Capítulo 3

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" If you can't get someone out of your mind, maybe they are supposed to be there"

Quando entrei na sala o professor olhou para mim.
Aqueles olhos azuis entraram pelos meus olhos dentro e deram-me um arrepio pela espinha abaixo.

Pareciam frios e vazios, mas ao
mesmo tempo doces e simpáticos.
Não os consigo descrever.

Continuei sempre a andar até ao meu lugar.
Sentava-me na mesa ao lado direito da dele.
Ele passou a aula inteira a olhar para mim.
Ignorei-o, mas não dava para deixar de pensar nele.
Era diferente dos outros, tinha um certo charme e os olhos eram completamente misteriosos e cativantes.

Ele apresentou-se, o nome dele é Jake.
Tem cabelo castanho, olhos azuis, algumas sardas, é alto e é magro. É mesmo giro, chama logo todas as atenções para ele.

Entre os meus pensamentos e admirações o toque soa.
Eu arrumo as minhas coisas, e ele arruma as dele.
Estamos atentos a cada movimento um do outro.

Saímos e cada um vai para o seu lado.

Segui a minha rotina em casa: conversei com a Ruth sobre o toldo, a chuva e o gato dela, tomei banho (agora de água quente), li um bocado de A Culpa é das Estrelas, vi um filme, jantei com a Mara e depois estudámos juntas. As 22h ela foi-se embora.

E eu? Eu vou dormir. Foi um longo dia.

No dia seguinte no fim da aula de história arrumei as minhas coisas e quando ele saiu porta fora eu fui atrás dele.
Não sei porquê mas acho que ele esconde algo, a cara dele é um mistério, não faz as expressões normais que as outras pessoas fazem e que as denunciam.

Segui-o até ao destino dele.
Era um prédio alto e parecia ser moderno.

O que é que eu estava ali a fazer?

No momento em que eu me pergunto isto a mim própria ele aparece atrás de mim e pergunta-me :
-O que é que estás aqui a fazer Hanna ?

Que clichê.

Não disse nada...Olhei em redor para ver onde estava.
Estava tão concentrada na minha "perseguição" que nem reparei para onde ia.
Foi aí que percebi que era a rua da minha casa, pois o café da Dona Rosa denunciava o local. Era conhecido naquela cidade, então eu virei-me para o Jake e disse:

-Esta é a rua da minha casa, ia ao café da Dona Rosa agora. E tu, que fazes aqui?- perguntei curiosa para ver o que ele me respondia.

-Eu? Esta é a minha casa Hanna. Vivo no 6° andar deste prédio.

Fiquei chocada com o que ele me disse. Além de ser meu vizinho ele vive no 6° andar.

6 é o meu número do azar por causa da morte dos meus pais...odeio aquele número.

Deve ser o único dado que tenho acerca da morte dos meus pais, o 6°andar.

De resto, não há provas de nada.

Dizem que foi suícidio mas eu não acredito que eles fizessem isso só pela minha condição.

Pelo sangue que lá estava plantado como prova, disseram que eles estavam mortos sem sequer encontrarem os corpos.

Ninguém me dizia nada nem explicava nada, e após meses a chatear a polícia, desisti. Aceitei que eles já não podiam estar do meu lado e que agora tinha de me safar sozinha.

Jake interrompe os meus pensamentos:

-Queres vir lá a cima tomar um chá?

Fiquei surpresa com aquela pergunta...

-Se tiveres café eu prefiro - disse eu, a tentar escapar-me porque achei que podia ser embaraçoso.

-Por acaso até tenho. Prefiro café ao chá, mas como nasci em Inglaterra ensinaram-me a oferecer sempre chá primeiro.

-Hm...Obrigada pelo convite.

-Vamos?- ele pergunta.

Tinha um brilho estranho nos olhos, mas eu ignorei os olhos dele e disse-lhe que sim.

Ele agarrou-me na mão, surpreendendo-me, e levou-me para dentro do prédio.

Deu-me um café com leite e açúcar e também bebeu um, só que o dele era puro, sem nada. Só café. Não sei como ele consegue beber aquilo assim, é tão amargo...

A casa dele era bonita e acolhedora, muito diferente do resto do prédio.
Era o tipo de casa que eu gostava de ter...
Observei tudo ao meu redor.
Quadros, quadros e mais quadros, esculturas, peças de arte e livros ao montes.
Ele olhava para mim enquanto eu observava e estudava as inúmeras coisas daquela casa.
Continuei a observar as coisas durante algum tempo até que o Jake quebrou o silêncio e me despertou do meu transe.

-Fui eu que os fiz - disse orgulhoso.

-São lindos. Nunca tinha visto nada assim...Tens uma grande imaginação.

-Queres que te ensine a fazer um?

Engasguei-me com o café.
Depois de ele me dar umas pancadas nas costas e eu ficar melhor eu virei-me para ele e disse:

-Sim, acho que pode ser.

Mas eu estava um pouco de pé atrás.

-Então vamos para ali. Segue-me.

Ele pega de novo na minha mão e eu deixo-me ir com ele.

Entramos numa divisão com montes de desenhos pelas paredes.

Era grande, com duas cadeiras e uma mesa de madeira colorida, de tanta tinta que já levou em cima.

Era como se fosse o atelier de artes dele.

Achei aquilo engraçado, ele não tem cara de artista mas pelos vistos tem muito jeito para artes.

Ele continuou a puxar-me atrás dele, e eu fui.
Sentou-me na cadeira da esquerda e ele sentou-se ao meu lado e largou a minha mão.
Depois como quem se tinha lembrado de algo ele diz:

-Já volto.

Assenti com a cabeça e ele saiu da divisão.
Eu fiquei lá a observar as obras dele.
Algumas são muito sinistras, caras com sangue, caveiras e esqueletos.
Outras são muito românticas, como uma de uma rapariga a ver o pôr-do-sol com um véu de rosas vermelhas e azuis ou a de duas pessoas abraçarem-se e a olharem para o mar.

Ando por ali entretida a ver os quadros fabulosos dele, quando vejo uma estátua com uma frase lá escrita:

Não suporto meios termos
Por isso não me dou pela metade
Não sou meio teu amigo ou quase teu amor
Ou sou tudo ou não sou nada.

Achei aquilo inspirador...

Aí ele entra na divisão de novo e traz uma tela nas mãos.
Com um sorriso na cara, ele vira-se para mim e pergunta se vamos começar.
Eu digo que sim, sorrio para ele e vou buscar tintas e pincéis ao outro lado enquanto ele pousa a tela na mesa.
Por acaso isto não está a ser constragedor.
Está a acontecer uma coisa que não acontece há muito tempo.

Estou a divertir-me







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