Capítulo três

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-Você está bem?.- Scott perguntou novamente.

-Sim, estou bem.- Respondi tentando esconder meus sentimentos.

-Nossa! você deu uma bela surra nela.- Ele me elogiou.

-Valeu!.- Respondi rindo.

-Mas você também não ficou nada legal.- Ele afirmou olhando em meus olhos.

-Ela bate como uma garotinha!.- Respondi desviando o olhar.

-E você não?.- Ele perguntou ainda me olhando.

-Não. Respondi olhando em seus olhos.

O professor Sam chegou onde nós estávamos e começou a checar meus curativos. Ele pediu pra Scott ir ficar com a turma deixando nós dois sozinhos, eu pensei que nesse momento o professor Sam iria me dar milhares de lições de moral, e me mostrar como eu estava errada de ter revidado o tapa que a Madson me deu... Mas ele não disse nada apenas me olhou com um sorriso no rosto. Sorri pra ele também, vamos combinar que eu estava errada nessa história, mas os outros só precisavam saber que eu estava me levantando para ir ao lixeiro. Abracei com força o professor Sam que rapidamente retribuiu o abraço, era bom ter um amigo aqui, além de todos era bom ter alguém que me apoiasse. O professor Sam me falou que o diretor queria me ver imediatamente, mas me tranquilizou dizendo que conversou com ele e foi tudo um mal entendido eu só precisava dizer o que todos pensavam ser verdade, que uma garota tímida e meiga como eu jamais faria alguma coisa pra machucar minha colega, andei pelos corredores sem olhar pros lados quando passava pela sala arrancava olhares até dos professores, de alguma forma imagino que eles já sabem da briga, andei calmamente até a sala do diretor que me esperava sentado de frente pra porta, entrei e sem dizer nada ele fez um sinal para que eu sentasse na cadeira a sua frente, me sentei e ele ficou olhando pra mim, olhando em meus olhos, eu estava nervosa e sua expressão séria, derrepente ele me deu um sorriso e o inesperado aconteceu, o diretor me deu um tapa no rosto com tanta força que senti meus músculos queimarem em quanto caia no chão ao lado da cedeira, levei um tempo pra me dar conta de que ele me bateu, a dor era tão intensa e forte, que me deixou totalmente sem força, sem força até pra chorar uma coisa que pra mim era tão simples, Ele pegou meu braço com força e me levantou do chão rapidamente me fazendo ficar em pé a sua frente, pensei que iria me bater de novo mas ele começou a falar:

-Madson Moury é simplesmente a garota mais rica dessa escola.-Ele começou.- a mesada que ela recebe toda semana pode ser maior que o salario de muitos professores aqui.

tentei me soltar mas ele me segurava com muita força que eu não teria chances de fazer nada além de ficar ali na frente e ouvir tudo que ele me dissesse.

-O pai dela me dá uma simples colaboração a cada semestre para que ela tenha uma vida de estudante normal no meio de pessoas normais.- Ele apertou mais intensamente meu braço.- E você me vem com essa sua imbecil?

-Me solta não pode fazer isso comigo!.- Falei alto.

-Cala a droga da sua boca!.- Ele gritou mais alto que eu.-Você e sua família tem uma vida tão medíocre que se não existissem o mundo agradeceria.

-Não pode falar assim da minha família! me solta agora!.- Gritei.

-Sua vida é uma droga! e eu não vou aceitar isso na minha escola!.-Ele gritou mais alto.

totalmente indignada, eu cuspi em seu rosto pra demonstrar o meu nojo e repulsa por ele, ele me encarou com fúria e limpou o rosto, me soltou calmamente dizendo:

-Volte para a sala de aula e não conte isso a ninguém.

O olhei com raiva e saí de sua sala batendo a porta com força, fui direto pro banheiro feminino olhar meu rosto que ainda doía, estava com uma mancha vermelha no lado que ele tinha me dado o tapa, tive que pedir ajuda de uma menina pra cobrir com maquiagem pois eu não entendia nada disso. Quando cheguei na sala de aula o professor Sam já estava lá junto com Scott, Madson ainda não tinha voltado. fui pro meu lugar ao lado de Maik ignorando os olhares que das pessoas, seguimos a aula como se nada tivesse acontecido, é incrível quando você está totalmente humilhada e machucada e no final de tudo tem que fingir estar tudo bem, tem que se trancar em um armário e ficar lá dentro somente ouvindo o que as pessoas dizem sem poder ao menos opinar e tentar explicar seu ponto de vista, como uma boneca que não tem vontade própria, como uma Barbie perfeita que tem que sorrir e agradar todo mundo, eu poderia acabar com tudo e contar pra escola toda as barbaridades que o diretor fez comigo, sim eu poderia mas provavelmente iria acabar expulsa eu realmente não me importo nada com essa droga, mas e a minha mãe? eu não posso ser uma garota egoísta e pensar somente em mim, ela se mudou tanto procurando a escola perfeita, a casa perfeita, os vizinhos perfeitos, a vida perfeita, mas eu acho que entendi isso antes que minha mãe, a vida não é perfeita. Quando a aula acabou eu fui direto pra casa caminhando pois não queria entrar naquele ônibus e ter que sentir todos os olhares sobre mim de novo, demorei um pouco mais pra chegar em casa e quando cheguei minha mãe estava me esperando pra uma conversa.

