana qualquer, e esses que estavam batendo em si deveriam ser os amigos que enganou – podia perceber isso pelos pedidos de desculpas que ela soltava entre os berros de dor. Ela só queria viver a vida como uma humana, mas algo deve ter dado muito errado para isso ter acontecido consigo.

Mas ele não se importava de fato, não conhecia a garota e não poderia fazer nada ajuda-la, então com um leve movimento de cabeça, fingiu que nada havia acontecido. Colocou um sorriso em seu rosto, passara as mãos pelo próprio cabelo – que naquela manhã fizera questão de deixa-lo baixo, fazendo que o mesmo ficasse em seu rosto – e arrumou sua postura, erguendo os ombros e deixando sua coluna ereta, e entrou na escola.

Ela não era pequena, já que era a única escola publica de uma região onde grande parte dos moradores eram da classe media para baixo, ocupava um quarteirão inteiro e possuía vários andares. Era imponente ao ponto de amedrontar até mesmo os alunos mais velhos, talvez fosse pelo fato de que antigamente se tratava de uma mansão onde anomalias eram mantidas presas até serem mortas, ou apenas pelo fato de que a escola tivesse uma aparência antiga e mal cuidada.

Mesmo sendo uma instituição reservada a humanos, o lugar estava caindo aos pedaços. A faixada de tijolos vermelhos estava repleta de buracos e rachaduras, os jardins da frente estavam mal cuidados e todas as plantas estavam mortas, as janelas eram sujas e os corredores estavam cheios de marcas de unhas – o que lembrava a todos qual era o proposito inicial do lugar.

Luke não se importa com tudo aquilo, já havia se acostumado com aquele lugar – já que estudava ali desde quando era pequeno – que mais parecia ter sido tirado de um filme de terror antigo do que uma escola de verdade. Aprendera a ignorar tudo que havia acontecido ali, igual ignorava tudo de errado que acontecia a sua volta, era uma questão de sobrevivência e não de interesse. Se ele se importasse com as anomalias, seria tratado igual a uma, e o que não era nem um pouco bom para si, e se ele se importasse com o passado de sua escola, não teria lugar onde estudar – por que já aconteceram tantas barbaridades naquele lugar que dificilmente ele se concentraria nas aulas se pensasse muito a respeito.

- Pensava que você não viria hoje. – Exclamou Calum, seu melhor amigo, indo a seu encontro – Já estava pensando que não teria de quem colar pra prova de hoje. – Adicionou em um tom baixo, para que apenas o loiro escutasse

- Diferente de você, eu me importo com as provas. – Respondeu revirando os olhos – E ainda nem deu o horário da primeira aula para você pensar em uma coisa dessas.

- Vou fingir que não ouvi esse comentário venenoso, Hemmings. – Comentou sorrindo e indo para a sua carteira – Mas você sempre chega antes do horário, por isso estranhei.

O loiro concordou sorrindo, indo se sentar na frente do amigo, como o de costume. A prova seria na primeira aula, e a matéria abordada por ela era anomalias – igual à garota que estava sendo espancada – e prevenções contra o discernimento da mutação genética que gerava as aberrações. Ninguém gostava daquela matéria, muito menos da professora que a dava – era uma velha enrugada, com cabelos brancos e olhos pretos que nem carvão, era um tanto quanto maldosa e extremamente preconceituosa perante as anomalias, o que era irônico já que a aula da mulher se resumia a isso.

Anomalias / LashtonOnde histórias criam vida. Descubra agora