| 1 |

200 17 15
                                    

   Gerry virou-se e olhou em direção à janela de seu quarto. As cortinas estavam menores, porque sua mãe decidiu lava-las na máquina, em vez de leva-las à lavanderia, como normalmente fazia. O forte feixe de luz amarela do poste brilhava de maneira irritante através do espaço que agora existia entre as duas cortinas, iluminando o canto oposto da cama de Gerry. Exatamente o canto onde estava o alienígena inflável, que vigiava o quarto com seus olhos malignos.

  Gerry tinha adorado o alienígena na loja. Achou que seria ótimo para assustar sua irmã caçula. Mas agora aquilo também lhe dava arrepios, principalmente naquela noite. Parecia que a qualquer momento ele levantaria e explodiria Gerry com um raio laser lançado em seus olhos.

  Gerry puxou as cobertas para cobrir a cabeça, virou-se e tentou pensar em outras coisas. Era inútil, sentia o olhar vigilante do alienígena atravessar a coberta e penetrar em suas costas. Ele tirou a coberta lentamente, esperando ver o alienígena bem perto dele, pronto para atacar. Olhou para o canto. Nada! Ele tinha sumido! O coração de Gerry começou a disparar.

  Levantou a cabeça devagar e olhou ao redor, tentando encontrar o horripilante saco de ar quente, que agora ameaçava sua vida. Gerry colocou os pés no chão, olhando as cortinas, que estavam balançando para frente e para trás.

  —"Então aí está você!" — pensou.

  Ele começou a planejar como levaria a melhor sobre seu inimigo extraterrestre.
Gerry levantou-se e estendeu a mão para puxar um dardo do alvo pendurado em cima da cama.

   —"Isso vai dar um jeito em você"— Gerry pensou, olhando para a janela novamente.

   Gerry não era muito bom com dardos. Ele precisava se aproximar, mas não tinha muito tempo. Tinha certeza de que se ele começasse a andar em direção a janela, o alienígena o atingiria.

Gerry respirou fundo, concentrando-se para o desafio.
Ele pulou para frente, levantou o braço e caiu, com um baque, em cima de algo que estava no chão, com as pernas enroscadas em um obstáculo desconhecido.

Gerry ficou no chão. Virou a cabeça e deu de cara com o olhar penetrante e familiar de seu inimigo. A coisa inútil tinha apenas escorregado inofensivamente no chão.

— Mas que idiota! — sussurrou, enquanto se levantava. — Amanhã, você vai para o lixo. —pegou a criatura cinza e colocou de volta no canto do quarto.

Gerry foi até a janela e olhou a lâmpada que iluminava a rua inteira com um estranho brilho amarelado. O carro do pai estava na frente da casa. Gerry olhou para o outro lado da rua. A casa do outro lado estava vazia desde que sua família tinha se mudado.

Estava péssima, praticamente caindo aos pedaços. Eles já tinham ouvido historias de todo tipo a respeito do lugar. Ele olhou com atenção. Alguma coisa parecia estar se mexendo. Ele abriu mais as cortinas e colocou o rosto na janela.

Definitivamente algo se mexia.
Aos poucos, Gerry começou a enxergar melhor. Na varanda da casa abandonada, ele conseguia ver claramente um senhor balançando para frente e para trás numa cadeira de balanço. Ele olhou bem, tentando descobrir quem seria aquele senhor. De repente, viu o velho se virar e olhar diretamente para a janela dele. Um sorriso estranho surgiu no rosto daquele senhor de idade, um sorriso que fez Gerry paralisar. O velho olhava fixamente, e seus olhos estreitos penetrava a penumbra.

Ele não conseguia desviar o olhar daquela figura que o encarava. De repente o velho ergueu a mão e começou a acenar como se chama-se Gerry para ir ao encontro dele. O braço dele se esticar, tornando-se cada vez maior e aproximando-se cada vez mais. Até que ele teve a impressão de que a mão enrugada estava a apenas centímetros da janela do seu quarto.

Gerry sentiu que cambaleava para trás e caia, caia...Seus lábios mal conseguiram pronunciar:
"Pai...pai... pai!"

—Gerry acorde! Está tudo bem filho. Foi só um pesadelo.
Gerry abriu os olhos e viu o pai inclinado sobre ele, segurando seus ombros com força.
—Está tudo bem.—disse o Sr.Tooms baixinho, tentando acalmar o filho que tremia.—Volte a dormir, você vai ficar bem.—diz saindo do quarto.

Gerry esperou um momento e saiu da cama, olhou de relance para o amigo extraterrestre cinza e foi até a janela do quarto. Olhou para casa velha do outro lado da rua. A varanda estava vazia. Nenhuma cadeira, nenhum velho. Ele balançou a cabeça.

—"Mas que noite!" — pensou.

— De manhã, você vai definitivamente para o lixo.— ele sussurrou enquanto se deitava na cama.

Quando Gerry fechou os olhos, rindo de sua estupidez, ele não percebeu a sombra que balançava na parede de seu quarto... a sombra inconfundível de uma cadeira de balanço...

Sussuros Da Meia-Noite.Onde histórias criam vida. Descubra agora