(de)composição

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Não sei onde estou.
Há um monte de corpos nus que flutuam perante mim e não os vejo. Uma calamidade de silhuetas de traços carregados, olhar mortífero.
Todas as linhas estão demasiado turvas e submerjo nelas. Lentos são toques que recaem sobre o meu corpo e me petrificam.
Não sei onde estou.
As tonturas tornam cada linha mais turva, menos nítida; que bonitas.
Não consigo alcançar o fim da multidão mas também é indiferente. Estou tranquilamente feliz, não o sinto.
A cadeira de madeira onde me sento range a cada piscar de olhos que dou.
Tocam-me minuciosamente e eu, já sem controlo algum de mim mesma, sinto cada poro de cada corpo com mais deslumbramento que o anterior.
É tudo tão belo e mal me consigo aperceber disso.
Não sei onde estou.

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