Prólogo

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-Tem certeza de que quer fazer isso, Claire?- Não me importei com o uso de meu primeiro nome, nossa relação já era mais do que a rainha e o seu conselheiro. John era meu melhor amigo.

-Não, eu não quero. -Meus olhos, antes observando as minhas mãos, se voltaram para ele, com lágrimas já se formando. -Mas é preciso.

-Ah, por favor!-Ele está totalmente irritado, completamente inconformado. -Você não está pensando nela.

-É EXATAMENTE POR ELA QUE ESTOU FAZENDO ISSO!-Minha voz, sempre suave, se eleva. John percebe o meu descontrole e me abraça.

-Você não entende. É mais perigoso para Skyla aqui do que lá. Não posso nem imaginar o que fariam com ela- Minhas lágrimas estavam transbordando pelo meu queixo, molhando a camisa de John.- Se ela continuar aqui em Gales, vão descobri-la rápido de mais, vão importunar a sua vida. Quero adiar isso o máximo possível.

-shh... eu entendo -Ele fala em uma fraca tentativa de me acalmar- eu entendi, vamos fazê-lo então.-me aperta mais em seu abraço fazendo-me sentir uma dor em meu ventre. Sorrio de lado, passou-se apenas poucos dias desde o parto.

Mal começo a pensar em meu bebê e ouço passos e pequenos barulhinhos, me desvencilho dos braços de John e olho para a porta. Meu sorriso aumentando ainda mais.

Em poucos segundos Mary, trajando seu característico uniforme preto e branco, entra com minha Skyla em seus braços, vou rápido até lá, e a pego com cuidado.

-Oi meu amor- falo olhando para o seu rostinho- Mamãe sentiu muita saudade.

-Ela está com fome- Assinto para Mary e me direciono à cama, preparando para amamentar meu pequeno anjo.

-Alguém viu vocês?- John lembrou de repente, perguntando a Mary.

-Felizmente não.- Ela fala antes de alisar o seu avental.- Vim pela passagem da cozinha, como mostrou-me a rainha.- Seus olhos, agora estão sobre Skyla, bebendo avidamente o leite de meu seio. Mas meu sorriso logo se desmancha quando penso sobre o que tenho a contar-lhe.

-Amanhã à noite- Minha serviçal gorduchinha e meu melhor conselheiro estão prestando atenção em minhas palavras.- Não posso arriscar mais, sem contar que não dá para manter um bebê escondido por mais tempo, principalmente o bebê da rainha.

Abaixo minha cabeça, uma pena que não tão rápido. Ainda pude ver o olhar inconformado de John e a expressão aterrorizada de Mary.

-Vai mesmo levar a minha pequena doce?- disse ela.

-É necessário, Mary.- Digo tristemente, ela concorda relutante- Mas ela irá voltar. De um jeito ou de outro, ela irá ter que voltar. Seu futuro está escrito.

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Eu esperava, sinceramente, que John e Mary não conseguissem aprontar tudo até hoje. Lá no fundo, queria muito que algum dos dois chegasse até mim e dissesse, pelo menos, que havia um impedimento, que era arriscado e seria melhor esperarmos mais um dia.

Mas, não. Foi tudo feito exatamente como ordenei. Oh não, isso iria ser doloroso, muito doloroso.

-Pronta Claire? A carroça vai diminuir a velocidade no próximo trecho.- John era muito esperto! Essa história dele ter achado um primo do amigo de seu amigo, que dirigia as carroças que saiam do castelo ainda me era receosa. Mas John disse que eu poderia confiar. Bem, contanto que o motorista não dê com a língua nos dentes...

-Quer que eu vá com Skyla?

-Não, não precisa.- Falei me levantando do balde grande de leite, e indo pegar minha filha.- Mas adoraria se levasse o cesto.

-Tudo bem. -Após pegar o cesto foi olhar lá fora. -É agora. Vou primeiro, e logo depois você pula também.

A única coisa que fiz foi concordar com a cabeça e cobrir mais minha filha. É... estava com medo. Com medo do que viria a seguir. Não esse ‘a seguir’, um ‘a seguir’ um pouquinho mais distante.

