- Ana? É você?
Me dirijo até a cama dele em silêncio e me sento ao seu lado.
- Sim, sou eu.
- Eu não esperava te ver aqui.
- Eu sei disso.
Sem pensar duas vezes eu o abraço e sou correspondida por um de seus maravilhosos abraços, dessa vez sem tanta força pelo seu estado debilitado. Não sei dizer ao certo por quanto tempo nosso abraço ficou ali congelado, mas foi por bastante tempo.
- Ana, o que você está fazendo aqui?
- Ouvi que você estava com pneumonia e vim te visitar, estava com saudades.
- Como você soube?
- Eu voltei pra RFV e como não te vi resolvi perguntar para a Samantha onde você estava.
- À quanto tempo você voltou para a RFV?
- Voltei hoje.
- E logo de cara percebeu minha ausência?
- Sim. Como vi sua irmã e não te vi achei que havia acontecido alguma coisa. Aliás, foi ela que me disse em qual quarto você estava.
- Você está aqui comigo a muito tempo?
- Não, cheguei uns cinco minutos antes de você acordar.
- Alguma novidade?
- Não, tudo na mesma. E você? Como você está?
- Estou melhorando, são muitos medicamentos por isso tenho dormido bastante.
- Eu senti sua falta.
- Eu senti mais ainda, você faz muita falta nas manhãs daquela escola. Por que não me mandou mensagens?
- Sinceramente, eu não sei. Mas você também não enviou nenhuma.
- Eu estava esperando você sentir minha falta.
- Eu estava sentindo e muita. Mas o ano foi corrido demais.
- Eu te vi na rua a uns meses atrás.
- Por que não foi falar comigo?
- Porque você rodeada de amigas e não queria atrapalhar.
- Você sabe que jamais atrapalha.
- Por que você está tremendo? Está com frio?
- Um pouco.
- Pega um pedaço da minha coberta.
- Não, você precisa mais dela do que eu.
- É uma ordem.
- Tudo bem então.
Ficamos ali conversando durante horas e não sei quanto tempo depois acabamos adormecendo na cama do hospital abraçados pelo frio do ar condicionado. Não tive medo de pegar a doença dele pois eu raramente ficava doente.
Quando acordei ainda estava abraçada com ele e recebia cafuné na cabeça embora ele estivesse dormindo. Peguei meu celular e ao olhar as horas vi que eram quase meia noite, a essa hora não passavam ônibus perto do hospital e eu não tinha dinheiro para o táxi. Enviei uma mensagem pra minha mãe dizendo que iria dormir na casa da Jéssica.
Com todo cuidado para não fazer barulho sai do abraço de Gabriel e desci da cama para ir até as enfermeiras para pedir um cobertor. Assim que o peguei voltei para o quarto me deitando no sofá para visitas. Só acordei no outro dia com o sol batendo em meu rosto e me lembrei que tinha que ir para a aula. Peguei minha bolsa fui até a cama onde Gabriel ainda dormia e lhe dei um beijo na bochecha. Quando estava quase fechando a porta ouvi ele acordar.
- Já vai, Ana?
- Tenho que ir, é terça e tem aula.
- Você vai voltar?
- Claro que sim.
- Então até mais.
- Até.
Dei um último abraço nele e saí em direção aos elevadores. Corri para pegar o ônibus e ir em casa tomar um banho, comer alguma coisa e ir para a escola. Eram seis e dez da manhã e eu entrava às oito então ainda tinha um bom tempo para me arrumar. Vi que haviam várias mensagens em meu celular, entre elas da minha mãe:
"Tudo bem, filha. Eu tive que viajar até o Rio a trabalho e só devo voltar somente em um mês pois meu chefe está com um número de funcionários muito reduzido. Te amo minha princesa."
As outras eram de minhas amigas querendo saber onde eu estava pois havia sumido o dia todo. Respondi que tinha ido ao hospital ver um antigo amigo que logo elas conheceriam. Jéssica me respondeu a mensagem quase que instantaneamente:
"É aquele tal Gabriel que você sempre fala?"
