Alex

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Há novecentos anos caminhava sobre a face da Terra. Assistira a inúmeras mudanças, a guerras, a nascimentos e mortes. Alex tinha visto de tudo um pouco, já não havia nada que o surpreendesse. Nada. Até este dia, em que à procura de Gabriel, encontrara Lara. Ao olhar para ela, para os olhos cor de violeta, a boca perfeita em forma de coração, o cabelo caindo-lhe em ondas pelos ombros, o corpo com curvas suaves escondidas atrás da roupa escura e justa, Alex sente algo a agitar-se dentro de si, um turbilhão de emoções contidas e esquecidas até então, levando-o por momentos - apenas por breves segundos - a esquecer o que o levara até ali.

Disfarçadamente, inspira o aroma a coco e a mel que se desprende da pele clara de Lara e o efeito é devastador. As memórias enevoadas daquele dia em que a transformou surgem umas atrás das outras, como se num filme. Lembra-se da jovem assustada, do sabor doce do seu sangue e da urgência em mordê-la. Naquela noite tinha perdido a cabeça. Por causa de Lara e do seu inexplicável apelo, quase se expusera aos humanos. Felizmente, conseguira fugir a tempo depois de a saborear. Essa lembrança acompanhara-o durante muito tempo, levando-o a procurá-la durante dois séculos. Contudo, Lara parecia ter-se esfumado, não a encontrara em lado algum. E agora... Agora ela estava à sua frente, linda como nunca, as suas feições delicadas aperfeiçoadas pelo lápis da imortalidade. Com Gabriel. E ao ver as suas mãos entrelaçadas e o ar de preocupação de Gabriel, Alex percebe que eles são próximos. Demasiado próximos. Sorrindo interiormente, Alex  sabe que isso pode resolver-se facilmente. Apesar da força extraordinária que Gabriel já tem, embora seja um vampiro ainda jovem, ele não representa qualquer ameaça para Alex, que vivia há novecentos e dezassete anos, as suas células regenerando-se e tornando-se mais e mais poderosas a cada década que passava por ele.

- O que queres de nós? - pergunta Lara, desafiando-o.

Um sorriso espalha-se pela sua cara, fazendo aparecer duas covinhas, que seriam adoráveis noutra face qualquer, mas não na sua, que era a representação de uma beleza cruel.

- Primeiro, quero falar com este senhor - responde ele, apontando para Gabriel, sem sequer gastar um segundo a olhar para ele - Depois, vou levar-te comigo.



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