O N E

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Peguei no meu telemóvel na intenção de olhar as horas assim que a porta
se abriu revelando Maia e Gabriel. Ambos pousaram as mochilas à entrada de casa como sempre faziam e pareciam aborrecidos devido às suas caras de tédio. Gabriel caminhou até ao frigorífico e fechou-o no mesmo instante depois de xecar que nada lhe agradava. Maia sentou-se a minha frente na mesa ficando em silêncio. Algo me dizia que havia alguma coisa não estava bem e a minha curiosidade não deixou passar.

- Passa-se algo? - prenúnciei-me calmamente.

- Deveria? - perguntou Maia.

- Estão tão calados.. Pensei que..

- Não, não te preocupes, está tudo bem.. -desta vez descartou.

- Decerteza? - pergunto desta vez a Gabriel que recebeu um olhar de aviso de Maia.

- Sim mana. - Gabriel sorri forçado.

- Esta bem. - digo não querendo insistir-Romeo não deveria ter vindo convosco?

- Ele ficou a fazer algo na biblioteca.- continuou.

- Disse a que horas chegava? - fez sinal negativo com a cabeça.

- Pensamos que já tivesse chegado..- De novo Maia responde dando de ombros.

Dou um grande suspiro derrotada pelo cansaço e por fim prenúncio-me: Eu vou buscar a Meredith e ver onde Brooklyn anda.. - digo pegando nas chaves de casa- Por favor não façam nada de errado, não quero ter de ouvir outra vez na próxima reunião de condomínio sobre o barulho causado. - aviso humilde saindo de casa.

Caminho até ao elevador e carrego no botão. Espero até ele subir e adentro nele carregando no 0. Rapidamente chego a entrada do prédio e assim que abro a porta uma rajada de vento cobre-me por inteiro causando-me calafrios. Levo as mãos as bordas do casaco colando ao meu corpo com o intuito de me proporcionar um pouco mais de calor.
Caminho apressadamente pelas ruas de Liverpool olhando em cada beco, procurando por Brooklyn sabendo que só assim o iria encontrar, e infelizmente tinha a perfeita noção disso.

Com apenas 21 anos, ficar responsável pelos meus irmãos sendo eu a mais velha de 6, órfã de pai e filha de uma mãe negligente, não estava devidamente delineado nos meus planos prósperos, mas é algo que com o tempo acabei por aceitar, pois toda esta condição já se prolongara na minha vida desde que Meredith nascera.

Não me podia arrepender, a minha determinação não o deixava...além disso eles são tudo o que eu tenho. Por mais meios de palavras, faltas de afeto por culpa da idade ou até mesmo resposta inadequadas em momentos quentes, eles compreendiam que o meu olhar sobre eles era o suficiente para protegê-los do mundo.

Tornei-me gananciosa por eles, tenho a perfeita consciência que não há fome de carne e sede de sangue mais genuína e singela do que o meu amor pelos meus irmãos, então luto para que não tenha de os encarar e dizer que falhei.
Amo-os de mais para os trair com descuidos da minha parte...então trabalho para ser perfeita, mentalizando-me dia após dia que isso nunca iria ser possível...apenas pelo simples facto de todos nós erramos pelo menos uma vez na vida.

Tão pouco estou  perto de ser um exemplo, mas incuto-me a responsabilidade de passar bons valores aqueles que um dia vão dominar este mundo com todos os outros da sua mocidade. Pretendo ser sempre a bússola que os guiará pelo caminho eterno da vida, desde que contribua também sempre para as suas felicidades.

Não vou ser hipócrita e dizer que é tudo fácil, porque não é. Principalmente, quando tens de te dividir em 5, colocando o trabalho lá pelo meio e o turno extra a noite no Byron, 7 dias por semana. As contas cada vez eram mais, e eu sentia que afogava-me no meu próprio desespero de não conseguir controlar a situação. Um erro, era uma falha dolorosa...quem sabe irreversível.

The Storm w/ H. StylesOnde histórias criam vida. Descubra agora