Apologia à inutilidade do amor

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Só aceito o tipo de amor inútil. Aquele amor que não serve para nada além de si mesmo. Sem motivos nem motivação. Que não precise de justificativa ou explicação.

Quero um amor que simplesmente é. Que nunca foi, nem será. Que não vem de uma causa e não levará a nenhuma consequência. Que não veio por uma necessidade, pois necessidades são supridas por objetos que logo descartamos. Não, o amor pela necessidade de qualquer coisa que seja está condenado a ser atirado à sarjeta, como um guardanapo sujo com excessos de comida não aproveitados devido a satisfação das necessidades da gula.

É crime hediondo fazer do amor moeda de troca, jogo de interesses. Um sacrilégio transformar o amor em uma ponte para propósitos tão inferiores a ele próprio, como a ditadora Felicidade ou o fascista Prazer. Ao contrário, seja o amor justamente a ausência de tal ponte, o próprio abismo, largo, profundo, vazio e transparente, sem nenhum objetivo ou finalidade.

Sim, quero o amor inútil. Que chega sem aviso, incompreensível, que não satisfaz a nada e a nada alimenta a não ser ao tormento da insatisfação. Apenas liberto de qualquer propósito e valor incorporado é que o amor encontrará em si mesmo um tipo novo de preciosidade. Talvez seja isso que Aristóteles chamaria de Felicidade. 

Eu chamo de Eternidade.

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