Capítulo 3 (A Salvadora)

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George não estava conseguindo mais pensar direito, tudo que ele mais queria naquele momento era ir o mais longe que conseguisse daquela maluca. Ele não poderia se permitir sentir o que sentiu. Por poucos instantes, ao ter o calor do corpo de Emma ao seu, ele se sentiu bem, e isso jamais poderia estar certo, afinal por mais louco que pudesse parecer, ele não seria capaz de trair Melissa. Ela poderia estar morta para muita gente, mas para ele, ela sempre estaria viva em seu coração.

Ele nem sequer percebeu para que lado estava andando, simplesmente usou os trilhos como referência e foi seguindo o caminho férreo, num caminhar cada vez mais rápido, numa tentativa de fuga. Mas fuga de quê? Talvez de si mesmo. Enfim, o que ele queria era ficar a léguas de distância daquela maluca. Quem ela pensava que era? Como se atreveu a salvar uma vida que não tinha mais salvação? Para que resolveu se meter num problema que não era seu? Eram muitas perguntas e ele só conseguia encontrar uma resposta, ela devia ter escapado de algum hospício por ali por perto.

—Sabe que para um cara mais velho, você até que anda bem rápido.

George ficou estático ao se virar e notar que Emma o estava seguindo. Não bastava ter atrapalhado seus planos, ela ainda tinha que ficar perseguindo ele? O que houve com o direito de ir e vir sem ser incomodado, afinal?

—O que diabos você está fazendo aqui?—pergunta já sem muita convicção.

—Sabe, George, eu entendo que somos amigos e até temos uma certa intimidade, afinal, quantas pessoas podem dizer que quase se suicidaram juntas? Creio que bem poucas... ou nenhuma, se você considerar que elas podem ter conseguido se suicidar—ela para na frente dele, com as mãos nos bolsos de trás de sua calça— Mas você parece gostar um pouco demais da palavra com 'd', não acha?

—Mas, do que diabos você está falando?

—Viu, George? Foi o que eu acabei de dizer, você parece mesmo gostar da palavra com 'd'. Não que não seja divertido falar de vez em quando, mas você devia ampliar seu vocabulário.

—Escuta aqui, garota!—George segura o braço dela com certa força— Você já fez a sua boa ação do dia. Agora vai procurar outro idiota para encher o saco e vê se me deixa em paz de uma vez por todas!

—Em primeiro lugar... —se desvencilha do apertão dele— Eu não sou nenhuma garota. Para o seu governo já tenho 29 anos, recém-completados e sou bastante independente. Além do mais, as coisas não funcionam assim.

—As coisas. De que coisas você está falando?—George começa a gritar, ainda parado sobre os trilhos— Por um acaso você acordou disposta a encontrar a primeira pessoa que visse e transformá-la numa cobaia para perseguição? Que parte do me deixa em paz, você não entendeu?

—Antes de mais nada, você não me deixou terminar de falar, o que quer dizer que ainda precisa aprender a ter bons modos, George. Mas vamos direto ao ponto, que tal conversarmos um pouco mais para lá, onde o trem não possa passar por cima da gente?

—Então é com isso que está preocupada? Que eu tente me matar de novo? Você por um acaso é assistente social ou algo do tipo, garota?

—Que tal parar de me chamar de garota e falar meu nome, George. Sei muito bem que você lembra. Já em relação a minha carreira, não sou assistente social, mas vai que algum dia eu me torne uma. Fora isso, eu odiaria ter sujado o meu jeans à toa, ao ver você caminhar para a morte novamente.

—Alguém já te disse que você é meio melodramática, Emma?

—Algumas pessoas, mas ouvir isso do cara que queria ter seus miolos espalhados sobre os trilhos de um trem não dá muita credibilidade.

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⏰ Última atualização: Feb 21, 2016 ⏰

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