3. Rebeca

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O que fazer quando a vida não é um mar de rosas, quando o estado de espírito é triste?

Rebeca nunca se sentiu tão só, abandonada no chão, naquele apartamento gelado, com as costas encostadas nas paredes, abraçando os próprios joelhos e tremendo.

Há aproximadamente dezenove anos atrás, em uma cidadezinha no interior de São Paulo, nascera Rebeca e seu irmão gêmeos, Lucas, alguns dias depois o pai não aguentou a pressão da vida e se suicidou. Enforcou-se.

E sua mãe cuidou bem dos gêmeos, até que no aniversario de doze anos deles ela também se suicidou, pois o namorado a abandonara. Overdose. Deixando Rebeca e Lucas sozinhos.

E por ironia acida do destino, há uma semana, Lucas também se suicidou, deixando Rebeca sozinha em seu apartamento. Cortou os pulsos.

Se suicidar ou não suicidar, eis a questão.

Então chegou a uma conclusão interessante:

Não quero me matar no meu quartinho, sozinho, para ser encontrada três meses depois por cobradores de dividas. Se for pra me matar, que eu atrapalhe a vida dos outros, vire noticia e chame atenção.

Então a jovem Rebeca decidiu saltar de um prédio.

Talvez seu corpo ao cair destrua um carro, voe sangue para todo o lado. Iria aparecer na TV.

Além de triste, estava revoltada, por eles terem se matado e deixado-a sozinha.

Sem ninguém com quem confiar.

E também, queria inovar. A morte dela seria a mais inusitada da família.

E em seu momento mais sombrio percebera que ninguém nunca havia a notado, nunca fora importante. De fizesse isso, o show seria só dela. Alguém, pelo menos uma vez note seu espetáculo. E ainda honraria sua família horrivel, perfeito!

E assim foi decidido.

Ainda melancólica, colocou suas roupas favoritas. Sua camiseta preta e uma calça jeans e seu tênis all star vermelho.Prendeu o cabelo em um coque. Estava pronta para o show.

Ela não tinha muitas escolhas, não havia mais sentido em viver sem amigos e família. Estava sozinha, então caminhou lentamente pelo corredor do prédio em direção ao elevador. Subiria até o ultimo andar e pularia de lá. Cada passo parecia ecoar na mente de Rebeca.

Toda a melancolia, toda a tristeza, tudo acabaria essa noite.

Agora, já de frente para o elevador. Apertou o botão e esperou. Entrou quando a porta abriu, então um homem entrou junto dela e cada um apertou seu botão de andar. Era alto e magro. Era moreno, bonito e tinha o cabelo bem penteado, vestia um terno.

- Boa noite, senhorita. – Disse ele, sorriso malicioso.

E ela não sabia como responder. Não esperava encontrar alguém tão encantador no dia de seu suicídio.

- B-boa noite.

Maldita! Gaguejou! Merece mesmo se suicidar!

Então o estranho a segurou pela cintura, colocou a outra mão na nunca de Rebeca e a beijou, passando a mão em seus cabelos. Um beijo molhado e talvez o melhor que já dera em toda sua vida (Planejada para acabar essa noite, relembrando).

Se beijaram loucamente até que a porta do elevador e ele a soltou devagar.

- Adeus, querida. André, aliás.

- Re-re-re...

E a porta do elevador se fechou, deixando-a sozinha e sem palavras e sem dizer o nome.

Talvez eu deixe para me suicidar outro dia. Pensou Rebeca


Crônicas da terra da garôaWhere stories live. Discover now