-Ao meu sinal. –John avisa. –Agora!
Ele salta. Não exito, vou atrás, tendo cuidado com Skyla em meus braços. Meu amigo me ampara, para evitar que eu cambaleie e depois me entrega o cesto para colocar meu bebê dentro.

-Vamos, a árvore é logo ali. –Então, ele aponta para a planta de grande porte quase à nossa frente, apenas escondida por altos arbustos.

Caminhamos até lá, cada passo mais curto do que o outro, os dois querendo adiar o máximo aquele futuro, mas não evitou de chegarmos.

Olho aquele tronco grosso e marrom em frente à mim, esperando algo acontecer, e acontece. Uma pequena brecha retangular se abre na lateral e imediatamente já sei o que fazer, querem minha digital. É meio que óbvio, têm que saber quem está passando para o mundo humano. Não me importo em desconfiarem e apoio minha mão, ninguém nunca olha esses registros, os seguranças reais têm coisas mais importantes para fazer, afinal que fada teria interesse em ir para o mundo humano? E, bom, sou a rainha, posso apagar essas informações assim que voltar.

Alguns segundos de espera e a árvore começa a criar furos. Feixes de uma luz dourada também começam a lutar para sair. Vai ficando cada vez maior, até que um buraco bem iluminado em dourado nos convida à entrar, e assim o fazemos.

A passagem do portal dá em EUA, na Flórida. Estamos andando há horas pelas ruas de Sunrise, assim como em nosso mundo, em Gales, é noite. Quem passa por nós deve pensar que somos um casal feliz passeando pela primeira vez com a sua filha.

Oh, como eu queria que fosse assim! É o meu maior desejo.

Mas ele nunca poderá se realizar. Ainda sinto um aperto enorme no coração ao me lembrar de Magnuss. Eu, sendo quem sou, uma Bukuptes, fada dona de uma beleza e sensualidade invejáveis, deveria sempre estar disposta a ajudar os homens, mas nunca me interessei em outro que não Magnuss. Ele não era como os demais, não ia atrás de mim apenas por causa da minha beleza, segundo ele, era o que tinha dentro de mim, a minha essência e pureza que o conquistou. Dizia ele que precisava de pureza para acalmar o seu coração. Mas isso acabou. Tudo acabou, no momento em que o perdi para a morte. O que era praticamente impossível, Magnuss era a fada mais poderosa de Gales, não é a toa que ele era o rei. Não acredito que tenha morrido por uma simples doença da velhice.

Antes de ir, meu doce rei me confidenciou algo importante, a fonte de energia mágica em nosso mundo, as pedras de Níntra. Esse nome é símbolo de poder e força para nós. Todos as ganham assim que dominam seus poderes. E a única que sabe fazê-las, nos dias de hoje, sou eu.

-Claire? –John me chama. –Tudo bem? Acho que encontrei o lugar ideal. –Assinto despertando completamente de meus pensamentos.

–Então será aqui. –Estou tentando parecer convicta, tarefa difícil.

Minha filha, estava quietinha enquanto a levava até à grande porta da casa de adoção. Foi sorte, se é que posso dizer assim, achar uma dessas, já que nos Estados Unidos não têm orfanatos.
Quase não ouço o barulho da cesta tocando o chão, de tanto cuidado que estava tentando fazer. Os olhos de Skyla estavam bem abertos, diria até meio assustados. Rum, como se ela soubesse que estava sendo deixada pela monstra da própria mãe! Ah caramba, ela vai entender quando for mais velha! Espero que entenda.

Como uma prova de que Skyla terá que voltar algum dia para a sua verdadeira origem, tiro de dentro da minha capa um colar com uma pequena pedra da luz, antes era bem maior e redonda. Apesar de ser sua por direito, Magnuss nunca a usou, sempre a deixava dentro do cofre. Hoje, a pedra colorida como o arco-íris, está menor devido à arte que eu fiz nela. E, modéstia à parte ficou lindo, Skyla vai adorar usá-la.

Depois que deixo o colar junto à minha menina dentro da cesta, bato na porta da casa, e... bem, saio correndo.

Níntra, O Oráculo Das FadasOnde histórias criam vida. Descubra agora