Capítulo 5- Desculpas e pesadelos

22 5 0
                                    

Percebi que o homem continuava me seguindo e desejei nunca ter saído da boate. Aquela sensação de estar sendo seguida era horrível e minhas mãos começaram a soar frio. Olhei pelo canto esquerdo do olho na direção do chão e vi que a sombra estava quase chegando em mim. Apressei o passo, mas antes de conseguir andar fui agarrada pelo homem. Ele era alto de cabelos castanhos e olhos azuis muito claros e usava uma jaqueta preta de algo que parecia ser couro e calças jeans claras. Ele agarrou o braço e me virou fazendo nossos olhos se encontrarem. Não sei dizer o que havia nos olhos dele naquele momento, mas não era ódio.
- O que uma moça tão bonita faz sozinha na rua uma hora dessas?
- Eu só estava indo para casa.
- Quer companhia? Uma mulher tão bonita não pode andar sozinha assim, desprotegida.
- Não, obrigada. Eu estou bem.
Tento soltar o meu braço mas ele me puxa, não permitindo a minha fuga.
- Você poderia me soltar?
- Claro, princesa. Mas só depois que você me der um beijo.
- Não vou te beijar! Eu nem te conheço e você está completamente bêbado!
- Que isso gatinha. Vai me dispensar assim?
- Por favor, me solte.
Digo sentindo as lágrimas quentes escorrerem pelo meu rosto.
- Eu já disse. Só depois que você me beijar.
Em um gesto rápido ele segura minha cabeça com a outra mão e começa e me beijar. Eu tento empurra-lo em vão. Na tentativa de me manter próxima a ele, meu vestido é puxado pela mão que antes estava em meu braço e o vestido acaba rasgando e eu caio no chão somente com roupas íntimas. Ele me diz que não me livrarei rápido dele e então ele vai atrás de mim no chão. Como se por um reflexo minha mão atingiu seu rosto estalando em um grande tapa. Enquanto ele se recuperava do tapa consegui me sentar e tentei sair dali, porém ele agarrou minha perna e me puxou para seu encontro. Quando olhei para ele novamente só consegui sentir uma dor alucinante em meu olho direto. Ele havia me dado um soco! Com o forte impacto e minha fragilidade acabei caindo no chão completamente sem rumo. Me esforcei para não desmaiar e acabei sentindo uma aproximação e logo depois ouvi o barulho de alguns tapas. Fiz um grande esforço e depois de algum tempo consegui me virar no chão gelado da rua. Quando as formas ganharam vida em minha frente vi Gabriel batendo em meu agressor. Assim que o homem caiu desacordado no chão ele veio até mim sem tirar os olhos do homem para ter certeza de que ele não o pegaria pelas costas.
- Você está bem? Está muito machucada?
- Por favor me tira daqui.
- Claro que sim. Vem comigo.
Ele tirou sua camisa e a vestiu em mim. Me ajudou a levantar e me levou até a sua casa. Sua família estava viajando então ficamos sozinhos. Ele foi pegar um saco de gelo para colocar no meu olho e um copo com água para mim. Enquanto ele fazia isso eu me levantei e fui até o banheiro onde me espantei pelo roxo em meu olho. Ele estava completamente inchado e em um tom quase negro. Assim que vi aquela cena cheguei a ficar tonta e quando achei q iria cair no chão Gabriel me segurou e me levou até sua cama onde colocou o gelo no meu olho inchado e me deu a água. Só naquele momento, sentada em sua cama e somente com a companhia dele, tive a certeza de que estava segura e que nenhum mal conseguiria me atingir ali. Naquele quarto eu encontrei meu próprio refúgio particular. Gabriel me fez prometer que jamais brigariamos de novo. E com medo do que pudesse me acontecer da próxima vez, ou pior, o que pudesse acontecer com ele, eu prometi. Depois de nossa promessa ele me deu um abraço forte e como sempre muito apertado. Ficamos abraçados até quase morrermos de calor. Ele arrumou uma cama pra mim no chão e me emprestou um pijama da sua irmã para que eu dormisse lá.
Eu acordei a noite inteira por ter pesadelos horríveis com o homem de penetrantes olhos azuis. Por volta das três da manhã tive o pior deles. Acordei gritando e chorando o que assustou Gabriel, achando que havia acontecido alguma coisa grave comigo. Ao me ver em desespero por outro pesadelo se deitou ao meu lado me abraçando como uma mãe faz com uma criança assustada. Naquele momento percebi o quanto eu era frágil e o quanto Gabriel fazia essa sensação parecer mais forte dentro de mim, como se precisasse se proteção o tempo todo. Em seus braços eu conseguia enchergar toda essa proteção, mas não queria precisar de ninguém. Muito menos dele. Porém ele tinha algo a mais, algo que me fazia quere-lo a cada segundo mais perto de mim. Como se meu corpo precisasse dele e parecia que ele também sentia isso.
---------------------------###----------------------------
Gabriel
Acordei no meio da noite com os gritos de Ana. Ela estava tão indefesa ali, do meu lado que decidi abraça-lá como se eu fosse seu pai. Naquela hora senti algo diferente que não sei explicar. Não parecia ser pena ou algo do tipo. Só sei que naquele momento quando olhei para os olhos molhados de Ana, percebi o quanto ela precisava de mim, tanto para protegela quanto para amá-la. E ali, naquele instante percebi que queria beijá-la. Mas pelo que ela havia passado apenas poucas horas atrás deixei esse pensamento passar despercebido. Após alguns minutos chorando em meus braços ela dormiu, simplesmente adormeceu como um anjo depois de tudo que havia passado. Ela não gritou mais naquela noite. Não precisei acordar de novo naquela quente madrugada. Também adormeci como ela só acordando depois das dez horas da manhã para levá-la em casa e deixar que ela esquecesse de tudo por conta própria. Deixá-la sozinha naquele momento foi um decisão muito difícil. Mas senti que ela precisava passar com isso sozinha, pois eu não estaria ao seu lado para sempre.
Quando a vi sorrir ao se despedir de mim vi que ela não merecia todo aquele escândalo ontem na boate. Que ela conseguiria ser dona do próprio nariz se quisesse, mas ela não queria. Ela queria aventuras e alguém que fosse capaz de delas a ela. E se aquele rapaz que ela conheceu conseguisse fazer isso por ela, por que eu iria brigar? Eu iria deixar ela viver a própria vida, fazer as próprias escolhas. E eu? Faria a mesma coisa.

Aconteceu em DezembroOnde histórias criam vida. Descubra agora