Prólogo - O Violino + Book Trailer

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Polônia, 13 de outubro de 1944

O próprio outono trouxera uma neve inesperada, como se alertasse a todos que havia algo errado. A vastidão branca, embora ainda fina e sutil, era amassada incontrolavelmente pela sola das botas pesadas dos soldados, tão lustrosas que refletiam brilho das poucas estrelas estampadas no céu escuro. Suas fardas cansavam seus ombros, enquanto seus cintos pretos com fivelas prateadas definiam suas cinturas. Alguns carregavam um charuto na boca, enquanto outros contentavam-se em se esquentar apenas com o movimento do corpo.

...

— Toca! Toca! Toca! — Um jovem insistia, e seus cabelos escuros e bem cortados ajeitavam-se por debaixo de uma touca vermelha feita à mão.

— Vocês... vocês não vão gostar. — Uma garota de estatura mediana respondeu, sua cintura ajeitava-se numa saia longa, preta, drapeada em seu tecido pesado, e seu tímido busto era coberto por uma blusa branca que lhe aquecia até os pulsos, mas que revelava suas clavículas saltadas.

— Por favor, Evellyn, toque. — Seu pai insistiu. Um charuto repousava em sua mão esquerda enquanto, com a outra, batia os dedos de leve na cadeira de balanço em que estava sentado, tão antiga quanto ele.

A garota, acanhada, tirou os cabelos castanhos que lhe cobriam parte dos olhos e os jogou para trás, tornando possível a apreciação de seus lindos e profundos olhos cor de âmbar, que nadavam em brilhos achocolatados. As mãos ágeis prenderam o cabelo num coque alto e, depois, ela se agachou, abrindo a pequena maleta que apoiava em seus tornozelos.

— O que gostariam que eu tocasse? — A voz da garota parecia conciliar-se com o seu toque leve no violino.

O instrumento era de uma madeira tão pura que parecia ter sido feito por anjos, que o poliram durante sete dias e sete noites, e havia uma estrela de Davi cravada na ponta esquerda do violino. O pai dela batalhou muito para dar aquele presente à filha e o seu orgulho por ter conseguido dar presente de tamanha beleza se explicitava em um sorriso largo.

— Algo das festas de fim de ano, se não lhe for incômodo. — Disse um homem que acabara de entrar, a porta batendo suavemente atrás dele.

— Rupert! — Evellyn apoiou o violino no lado direito de seu corpo frágil e correu para os braços do rapaz que acabara de passar pela porta de entrada.

A neve parecia estar brincando com o cabelo do rapaz, enquanto ele a beijava suavemente.

— Oh — ela exclamou, sentindo o frio em seus lábios.

— Perdão, querida. — Ele tirou o cachecol alaranjado que estava em torno de seu pescoço. — Mas o frio está congelante lá fora.

Ela sorriu e o beijou novamente.

— Não tem problema.

O pai dela pigarreou.

— Bom, se não se importam, eu queria ouvir uma música hoje.

Evellyn, de repente, conectou-se com a frase de seu pai, correndo para o meio da sala novamente. O violino já pronto para ser tocado, os pés cobertos por um sapato preto que acariciava o tapete de camurça.

— Algo que lembre o final de ano, certo? — Ela perguntou para ter certeza.

— Exatamente. — Disse Rupert.

— Mas as festas ainda estão longe. — O pai retrucou, fitando o rapaz, como se o desafiasse a continuar.

Evellyn abaixou os olhos, envergonhada de certa forma, o rubor em suas bochechas aumentando consideravelmente.

A Violinista de Auschwitz (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora