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CHACKO PASSARIA A DORMIR no escritório de Pappachi para que Sophie Mol e Margaret Kochamma pudessem ficar em seu quarto. Era um quarto pequeno, com uma janela que dava para a pequena plantação de seringueiras um tanto negligenciada que o reverendo E. John Ipe tinha comprado de um vizinho. Uma porta ligando o escritório com a casa e outra (a entrada independente que Mammachi mandara instalar para que Chacko satisfizesse com discrição suas "Necessidades Masculinas") levava diretamente para o mittam lateral.

Sophie Mol estava dormindo no catrezinho de campanha feito especialmente para ela, ao lado da cama grande. O zumbido do ventilador do teto lhe enchia a cabeça. Olhos cinza-azulados azuis se abriram de súbito.

A Cordada. A Tenta.

A Lerta.

O sono sumariamente dispensado.

Pela primeira vez desde a morte de Joe, não era ele a primeira coisa em que pensava ao despertar.

Olhou o quarto em volta. Sem se mexer, só girando os olhos. Um espião capturado em território inimigo, planejando a escapada espetacular.

Sobre a mesa de Chacko havia um vaso de hibiscos desajeitadamente ajeitados, já murchando. As paredes cobertas de livros. Um armário com portas de vidro cheio de aeromodelos de madeira balsa danificados. Borboletas quebradas com olhos suplicantes. Esposas de madeira de um rei mau definhando por causa de um feitiço de madeira.

Presas.

Só uma, sua mãe, Margaret, tinha escapado para a Inglaterra.

O quarto girava em torno do calmo centro cromado do ventilador de teto prateado. Uma lagartixa bege, cor de biscoito mal assado, olhou-a com olhos interessados. Ela pensou em Joe. Alguma coisa agitou-se dentro dela. Ela fechou os olhos.

O calmo centro cromado do ventilador de teto prateado girou dentro de sua cabeça.

Joe sabia andar sobre as mãos. E quando descia a ladeira de bicicleta, sabia prender o vento dentro da camisa.

Na cama ao lado, Margaret Kochamma ainda dormia. Estava deitada de costas, com as mãos juntas logo abaixo das costelas. Os dedos inchados e a aliança de casamento parecendo incomodamente apertada. A pele das bochechas caía de cada


lado do rosto, fazendo os malares parecerem salientes, repuxando a boca para baixo num sorriso sem alegria que continha um mero lampejo de dentes. Havia depilado as sobrancelhas, antes grossas, na forma de arcos finos como um risco de lápis, atualmente em moda, que lhe davam um ar de ligeira surpresa, mesmo no sono. O resto de suas expressões estava nascendo outra vez na forma de pequenas pontas pretas. Tinha o rosto afogueado. A testa brilhava. Debaixo do vermelho, havia uma palidez. Uma tristeza adiada.

O Deus das pequenas coisasWhere stories live. Discover now