A história foi contada de cabo a rabo. Como Anne foi ao mercado um dia e acabou enfrentando uma fila quilométrica, Des estava trabalhando e Gemma tinha ido á casa de uma amiga brincar. Como o garoto implorou para a sua mãesinha para ficar brincando como sempre, já que o plano era uma ida bem rápida para comprar tomates que faltaram para o molho do macarrão. E como o vizinho finalmente encontrou sua chance.
A culpa não era de nenhum dos Styles afinal. Acidentes acontecem. Coisas ruins acontecem.
Talvez a pior parte de um estupro seja o abuso psicológico e não o físico. A sujeira que se impregna na pele como se nunca fosse sair. As cenas que voltam paradoxalmente. O jeito que você se sente nojento, corrompido.
Gritos e esperneios. A mão grande passeando pelo seu pobre corpo e palavras feias sendo sussurradas. Um macacão amarelo que nem o que seu pai costumava vestir. Os olhos marejados não conseguindo enxergar nada além daquela peça.
O ato não chegou ao fim. Havia uma pedra ali perto. Com uma força sobrenatural que nem aquele seu eu de sete anos sabia que tinha ela foi atirada contra o agressor. Suas perninhas correram o mais rápido que conseguiu.
Não foi preciso muito para que Harry se quebrasse. Não foi preciso muito para que seus ataques de pânico o acompanhasse toda a vida junto com as intermináveis sessões de terapia. Todos sempre se perguntando o motivo de ele não lembrar do que aconteceu.
O cérebro é engraçado as vezes. Alguns apagões em momentos traumáticos e mistérios como esse são formados.
A doutora disse depois de uma longa pausa que foi um choque tão grande que seu sub-consciente se recusou a continuar revivendo. Ele não conseguia lembrar de nada.
Apenas da cor.