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  Nas semanas seguintes, Gerry viu o velho mais quatro vezes. Toda vez, o velho levantava o jornal e mostrava uma manchete diferente a Gerry, e todas as vezes, poucos dias depois, se tornava verdade.

  Primeiro, aconteceu um incêndio na fazenda dos Beacons. Depois, uma senhora da rua de baixo caiu misteriosamente da escada e morreu.
Em seguida, houve um estranho relato de barulhos fantasmagóricos no salão da igreja. E o último incidente foi o de um homem que tinha sido confrontado por alguns "seres" no caminho para casa, tarde da noite. Ele estava muito assustado, mas ninguém acreditou nele.
  Todos esses fatos tinham sido machetes no jornal velho da varanda, alguns dias antes de acontecerem e de serem publicados no jornal local, exatamente com as mesmas palavras do jornal do velho.

  Gerry não podia mais guardar essas informações para si. Mas, sem provas, ninguém acreditaria na história dele. Ele achou melhor esperar até ver outra manchete do velho. Então, ele contaria ao editor do jornal, e, quando a manchete se tomasse verdade, todos entenderiam os estranhos poderes do velho da casa do outro lado da rua.

  Gerry não teve que esperar muito pela próxima notícia. Logo na noite seguinte, ao esperar pela janela do quarto, ele viu a imagem do velho aparecer. O velho olhou para cima, diretamente para Gerry. Era como se ele pudesse ler a mente de garoto. Ele não sorria desta vez. Ele começou a sacudir a cabeça.
Gerry se perguntou porque o velho estava agindo de modo diferente.

  O velho levantou o jornal de novo, revelando a manchete. Mais uma vez, as palavras eram claras "Relógio da cidade atingido por raio à meio de noite domingo".

  A mensagem era óbvia. No dia seguinte, depois da escola, ele foi direto para o escritório do jornal local, Notícias da Semana. O editor concordou em vê-lo. Gerry não contou ao editor, nada a respeito do velho, mas explicou que estava convencido de que tinha um jeito de prever o futuro. O editor ouviu o garoto e educadamente sugeriu que ele contas de aos seus país sobre esse "dom" único. Gerry ainda insistiu e , no final, o editor concordou em colocar um fotógrafo de plantão no domingo à noite para registrar a queda do raio, caso viesse a acontecer. Ae então, pediu para que Gerry fosse para casa e voltasse a vê-lo na segunda-feira. Até lá, eles saberiam se alguma havia acontecido.

  Na noite de domingo, Gerry não conseguia dormir. Silenciosamente, ele se trocou, desceu a escada e saiu pela porta da frente. Tinha que ver aquilo pessoalmente. Caminhou depressa até a praça da cidade. Ele viu o fotógrafo montando seu equipamento na praça. Era uma noite fria e ele podia ouvir o fotógrafo resmungar, obviamente descontente por ter sido escalado para o que ele achava que seria uma roubada. Gerry caminhou na direção dele.

— Olá — Cochichou.

— Minha nossa! Que susto — o fotógrafo balbuciou, obviamente assustado com a abordagem de Gerry. — O que está fazendo aqui? O que quer?

— Estou aqui para ver o raio — Respondeu sorrindo.

— Como você sabe sobre o...— o fotógrafo hesitou, mas depois continuou. — aahh! você deve ser o garoto que me colocou nessa furada. Veio ver pessoalmente como é idiota. Veja... Não tem nenhuma nuvem no céu! Não vai cair nenhum raio de lá! — O fotógrafo disse acenando com a cabeça para o céu.

  Gerry olhou para o céu, completamente limpo. Pela primeira vez, começou a se preocupar a respeito da sua previsão.
O velho não o deixaria na mao.
Olhou para o relógio. Faltava dez minutos.

