Ele continuava a chamar-me nomes, todos aqueles que se ia lembrando, enquanto eu me preocupava com o meu joelho magoado.
-Importas-te de parar com isso?- perguntei-lhe irritada.
-Obvio que me importo! Tens noção da tamanha estupidez que fizeste?
-Eu queria falar contigo, eu preciso de falar contigo.
-E para isso mandaste-me ao chao?
-Tu estavas a fugir de mim!- a minha frustração ja se estava a tornar visível no meu tom de voz.
-Porque ao contrário de ti, nao quero falar contigo.
Senti-me ofendida em certa parte, e voltei para onde estava antes de o ver, a coxear. Para melhorar a minha vida, a replica do espelho tinha desaparecido. Como estava com imensas dores deixei-me ficar sentada no chao à espera que aquilo voltasse a aparecer.
Dava tudo para que tivesse comigo o meu telemóvel e os fones, mas nesta dimensão nem rede deve haver. Que porcaria!
-Posso me sentar?- uma voz interrompeu os meus pensamentos deprimentes. O tal rapaz que mandei ao chao.
-Faz o que quiseres...- encolhi os ombros.
Alguns minutos de silencio se instalaram entre nós, mas ele decidiu quebrá-lo.
-Estás muito aleijada?
Segui o seu olhar para perceber do que ele estava a falar, e reparei que inconscientemente estava a esfregar o meu joelho, tentando eliminar a dor.
-Que te parece?
-Eu sei que foi uma pergunta estúpida, so queria fazer conversa.
-Ah! Agora ja queres falar, é?
-Fui parvo contigo, mas tu também nao me tinhas de mandar ao chao!
-Ok, como queiras...
-Posso saber, ao menos, o teu nome?
-Madison, e tu?
-Seth.
-Nome interessante.
-Porquê?
-Porque nao tem abreviaturas, e é pouco comum ouvir-se esse nome.
-Realmente, mas eu também sou pouco comum.
-Menos, por favor- revirei os olhos, pois odiava pessoas que se "auto-elogiam".
-Desculpa, apenas pensei que achasses engraçado.
-Pensaste mal então.
-Também escusas de ser assim- ele levantou-se e começou a caminhar, afastando-se de mim.
-Seth!
-O que queres?- perguntou enquanto retornava para o sitio onde eu estava, e dava a sensação que carregava quilos de qualquer coisa sobre os ombros.
-Nao me deixes sozinha...
Ambos ficámos chocados com aquilo que eu acabara de dizer. Porque raios havia eu de querer a companhia de alguém que conhecia à meros minutos? Talvez, porque ele era a unica pessoa ali que me conseguia ver, e eu sentia-me bastante sozinha.
Sem me responder ou fazer algum comentário, sentou-se ao meu lado.
-Queres que te trate do joelho?
-És medico?
-Não.
-Enfermeiro?
-Madison, tenho apenas 17 anos e nao dava para nenhuma dessas profissões.
A forma como ele falava comigo, parecia que nos conhecíamos ha imenso tempo, encantava-me... Mas será isto realidade? Nao me posso esquecer que entrei dentro de um espelho, escorreguei por um túnel psicadélico e vim parar a um mundo onde as pessoas atravessam os corpos umas das outras.
-Então como queres tratar de uma coisa se nao sabes como fazê-la?
-Mas eu sei!
-Ok... Então, se nao es nem medico nem enfermeiro e tens apenas 17 anos, que raio és tu?
-Sou jogador de futebol.
-Mas vocês não marcam só golos?
-Sabes...- disse como se fosse ensinar uma parede a ler os "Lusíadas"- Os jogadores lesionam-se frequentemente nos jogos, e é bom que a sua equipa saiba assisti-lo, mas apenas se for uma coisa mínima.
-Ah! Ja percebi.
-Posso tentar?
-Tenho medo do que me possas fazer.
-Nao te consigo violar a perna.
Fiquei chocada de inicio, mas depois percebi que ele estava apenas a brincar, e acabei por me rir do seu riso.
Ele levantou-se, pegou na minha perna e fez alguns movimentos com a mesma, acabando por estala-la e provocando-me uma dor excruciante naquela área.
Com a dor, gritei. Reparei que Seth olhava para mim confuso e, de repente tudo se misturou como se eu estivesse em cima de um tornado a observar tudo aquilo a ser sugado.
Uma luz forte demais incidiu na minha cara, fazendo com que eu fechasse os olhos.
Quando os abri... Ali estava eu, de novo no meu quarto, com a minha cabeça feita num oito, e a capacidade de distinguir o real do imaginário inexistente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Other Side (of yourself)
RandomI thought that the earth was the only place where living people exist, like everybody does. But the truth is that I was completely wrong. And was that mirror who showed me the other perspective of the reality. My life has changed since the day that...