Capítulo 1

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"Temos que levantar, pequena!" Sua mão faz carinho em minha cabeça assim que me viro para o outro lado, com a esperança de dormir um pouquinho mais.

"Precisa acordar para podermos ir para o nosso passeio ou você acabou esquecendo?" Novamente a sua voz doce invade os meus sonhos junto com a claridade do quarto, me impedindo de continuar dormindo.

"Emma Johnson, você tem só cinco minutos para se arrumar e caso não levante dessa cama eu vou acabar indo sem você!" A voz já não está tão calma e nem tão próxima. Ele ir sem mim? Não, eu quem insisti para poder sair como ele. Levanto aos pulos da minha cama tentando mostrar que já estava acordada.

"Não, calma que eu já levantei!" Sinto a luz bater nos meus olhos e fecho com força pela claridade repentina, consigo ouvir sua risada enquando me vê correndo pelo quarto tentando achar uma roupa. "Você prometeu que ia então me espere, por favor.." Olho rapidamente para o meu pai e isso faz com que ele dê mais risadas da minha figura.

"Não precisa ter pressa porque ainda precisamos comer alguma coisa antes de sair, mas só assim para você acordar rápido!" Bagunça meus cabelos quando passo por ele para chegar no meu banheiro. "Estou lá em baixo, se arruma rápido e coloca uma blusa porque está muito frio!" Sua voz se afasta e assim começo a fazer minha higiene matinal. Depois de esconder meu cabelo curto com uma touca e pegar uma blusa de frio. Desço as escadas e vou para a cozinha.

"Estou preparada papai!"

com a voz calma e alegre. Vejo ele se ajoelhar ficando então da minha altura; com suas mãos em meu rosto e com um olhar carinhoso ele diz de maneira firme. " Quero que você saiba que eu nunca irei te deixar meu amor, nunca!" afirmava sem parar "Não importa o lugar em que eu irei estar , lembre-se eu te amo acima de qualquer coisa , irei sempre te apoiar meu amor" Dito isso ele abraça fortemente meu frágil corpo- me passando segurança e proteção- quando percebeu lágrimas em meu rosto me soltou e voltou a olhar nos meus olhos. "Não chore amor, lembre-se irei te protege da onde estiver minha filha!" Limpou minhas lágrimas e pegou em minhas mãos. " Agora vamos para o nosso passeio se divertir e se entupir de besteiras , sem que a mamãe saiba! " disse ele me enchendo de cócegas enquanto me piscava um de seus olhos azuis cheios de vida e brilho. E em meio as risadas disse-lhe. "Te amo papai! Espero que a mamãe não descubra nosso passeio" Enchendo seu rosto de beijos.

Acordo assim assustada e com lágrimas inundando meu rosto, mais um sonho com ele. Sinto meu peito arder, a dor da saudade toma conta do meu ser aos poucos e como sempre me sinto culpada por tudo que aconteceu naquele dia. Lembrar-se da cor dos seus olhos, do seu abraço e do seu cheiro só me fazia chorar cada vez mais; é impossível controlar a dor que sinto.

Olho para o relógio e vejo por entre as lagrimas que ainda é 02h45min AM e bufo frustrada por não conseguir dormir por noites seguidas e por ter uma irritante dor de cabeça como companheira.

Levanto fungando e caminho em direção à porta escura que se encontra no lado direito do meu quarto, entrando assim no banheiro. Fico então parada em frente do enorme espelho que está a minha frente. Assusto-me com a visão das enormes olheiras em meus olhos, com o tom vermelho que está em minhas bochechas por conta das lágrimas que caem sem parar.

Tantas pessoas más no mundo e quem paga são às pessoas boas, pagamos pelos erros dos outros. A imprudência e inconsciência de alguém são o suficiente para assolar a vida de alguém; causando assim uma dor silenciosa que não tem nome ou formas.

Fico parada refletindo tudo o que me aconteceu nos últimos anos, em como tudo mudou rapidamente e quando dou por mim estou abrindo a última gaveta do armário localizado no meu banheiro, segurando assim uma pequena caixinha-ninguém tem conhecimento desta - sinto que a intensidade das lágrimas vem aumentando gradativamente assim como os soluços do meu choro; com as mãos trêmulas pego em uma das várias lâminas que ali estavam e quando dou por mim já tinha uns pequenos cortes no meu pequeno e frágil pulso esquerdo.

Sinto uma sensação de alivio me corroer e se me questionarem o porquê de eu tomar está atitude não saberei explicar, mas parece ser a única forma que encontro para me aliviar da dor que sinto por ter dado a ideia daquela saída com meu pai, por ter implorado tanto no dia anterior, sou um monstro por tudo que o fiz passar, por ser uma garota idiota e egoísta que só pensa no seu próprio beneficio. Então essa é uma forma de me amenizar o sentimento de culpa;

Machucar seu próprio corpo como forma de aliviar sua dor? Grita meu subconsciente.

Eu era uma jovem consideravelmente saudável e bonita, tinha amigos e uma família unida; éramos realmente uma família feliz. Mas eu acabei com tudo. Culpo-me pela sua morte, todos estão certos. Eu o matei, eu insisti para sairmos naquele dia.

Recordo-me do ultimo abraço, das ultimas risadas, a maneira como ele disse que iria me apoiar e me proteger da onde estivesse. Hoje as lembranças daquele dia soa como se fosse uma despedida.

Quando saio do meu transe, jogo aquela pequena lamina no lavatório . Deixo-me cair de joelhos no piso gelado do meu banheiro; sem me importar com os cortes no meu pulso esquerdo. Sinto o sangue cair em demasia pelos meus dedos, mas aquilo já não me importava.

"Hm deixe-me pensar. Prometo nunca te deixar meu amor, estarei sempre contigo, mesmo que eu não esteja por perto, mas você tem que me prometer ser uma pessoa firme e forte, okay?" disse ele esticando então seu dedo mendinho, esperando uma atitude da minha parte "Okay! Prometo ser forte por você papai, te amarei até o infinito!" disse entrelaçando meu pequeno dedinho com o seus. Selando assim uma promessa.

Não poderia quebrar uma promessa feita de dedinho com o homem que eu mais amo e admiro em toda minha vida. Não poderia quebrar a minha palavra, ser uma menina fracassada.

Então me forço a levantar do chão e a cuidar dos cortes em meus pequenos pulsos. Pego então uma caixa de primeiros socorros que tinha no armário do meu banheiro e começo a fazer os curativos de forma cuidadosa. Após terminar o curativo, limpo toda a bagunça e jogo a lamina que usei no lixo.

Saio do banheiro e vou então para o meu quarto.Deito-me na minha cama, de maneira a não machucar meu pulso. Começo a sentir minhas pálpebras pesadas -cansadas de chorar - se fecharem, com lembranças dele;dos momentos em que eu era uma pessoa feliz e cheia de vida.

SCARSOnde histórias criam vida. Descubra agora