Respondi que sim e fui me arrumar. Coloquei uma calça jeans, tênis all star pretos de cano alto e uma regata preta. Amarrei um casaco na minha cintura e fui até a cozinha comer alguma coisa. Como já eram sete e meia não daria tempo de uma refeição muito elaborada, então peguei uma maçã e fui comendo enquanto procurava dinheiro para passar o dia.
Fui para a escola e como sempre passei o dia rodeada de amigos, mas quem eu realmente queria que estivesse lá não estava. Minha manhã passou bem rápido e já era pouco mais de meio dia quando fomos liberados. Geralmente nossa saída acontece às duas e meia porém naquele dia o professor de Geometria havia faltado, nos fazendo ser liberados duas horas mais cedo.
Saí da escola correndo como sempre fazia por causa de pegar o ônibus mas hoje meu destino não era o ponto. Perto da minha escola havia uma loja de brinquedos e foi pra lá que eu corri. Procurei por jogos de tabuleiro e baralhos. Saí de lá com dois jogos de tabuleiro e três jogos de cartas diferentes. De lá passei no Mc Donald's e pedi dois lanches grandes para a viagem.
Cheguei no hospital e novamente subi para o quarto 501, ao entrar no quarto vi Gabriel sentado na cama. Ao me ver abriu mais um de seus imensos sorrisos.
- Você veio!
- Eu disse que iria voltar.
- O que são essas sacolas?
- Trouxe umas coisas pra gente se divertir. Já almoçou?
- Não.
- Ótimo, eu trouxe seu lanche preferido. Três carnes e dois queijos, acertei?
- Em cheio!
Me sentei ao seu lado e comemos nossos lanches fazendo o favor de sujar um ao outro com o ketchup. Depois de quarenta intermináveis minutos comendo e tentando limpar a sujeira que fizemos com o ketchup finalmente acabamos. Eu gosto de dormir depois de almoçar mas decidi não fazer isso hoje e perguntei o que ele gostaria de fazer: jogar os jogos que eu havia trago ou ver televisão. Obviamente a resposta foi a televisão pois estava passando um jogo futebol, era a final e ele queria muito ver. Como não sou fã de futebol acabei dormindo e só acordei com a comemoração dele pois seu time havia ganhado e acabei brigando com ele por ter me acordado. Ele pediu desculpa e perguntou se eu estava disposta a jogar algum dos jogos. Eu disse que sim e deixei que ele escolhesse qual queria primeiro. Ficamos o resto da tarde jogando e quando já eram quase seis horas da tarde os pais e a irmã dele chegaram no hospital para trazer pizza e eles comerem juntos. Quando entraram no quarto tomaram um susto por ver o filho acompanhado, mas logo me reconheceram e me cumprimentaram perguntando se eu não queria ficar e comer com eles. Eu disse que não pois tinha um compromisso e deveria ir embora.
- Gabriel, eu já vou indo.
- Você não vai mesmo ficar para comer com a gente?
- Fica, Ana! /Disse Luciana, sua irmã
- Não, Lu. Obrigada mas tenho que ir, a Megan está me esperando na casa dela.
- Então tá. Até amanhã na escola.
- Até.
Dei um abraço em Gabriel e recebi um beijo na bochecha como despedida, mas antes que eu saísse de seu abraço ele me disse baixinho:
- Eu te mando uma mensagem daqui a pouco.
- Ok. /Respondi em voz baixa
Me despedi de Luciana e dos pais de Gabriel. Ao fechar a porta atrás de mim ouvi risadas seguidas de animação para comer a pizza.
Me dirigi a um bar qualquer de esquina e pedi uma porção de batatas com coca. Assim que terminei de comer comecei a andar e encontrei um pequeno parque escondido atrás de umas árvores mal cortadas. Me sentei no balanço e fiquei lá durante algum tempo quando de repente meu telefone vibra. Quando olho a tela está escrito: "Mensagem de Gabriel". Desbloqueio rapidamente a tela e leio a seguinte mensagem:
"Eles já foram embora, guardei pizza pra você e tenho alguns filmes para a gente ver. Pode passar aqui?"
Respondo no mesmo segundo:
"Sim, estou a caminho."