Marilia de Dirceo

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MARILIA DE DIRCEO ***

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MARILIA DE DIRCEO.

MARILIA DE DIRCEO.

POR T.A.G.

PRIMEIRA PARTE.

LISBOA:

Na Typ. de J.F.M. de Campos. 1824.

MARILIA DE DIRCEO.

LYRA I.

Eu, Marilia, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado, De tosco trato, de expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóes queimado. Tenho proprio casal, e nelle assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite, Das brancas ovelhinas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marilia bella, Graças á minha Estrella!

Eu vi o meu semblante n'uma fonte, Dos annos inda não está cortado: Os Pastores, que habitão este monte, Respeitão o poder do meu cajado. Com tal destreza toco a sanfoninha, Que inveja até me tem o proprio Alceste: Ao som della concerto a voz celeste; Nem canto letra que não seja minha. Graças, Marilia bella, Graças á minha Estrella!

Mas tendo tantos dotes da ventura, Só aprêço lhes dou, gentil Pastora, Depois que o teu affecto me segura, Que queres do que tenho ser Senhora. He bom, minha Marilia, he bom ser dono De hum rebanho, que cubra monte, e prado Porém, gentil Pastora, o teu agrado Vale mais [~q] h[~u] rebanho, e mais [~q] h[~u] throno. Graças, Marilia bella, Graças á minha Estrella!

Os teus olhos espalhão luz divina, A quem a luz do Sol em vão se atreve: Papoila, ou rosa delicada, e fina, Te cobre as faces, que são côr da neve. Os teus cabellos são huns fios d'ouro; Teu lindo corpo balsamos vapora. Ah! não, não fez o Ceo, gentil Pastora, Para gloria de Amor igual Thesouro. Graças, Marilia bella, Graças á minha Estrella!

Leve-me a sementeira muito embora O rio sobre os campos levantado: Acabe, acabe a peste matadora, Sem deixar huma rez, o nedeo gado. Já destes bens, Marilia, não preciso: Nem me céga a paixão, que o mundo arrasta, Para viver feliz, Marilia, basta Que os olhos movas, e me dês hum riso. Graças, Marilia bella, Graças á minha Estrella!

Hirás a divertir-te na floresta, Sustentada, Marilia, no meu braço; Aqui descançarei a quente sésta, Dormindo num leve somno em teu regaço: Era quanto a luta jogão os Pastores, E emparelhados correm nas campinas, Toucarei teus cabellos de boninas, Nos troncos gravarei os teus louvores. Graças, Marilia bella, Graças á minha Estrella!

Depois que nos ferir a mão da Morte Ou seja neste monte, ou n'outra serra, Nossos corpos terão, terão a sorte De consumir os dous a mesma terra. Na campa, rodeada de cyprestes, Leráõ estas palavras os Pastores: "Quem quizer ser feliz nos seus amores, Siga os exemplos que nos derão estes" Graças, Marilia bella, Graças á minha Estrella!

LYRA II.

Pintão, Marilia, os Poetas A hum menino vendado, Com huma aljava de settas, Arco empunhado na mão: Ligeiras azas nos hombros, O tenro corpo despido; E de Amor, ou de Cupido São os nomes que lhe dão.

Porém eu, Marilia, nego, Que assim seja Amor; pois elle Nem he moço, nem he cégo, Nem settas, nem azas tem, Ora pois, eu vou formar-lhe Hum retrato mais perfeito, Que elle já ferio meu peito; Por isso o conheço bem.

Os seus compridos cabellos; Que sobre as costas ondeão, São que os de Apollo mais bellos; Mas de loura côr não são. Tem a côr da negra noite; E com o branco do rosto Fazem, Marilia, hum composto Da mais formosa união.

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⏰ Última atualização: Mar 16, 2008 ⏰

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