-Mãe eu não estou em condições é serio.- foram as únicas palavras.

Subi direto pro meu quarto e tranquei a porta, me deitei na cama e me isolei do mundo e das coisas do mundo, fechei meus olhos na tentativa de dormir que foi em vão eu não tinha sono só tinha raiva e tristeza, minha mãe veio até meu quarto e se deitou ao meu lado na cama ela já sabia da briga é claro que já sabia, pelo que entendi o diretor daquele lugar me odiava é claro que minha mãe saberia de tudo, ela me abraçou pelas costas e ficamos deitadas em silêncio até que as primeiras gotas de chuva começam a cair do alto das nuvens até a grama no chão, o som da chuva me acalmava e tranquilizava me fazia esquecer das coisas eu só precisava ficar ali parada e ouvir as gotas de água caindo no chão e descendo pelo vidro da minha janela. Passado algum tempo alguém chega na porta, minha mãe se levanta e me dá um beijo na cabeça antes de ir atender, continuei olhando pra chuva pensando bem acho que não me importaria de ficar olhando e ouvindo a chuva caindo sobre a terra até morrer, novamente a porta do meu quarto se abre e pensei ser minha mãe voltando pra ficar comigo.

-Quer conversar?.- Diz uma voz masculina que reconheci na hora.

Não tive outra reação apenas me virei rápido e olhei pra Scott de pé diante minha porta aberta, pude senti todas as coisas acontecerem ao meu redor, pude ouvir cada uma das dezenas de centenas de gotas de água caindo no chão, senti minhas pupilas dilatarem e encontrar seus olhos sem meu comando, ele sorriu pra mim e senti o mundo girando.

-Eu posso entrar Grace?.- Perguntou ainda com um sorriso no rosto.

-Claro, entre.- Respondi tentando não parecer tímida.

Scott entrou em meu quarto e se sentou ao meu lado na cama, ele olhou pros lados como se estivesse avaliando meu quarto, não me importei e finalmente me dei conta de que aquela foi a primeira vez que Scott Maya tinha dito meu nome.

-Quarto legal.- Ele disse.

-Brigada.- Respondi olhando em seu rosto.

-Você curte eles?.- Scott perguntou com um sorriso e apontando pro meu poster de System of a Down.

-É eles fazem um som legal.- Respondi sorrindo.

Ele sorriu de volta e começou a vasculhar meu CDs até encontrar um que ele gostasse, Scott colocou um CD meio depressivo que eu tinha, e pra acabar com tudo a melodia era de piano.

-E aí?.-Ele falou chamando minha atenção.- Quer falar sobre o que aconteceu na sala do diretor.

-Não aconteceu nada de mais lá dentro.- Foi a pior mentira da minha vida.

-Tudo bem.- Respondeu com uma voz calma.- Vamos ouvir algumas músicas e quem sabe você resolve me contar.

Ficamos lá sentados um olhando pro outro em quanto a chuva caia fora da janela e a melodia dos pianos tocava, por um momento eu pensei em contar tudo pra ele, mas depois me lembrei que jamais poderia além de poder ser expulsa eu não quero que as pessoas sintam pena de mim. O tempo foi passando e ele ainda estava lá calmamente esperando uma resposta, eu estava quase desistindo, por fim ele me olhou e disse:

-Bom você não vai contar não é?

Fiz que não com a cabeça e ele se levantou desligou o radio me olhou uns instantes e disse as palavras que me atingiram com uma força tremenda:

-Saiba que tem um amigo.

Ele foi andando em direção a porta, e fiquei o olhando como se estivesse arrependida de não ter confiado nele, assim que ele pegou na maçaneta pra abrir a porta e ir embora meus sentimentos foram mais forte do que eu e me levantei rapidamente correndo em sua direção e o abraçando por trás, Scott pareceu se espantar com aquela atitude mas não fez nada para que eu o soltasse , e já com lagrimas nos olhos eu falei:

-Por favor fica comigo.

-Fico.- Scott respondeu se virando e me abraçando forte também.- Claro que eu fico.


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