Toxic

Capítulo 5

"Pouca sinceridade é uma coisa perigosa. Muita sinceridade é absolutamente fatal."

Era Sábado.
Combinei ir ao Shopping com a Mara.
Desde que chocámos na escola ficámos praticamente melhores amigas.

Eu precisava de roupa nova, mas não conhecia a moda atual, por isso precisava urgentemente da opinião de alguém e esse alguém é ela.

Passámos por várias lojas, mas as que me agradaram mais foram as que a Mara diz serem as desportivas: Nike, Adidas, Rebook, Sport Zone, etc...

Mas a Mara obviamente não me ia deixar vestir aquelas coisas.

Levou-me para: Tommy Hilfiger, Chanel, Carolina Herrera, Gucci, Yves Saint Laurent, Victoria's Secret, Mac, Urban Decay, Givenchy, Bobbi Brown, DKNY, etc...

Roupa cara e fina.
Mas pronto eu confio na Mara e sei que ela sabe do que fala.

Comprámos roupa para as duas e tinhamos tantos sacos que num corredor de 3 metros de largura parecia que só uma de nós cabia.

Metemos as coisas no carro da Mara ela tinha carta...Mais uma.
Eu não devo nem quero ter.
É mais seguro assim.

De seguida subimos para o terceiro piso, o da restauração.

Fomos para o Mc Donalds, e eu pedi um CBO e a Mara pediu um BigMac. Ela é pequenina, mas tem um apetite daqueles...

Comemos e depois quando íamos a sair vejo o Mike a passar.
Ele vem na minha direção...

A Mara finge que não o vê e afasta-se de mim deixando-me sozinha.

O Mike chega-se cada vez mais perto e quando está mesmo à minha frente diz:

-Não consigo parar de pensar em ti...Já gostei de ti e continuo a gostar. Agora que já largaste aquelas porcarias, não achas que temos sei lá...uma hipótese?

Eu simplesmente fiquei a olhar para ele estupefacta com a declaração de amor dele.

Ele agarrou na minha cara e beijou-me, depois virou as costas e foi-se embora.

Eu simplesmente fiquei lá no meio da zona de restauração sem dizer nada nem me mexer...
Não sabia o que fazer.
O Mike era giro, e uma ótima pessoa, mas eu não gostava dele assim...
Também não o queria desiludir pela segunda vez, mas desta vez estava saudável e tinha noção, não deixava o vício controlar-me...
Aquela era eu. E eu não conseguia ver-me com o Mike.

Ele foi demasiado sincero comigo.
E agora quando eu lhe disser que não gosto dele vou magoá-lo...
Mas vou magoá-lo ainda mais se continuar com ele sendo que não sinto nada por ele...
Por isso vou ser sincera logo.

A Mara interrompe os meus pensamentos e pergunta-me o que se passa. Ela não viu nada...

-Ele disse que ainda gostava de mim, e como eu não disse nada...ele beijou-me e depois foi-se embora...

-O quê?? Oh meu deus...Bem ele é giro e isso tudo... Mas não me parece que tu gostes dele... - disse ela com uma cara de pessoa impressionada.

-Pois. Não gosto e vou dizer-lhe isso...

-Fazes bem. É melhor seres logo sincera...

A Mara não sabe disfarçar, ela gosta dele nota-se mesmo muito facilmente na cara dela...

Eu vou ajudá-la a ficar com ele, ele só tem olhos para mim mas reparo que também nota nela e manda-lhe uns olhares.

Eu e a Mara fomos embora do Shopping, e ela levou-me de carro à minha casa.

Cheguei a casa e tomei um banho.
No banho comecei a pensar como iria explicar ao Mike que não gostava dele, e já formei um textozinho na minha cabeça.

Sequei-me e saí.

Não sei porquê mas eu não queria saber mais de ninguém.

Eu só queria ir ter com o Jake.

E foi isso que fiz...fui bater à porta do prédio dele mas infelizmente ele não estava em casa...
Senti-me desiludida durante uns segundos, porque depois ele apareceu atrás de mim e tocou-me no ombro.

Uma felicidade súbita corria-me pelas veias.

-Boa tarde Hanna.

-Olá Jake ... Precisava de falar contigo...Tenho de te contar uma coisa...

-Vamos, entra - disse, agarrando a minha mão com força mas sem me magoar.

Deixei-me ir atrás dele...
Só o queria ver, não sei bem o que tinha para lhe dizer, mas tinha que estar com ele.

Entrámos porta adentro.
Ele apontou-me o sofá e foi largar as coisas dele.

Voltou e sentou-se do meu lado. Agarrou a minha mão e o meu coração começou a palpitar mais rápido...Não sei bem porquê mas a verdade é que aconteceu.

-O que se passa? - perguntou, com um ar preocupado.

-Eu...eu n-não...eu não sei...

-Como assim tu não sabes?- olhou para mim, indignado.

-Eu só queria estar contigo...

-Já estás comigo - ele suavizou as coisas e fez-me rir.

-Precisava de te contar uma coisa. Preciso da tua opinião.

-Desembucha Hann.
(Ele chamou-me Hann, agora é a minha alcunha)

-O Mike beijou-me e eu não gosto dele mas tenho medo de lhe dizer porque o posso magoar.

-Oh...Mais vale seres sincera, vai-lhe doer mais se só contares depois...

-Eu sei. Mas não é só isso...

-Então é mais o quê?

-No outro dia disseste que a minha Mãe se ia chatear comigo por eu estar toda suja. Ela não ia...Os meus pais estão os dois mortos. A polícia diz que se suicidaram por minha causa, mas eles nunca se suicidariam. Eu sei disso - disse eu, com lágrimas a escorrerem-me pela cara.

-Oh meu deus...Desculpa, eu nunca teria dito aquilo se soubesse...
Mas porque dizem que foi culpa tua?

-Porque eu...eu andei a drogar-me durante dois anos e fugi de casa e quando voltei eles estavam mortos. Disseram-me que eles tinham feito aquilo por minha causa, pela falta que eu lhes fazia, mas não me parece -já estava toda vermelha, as lágrimas escorriam pela minha face e caiam no sofá dele.

Aí ele pôs-se de pé e levantou-me. Depois abraçou-me apertado durante minutos. Nunca me tinha sentido tão bem no abraço de alguém.
Senti-me segura, senti que estava tudo bem durante aqueles minutos e deixei as marcas das minhas lágrimas na camisola dele.

Depois ele pegou na minha mão e disse:

-Vais passar a noite comigo.

Voltou a sentar-se no sofá e puxou-me com ele. Depois, ligou a televisão e esticou a mão para pegar o cobertor felpudo cinzento que estava no lado dele.
Deitei-me com a cabeça no colo dele, ele tapou-me e vimos um filme.

No dia seguinte acordei ao lado dele na cama, ele levou-me para lá ao colo porque eu adormeci.