Era véspera de Natal e as ruas estavam decoradas com luzes de todas as cores, nas casas ouviam-se os risos das crianças ansiosas para abrir seus presentes, familiares em volta da mesa ceiando e nas esquinas ouviam-se vozes cantando músicas natalinas.
Para onde se olhava a alegria estava presente. O amor fraterno estava no ar. Era nessa época do ano que as pessoas distribuíam seu amor, dando comida aos famintos e roupa aos necessitados. Vizinhos que passaram o ano brigando, esqueciam suas diferenças e comiam junto à ceia.
Todos comemoravam o nascimento do menino Jesus, o salvador do mundo!
Porém, numa rua de grandes mansões, na casa com um carvalho na frente, não se via as decorações, nem a ceia posta sobre a mesa, muito menos uma família reunida. Dentro do quarto escuro com um copo na mão, estava Jonatas. Ele deixou de acreditar no natal, no amor, ma família e em Deus há muito tempo.
Para ele esse ser magnânimo que foi capaz de dar seu filho para morrer por amor pela humanidade, não foi capaz de salva a família de Jonatas. Como alguém tão poderoso seria capaz de tirar o seu bem mais precioso? Perguntava para si.
Sem fé, esperança e consumido pela dor, queria dar fim em tudo aquilo. A saudade o consumia diariamente e durante dois anos seu companheiro fora o álcool. Não trabalhava e transformara sua casa em um verdadeiro mausoléu.
A bebida era seu anestésico, ela suprimia todas as dores e quando o efeito passava ele bebia novamente. Ela entorpecia seus sentidos, fazendo com que as malditas lembranças o deixassem em paz. Memórias de um tempo que ele queria de volta, como o abraço de sua doce menina, as brincadeiras de seu filho e os beijos de sua esposa.
Fechando os olhos ele ainda podia ouvir os gritos e risadas dos seus filhos pela casa, Alexia preparando a ceia e o cheiro do peru que só ela sabia preparar. Naquela noite seu estado era tão deplorável que nem a bebida estava conseguindo aplacar a dor. Ele não tinha mais salvação, era um homem vazio, incompleto. Seu coração fora arrancado do seu peito.
Não aguentando mais aquilo, ele se levanta da cama cambaleando, pega suas chaves e mais uma de suas garrafas. No interior de seu carro, dirige sem rumo. Ele atravessou a parte rica da cidade, chegando à velha ponte que ficava sobre o rio Negro.
A velha ponte fora construída em 1878, ela era a divisa entre a parte rica e a parte pobre. Foi construída no intuito de tentar unir a cidade e levar melhorias para a parte menos favorecida. Mas o que aconteceu foi aumentar as diferenças, pois para os abastados a parte velha da cidade era uma sujeira que deveria ser lançada para debaixo do tapete.
Jonatas não se orgulhava que suas origens pertencessem à velha cidade. Por ele, nunca pisaria naquela parte imunda e suburbana. Lutara para sair daquele local e finalmente ele conseguiu atravessar aquela ponte. Finalmente, fora para a parte desenvolvida, rica, planejada. Tinha conseguido subir na vida, construiu uma carreira brilhante na política, comprou o carro do ano, sua conta bancária aumentava a cada dia e tinha a casa dos seus sonhos. Mas no decorrer da caminhada esquecera-se de algo fundamental: Sua família.
Agora era tarde demais! E como ironia do destino, estava ele no meio da ponte. Entre dois mundos, duas realidades. E ele não se encaixava em nenhuma das partes.
Desolado e tomado por esses pensamentos, para o carro no meio da pista, não se preocupando em desligar os faróis. Deixa as chaves na ignição e pega seu companheiro de longas datas. Desliga o celular, ignorando as doze ligações perdidas, não querendo falar com ninguém.
E assim, Caminha em direção ao parapeito da ponte, subindo, mal conseguindo manter seu equilíbrio. O vento frio chicoteava seu rosto, congelando seus ossos. Olhando sob seus pés, ele pode ver as águas agitadas e negras. E logo essa mesma escuridão iria levar toda sua dor de uma vez por toda.
Tomou o resto da garrafa e a lançou em direção ao leito. Ficou observando a trajetória do objeto até ele atingir a superfície e em seguida começar a afundar e ser carregado pela correnteza. Pegando a foto que sempre carregava consigo no bolso do palitó, ele observa pela última vez o rosto da sua família.
Nela, Samantha encontrava-se sorridente e sem os dois dentinhos da frente, Taylor estava vestido com a camisa de seu time favorito e sua esposa segurava a câmera para tirar a foto. Ela tirara quando ele estava viajando para fazer mais uma de suas campanhas eleitorais e lhe enviara via celular, era a comemoração do aniversário de sete anos de Samantha. Agora, ele daria tudo para não ter perdido esses momentos.
Dando um suspiro profundo, ele aperta a foto em sua mão e se prepara para o salto. Quando de repente, é surpreendido por um barulho forte. Olhando sobre os ombros ele observa algo bater no seu carro e rolar sobre o asfalto.
-Mas que diabo é isso? -falou irritado. -A gente não pode nem se matar em paz nessa merda?
Postagem segunda dia 22
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A Garota da Luva azul
Short StoryNatal é uma época de alegria, famílias reunidas e ruas decoradas. Mas não para um certo homem chamado Jonatas. Para ele não existia mais alegria, sua vida não tinha sentido, até que um dia ele encontrou uma garora usando uma luva azul e sua vida não...