Capítulo 2 (O encontro)

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Assim que ouviu a voz logo acima da posição na qual se encontrava, por um momento George pensou que estava tendo alucinações, ou talvez já estivesse morto, afinal, sempre dizem que não se sente nada ao morrer, e quando menos se espera, você já se foi. Por isso, ele permaneceu de olhos fechados, com certo medo de descobrir onde de fato ele poderia estar.

—Eu já disse que não faria isso se fosse você. —a voz disse novamente.

Surpreso com a insistência, George abriu seus olhos e viu sobre a plataforma uma jovem que estava inclinada para vê-lo melhor. Não devia ter mais que 28 anos, embora aparentasse menos. Era bastante bonita, tinha longos cabelos negros com uma mecha azul, usava apenas jeans e uma camiseta com estampa do Iron Maiden, além de estar usando um batom vermelho, que destacaria qualquer um na multidão, especialmente ela que tinha a pele clara, quase pálida.

—Seja você quem for, vá embora!—George disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça—Eu não quero testemunhas perto de mim.

—Esse é o problema, cara. —a jovem desceu da plataforma e ficou em pé perto dos trilhos—Eu já sou uma testemunha.

—O que diabos você está fazendo?—George se exaltou quando ela andou em sua direção—Não está vendo que o trem está vindo?

—Eu acho que você ainda não entendeu a situação. —ela disse de maneira calma — Se eu der as costas e for embora, vou ser cúmplice de um crime e poderei até ser presa por isso.

—Você bebeu alguma coisa, ou só usa drogas mesmo?—George se exaltou ainda mais ao ver a proximidade do trem — Vá embora antes que se machuque!

—Eu não posso ir embora. —ela disse com convicção—Já estou envolvida demais para fazer outra coisa senão...

Antes de completar a frase, ela se abaixa e deita rapidamente ao lado dele sobre os trilhos, já ouvindo o apito do trem que agora demoraria pouco mais de um minuto para chegar. Tudo isso, ela fez com a maior naturalidade do mundo, o que só foi deixando George ainda mais nervoso.

—Você é louca ou o quê?—gritou se virando para ela.

—Diz o cara que está deitado sobre os trilhos, esperando que o trem passe por cima dele. —ela respondeu calmamente—Eu já disse que não vou ser testemunha disso e simplesmente não posso ir embora. Sendo assim, vou te fazer companhia. Quem sabe se a gente chegar junto no além, não ganha um desconto na passagem.

—Olha, menina, eu não estou brincando. Eu demorei muito tempo para tomar essa decisão e não vai ser uma estranha que vai me fazer mudar de ideia.

—Não seja por isso. —ela lhe estendeu a mão, ainda deitada ao seu lado— Sou Emma York, muito prazer em conhecê-lo.

—Se você não sair agora, vai morrer junto comigo. —George empurrou a mão dela— Está disposta a morrer por um estranho?

—Não somos mais estranhos, eu já me apresentei. Só falta você dizer o seu nome e viramos amigos de uma vez.

—Isso é um castigo, meu Deus?—George resolve gritar o mais alto que pôde para os céus, enquanto via que no máximo em 30 segundos, os dois estariam mortos— Eu sou George. Agora suma daqui!

—Eu não posso, George. Jamais deixaria um amigo na mão, mas foi muito bom tê-lo em minha vida.

—Nos conhecemos há dois minutos, Emma.

—Já parece uma eternidade para mim, mas de qualquer forma, eu acho que é para lá que estamos indo agora, George.

Ao ver a aproximação latente do trem, George não acredita no que estava acontecendo bem diante de seus olhos. Emma estava deitada com toda a tranquilidade do mundo. Tudo o que ele queria era morrer em paz, e agora vinha uma louca qualquer que se deitava ao lado dele e estava disposta a morrer junto com ele. Sentindo a vibração que já tomava conta dos trilhos, George dá um último suspiro e num salto se levanta, puxando Emma consigo e a encostando na parede da plataforma, enquanto o trem passa por eles a toda velocidade, não acertando os dois por apenas um triz.

Depois que o trem para, não muito distante dali, George se dá conta que eles estavam próximos demais, logo que passa a sentir a respiração de Emma em seu rosto e olha diretamente nos olhos verdes dela. Olhos, que ele notou que transmitiam uma doçura que há muito não via em ninguém, lhe transmitindo uma paz que há muito não sentia. Mas, ele acaba sendo despertado dos seus pensamentos, quando o apito do trem soa ao parar de uma vez um pouco mais à frente. Nesse momento, ele descola-se do corpo de Emma, afastando-se o máximo que conseguia.


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