Já falei do problemas com as vírgulas com que tenho me deparado em textos de escritores independentes. Em segundo lugar (será segundo lugar? A disputa está difícil), os problemas de regência pipocam onde quer que eu olhe – principalmente os de regência verbal.
A regência é uma relação de dependência entre vocábulos de acordo com a sua função sintática (verbos/nomes e os termos que lhes completam o sentido) e deve ser respeitada a fim de que nossa mensagem seja clara e precisa. No caso, os verbos e os nomes são os termos regentes ou subordinantes, ao passo que os complementos são termos regidos ou subordinados.
O foco aqui será na regência verbal. A transitividade do verbo determina se a apresentação de seus complementos se dá com ou sem preposição. Objetos indiretos devem ser introduzidos por preposição, mas elas têm sido ignoradas sem dó nem piedade. (Lembrando que o mesmo verbo pode ter significados diferentes quando é transitivo direto ou indireto – ou seja, a supressão da preposição muda o próprio sentido de verbos como "assistir" ou "agradar"). Vejo isso em matérias de sites relativamente conceituados, em BLOGS DE JORNALISTAS, em legendas de filmes, em ANÚNCIOS -- em postagens aqui no facebook, então, nem se fala. As preposições estão sumindo, as pessoas não as usam, nem percebem que elas deveriam estar lá!
Aqui vão alguns exemplos -- não necessariamente os melhores, porque os peguei numa zapeada rápida pelo face apenas para ilustrar este tópico (todos "sic", daí as vírgulas estranhas -- outro erro também comum, como já mencionei):
"Não serão só as seis pessoas que você vai se conectar na brincadeira, mas os amigos dessas seis pessoas também." (Em vez de "Não serão só as seis pessoas A que você vai se conectar, mas os amigos dessas seis pessoas também.")
"(...) tenho na minha vida, vários elementos da cultura negra e apesar da minha pele ser mais clara, é a cultura que me identifico, por fazer parte da minha herança." (Em vez de "é a cultura COM que me identifico.)
"Vi um vídeo onde, um cara na hora dos votos do casamento, faz os votos para a criança - enteada - e não para a mulher que irá se casar." (Em vez de "e não para a mulher COM que irá se casar." O padre pode até casar os dois, sem preposição, mas o noivo sem dúvida se casará COM a noiva, né?)
"O segundo livro que vou falar é FODÁSTICOOOOOO" (Em vez de "o segundo livro DE que vou falar.")
Como escritores, temos que ficar atentos a isso. Um livro com esse tipo de erro dá a péssima impressão de falta de capricho e desleixo por parte do autor. Claro que algumas coisas escapam, principalmente quando somos nós que temos que fazer tudo, como no caso dos independentes (eu inclusa), mas, ainda assim, uma coisa é uma preposiçãozinha faltando, outra é o autor não as usar nunca.
Um outro problema de regência verbal recorrente é no emprego dos pronomes átonos a/o, as/os, lhe, lhes. "A/o" é objeto direto; "lhe" é objeto indireto. Não existe "eu lhe amo!" Existe "eu te amo", se você trata seu amado por "tu", ou "eu o amo", se você o trata por "você" (ou por Vossa Excelência, Vossa Reverendíssima, Vossa Alteza ou sei lá como você chama seu/sua namorado/a). Da mesma forma, "eu te/o conheço", não "eu lhe conheço", "eu te/o vi", não "eu lhe vi". (Menos ainda "eu vi tu", né, faz favor!) No entanto, "eu lhe disse isso" (quem diz, diz algo A alguém, verbo bitransitivo, "lhe" como objeto indireto).
É isso. Bons escritos!
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Dicas para Escritores
Phi Hư CấuVocê sabe o que é malapropismo? Tem dúvidas ao usar a vírgula? Comete muitos erros de regência? Se confunde ao usar pronomes relativos? Gostaria de diretrizes para elaborar uma sinopse? Este conteúdo poderá lhe ser útil! :)