  Os minutos passaram lentamente, e então Gerry observou a mão pronta para clicar.
Meia-Noite. Nada. Nem raio nem trovão, sem indícios. Gerry e o fotógrafo se entreolharam, e o fotógrafo disse:

— Vá para casa agora. Tire essas ideias da cabeça, antes que você se torne motivo de escárnio.

O fotógrafo guardou o equipamento e foi embora. Gerry fez o mesmo. Ainda confuso.
Era a primeira vez que a manchete do velho estava errada.
Por que? Porque ele falhou? Ninguém acreditaria nele agora.

  Quando chegou à rua onde morava, ele olhou para a velha casa abandonada. A varanda estava vazia.
Ele então lembrou do velho sacudindo a cabeça. Será que ele estava avisando que a manchete não era verdade? Então porque ele mostraria assim mesmo? E então ele mata a charada. Gerry nunca tentou contar a alguém sobre as outras manchetes.
E então o menino se arrastou de volta para casa e caiu na cama. O que faria agora? Ele virou e revirou na cama, e logo lhe surgiu uma ideia que poderia dar certo.
Da próxima vez que o velho lhe mostrasse uma manchete, ele não diria nada a ninguém. Na seguinte, contaria a Stevie. Sr a primeira acontecesse e a segunda não, ele saberia que estava preso sozinho nesse pesadelo.

  Na noite seguinte, o velho estava lá na cadeira de balanço, na varanda, segurando um jornal.
"Trem local descarrila. Estranho fluido verde encontrado nos trilhos"
Gerry ficou preocupado. Muitas pessoas poderiam ficar feridas. Mas o que ele podia fazer?
Se ele contasse a alguém, ninguém, ninguém acreditaria nele, e o fato provavelmente não aconteceria.
Passou os dias seguintes nervoso, assistindos os noticiários. Então, aconteceu. O programa de TV que ele e a irmã estavam vendo foi interrompido pelo Plantão de Notícias.
O apresentador anunciou solenemente:
— Interrompemos nossa programação para informar sobre um grave acidente de trem nos arredores da vila Carswell. Várias pessoas ficaram gravemente feridas. A causa do acidente é desconhecida até o momento. Mais noticias em breve.

  Na manhã seguinte, Gerry pegou o jornal local assim que foi entregue.
"Trem local descarrila. Estranho fluido verde encontrado nos trilhos". Lá estava. Exatamente como tava escrito no jornal do velho. A teoria dele parecia certa até então.

  Alguns dias depois, o velho aparece de novo. Desta vez, a manchete dizia:
"Professor gravemente queimado em incêndio misterioso". Embaixo da manchete, uma foto de Andrews, o professor de Educação Física da escola.

  Assim que viu Stevie, Gerry contou ao amigo que acreditava que podia prever o futuro. Mais uma vez, não mencionou nada sobre o velho. Ele sabia que corria o risco de parecer um completa idiota para seu melhor amigo, mas não tinha escolha. Se ele estivesse certo, nada aconteceria ao professor Andrews, porque Gerry teria contado a Stevie. Ele parecua maluco, mas pelo menos o professor estaria seguro e sua teoria estaria aprovada.
Gerry disse para Stevie que o professor ficaria gravemente ferido num incêndio, e contou que estava convencido de que isso aconteceria nos próximos dias. Stevie não queria quis mágoa-lo, por isso não contou a ninguém.

  Os dias se passavam e o professor ia ao trabalho normalmente dia após dia. Depois de uma semana, Gerry se convenceu. As manchetes do velho só se tornavam verdadese continuassem em segredo. Se alguém mais soubesse, elas simplesmente não aconteciam. Stevie não disse mais nada ao melhor amigo. Era um problema dele.
Naquela noite, ele foi até a janela. O velho estava sentado na varanda, balançando. Não havia jornal. Ele apenas olhou para cima e sorriu. E então, sumiu.

— E agora? — Gerry perguntou a si mesmo. Ele não precisaria esperar muito para descobrir.

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⏰ Última atualização: Dec 26, 2017 ⏰

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