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18 de setembro 2014

       Às vezes andar na rua assusta-me mais que o suposto. Pessoas desconhecidas assemelham-se a pessoas que nos foram bastante próximas... Trazem um saco cheio de recordações horripilantes e nem se apercebem daquilo que nos fazem sentir.

      Aquela mulher... Cabelo curto e escuro; vestimenta preta e um andar lento; olhar duro e puslos cerrados... Se não soubesse a sua história e que já não pertence aqui diria que era mesmo ela que se encontra no meu campo de visão.
Encarou-me e eu apenas permaneci estática, como se algo me impedisse de fazer seja o que fosse... Senti a minha respiração aumentar a cada passo que ela dava. O meu corpo deixou de responder às minhas indicações para se mover. Correr; fugir para longe!
Nos meus olhos começaram a formar-se pequenas lágrimas e quando pensei que já estava bem longe da mulher de olhos castanhos, senti o seu toque. Estremeci.

- Está tudo bem querida? - Ouvi a sua voz e o meu coração acalmou. Que voz doce, pensei.

- Está. Hmm, descul-pe. - Senti a minha voz falhar.

- Parece-me assustada, precisa de alguma coisa?

- Não. E-eu tenho de ir.

      Saí daquele sítio com o coração a mil e as mãos a tremer e quando dou por mim vejo-me num jardim repleto de flores. Sento-me num baco a apreciar toda aquela beleza, mas mesmo que as flores sejam algo que me fascina e me distraia, o meu subconsciente não se afasta das memórias que reaparecem minutos antes. Sou bombardeada por imagens e parece que consigo sentir na pele tudo o que nelas passa.

« - Fazes o que eu mando e não tens nada que reclamar. - Ela grita cada vez mais alto e sinto o cinto frio embater novamente contra a minha pele descoberta. - Não tens direito a escolher seja o que for. - Mais uma vez, a fivela daquele cinto esbarra nas minhas costas. A dor é enorme. Os gritos são fortes. O choro é incessável.

- Não me faças isso. - Imploro entre o choro e os gritos da mulher que parece não sentir qualquer compaixão. Não sente nada. Ou talvez sinta: ódio.

- Eu faço o que eu quiser, como eu quiser e onde eu quiser! - A sua voz torna-se rouca, mas nem isso a faz parar. Ela continua com as pancadas do cinto contra o meu corpo, como se não fosse nada. Como se eu não valesse nada... »

      « Hey angel... Hoje quero falar-te sobre algo do passado. Talvez me sinta melhor se o fizer; ou não.
Nunca falei contigo sobre isto, nunca em tempo real... Não sei como te sentirias se soubesses o que ela me fazia, sei que das vezes que vias me protegias sempre. Raras vezes presenciaste as cenas dolorosas que passei, passavas o dia fora de casa à procura de sustento. Não te julgo! Sempre foste o mais lutador, o mais atencioso! De ti tenho as recordações mais belas, as mais corajosas. Dela... Dela tenho as mais assombradas! E gostava muito de as poder apagar. Gostava que todas essas lembranças se dissipassem com o vento. Dá?

Amo-te muito meu herói, não sabes o que faria para te ter aqui novamente. »

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Lau xx




Hey angel - N.HOnde histórias criam vida. Descubra agora