Part V- "Seth"

25 2 0
                                    

Ele continuava a chamar-me nomes, todos aqueles que se ia lembrando, enquanto eu me preocupava com o meu joelho magoado.

-Importas-te de parar com isso?- perguntei-lhe irritada.

-Obvio que me importo! Tens noção da tamanha estupidez que fizeste?

-Eu queria falar contigo, eu preciso de falar contigo.

-E para isso mandaste-me ao chao?

-Tu estavas a fugir de mim!- a minha frustração ja se estava a tornar visível no meu tom de voz.

-Porque ao contrário de ti, nao quero falar contigo.

Senti-me ofendida em certa parte, e voltei para onde estava antes de o ver, a coxear. Para melhorar a minha vida, a replica do espelho tinha desaparecido. Como estava com imensas dores deixei-me ficar sentada no chao à espera que aquilo voltasse a aparecer.

Dava tudo para que tivesse comigo o meu telemóvel e os fones, mas nesta dimensão nem rede deve haver. Que porcaria!

-Posso me sentar?- uma voz interrompeu os meus pensamentos deprimentes. O tal rapaz que mandei ao chao.

-Faz o que quiseres...- encolhi os ombros.

Alguns minutos de silencio se instalaram entre nós, mas ele decidiu quebrá-lo.

-Estás muito aleijada?

Segui o seu olhar para perceber do que ele estava a falar, e reparei que inconscientemente estava a esfregar o meu joelho, tentando eliminar a dor.

-Que te parece?

-Eu sei que foi uma pergunta estúpida, so queria fazer conversa.

-Ah! Agora ja queres falar, é?

-Fui parvo contigo, mas tu também nao me tinhas de mandar ao chao!

-Ok, como queiras...

-Posso saber, ao menos, o teu nome?

-Madison, e tu?

-Seth.

-Nome interessante.

-Porquê?

-Porque nao tem abreviaturas, e é pouco comum ouvir-se esse nome.

-Realmente, mas eu também sou pouco comum.

-Menos, por favor- revirei os olhos, pois odiava pessoas que se "auto-elogiam".

-Desculpa, apenas pensei que achasses engraçado.

-Pensaste mal então.

-Também escusas de ser assim- ele levantou-se e começou a caminhar, afastando-se de mim. 

-Seth!

-O que queres?- perguntou enquanto retornava para o sitio onde eu estava, e dava a sensação que carregava quilos de qualquer coisa sobre os ombros.

-Nao me deixes sozinha...

Ambos ficámos chocados com aquilo que eu acabara de dizer. Porque raios havia eu de querer a companhia de alguém que conhecia à meros minutos? Talvez, porque ele era a unica pessoa ali que me conseguia ver, e eu sentia-me bastante sozinha.

Sem me responder ou fazer algum comentário, sentou-se ao meu lado.

-Queres que te trate do joelho?

-És medico?

-Não.

-Enfermeiro?

-Madison, tenho apenas 17 anos e nao dava para nenhuma dessas profissões.

A forma como ele falava comigo, parecia que nos conhecíamos ha imenso tempo, encantava-me... Mas será isto realidade? Nao me posso esquecer que entrei dentro de um espelho, escorreguei por um túnel psicadélico e vim  parar a um mundo onde as pessoas atravessam os corpos umas das outras.

-Então como queres tratar de uma coisa se nao sabes como fazê-la?

-Mas eu sei!

-Ok... Então, se nao es nem medico nem enfermeiro e tens apenas 17 anos, que raio és tu?

-Sou jogador de futebol.

-Mas vocês não marcam só golos?

-Sabes...- disse como se fosse ensinar uma parede a ler os "Lusíadas"- Os jogadores lesionam-se frequentemente nos jogos, e é bom que a sua equipa saiba assisti-lo, mas apenas se for uma coisa mínima.

-Ah! Ja percebi.

-Posso tentar?

-Tenho medo do que me possas fazer.

-Nao te consigo violar a perna.

Fiquei chocada de inicio, mas depois percebi que ele estava apenas a brincar, e acabei por me rir do seu riso. 

Ele levantou-se, pegou na minha perna e fez alguns movimentos com a mesma, acabando por estala-la e provocando-me uma dor excruciante naquela área.

Com a dor, gritei. Reparei que Seth olhava para mim confuso e, de repente tudo se misturou como se eu estivesse em cima de um tornado a observar tudo aquilo a ser sugado.

Uma luz forte demais incidiu na minha cara, fazendo com que eu fechasse os olhos.

Quando os abri... Ali estava eu, de novo no meu quarto, com a minha cabeça feita num oito, e a capacidade de distinguir o real do imaginário inexistente.

The Other Side (of yourself)Onde histórias criam vida. Descubra agora