Chapter 1 - The beginning

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Escrevo e apago. Escrevo e apago. À procura de escrever as palavras certas que transmitem o que eu sinto. Já não sei nada do que sinto.

Todos pensam que eu estou bem, mas o que realmente estão a ver é o meu desejo de estar bem. É o que me motiva, ver a felicidade das pessoas que me rodeiam, na esperança que um dia ela chegue até mim.

Não quero voltar para aquela depressão, não me quero cortar mais, mas é como um vício; quero sempre mais e mais, sentir aquela dor à flor da pele que acalma um pouco, por breves momentos, a da minha alma. Chego-me a rir quando o faço; ao ver a lâmina a passar na minha pele e a deixar um rasto de sangue, nem sei porque. Nunca ninguém entenderia se soubesse.

Para ele fui mais uma.... Felizmente consegui esquecer aquele poço de desilusão! Porque é que as pessoas teimam em não expor os seus sentimentos? Engraçado que falo mesmo sendo uma dessas pessoas.

Tanta merda que já fiz, nem sei aonde é que vou arranjar forças para me levantar todas as manhãs se, às vezes, a minha vontade é a de dormir para nunca mais acordar, "o sono eterno".

Tenho de parar de pensar na felicidade das outras pessoas e começar a pensar em mim própria.

Quando serei eu feliz? Quando?

O meu nome é Lilith, tenho 19 anos e basicamente vivo da minha voz, o meu dom. Sou de Portugal, mas mudei-me para Londres há relativamente pouco tempo. Tenho cabelo loiro, olhos azuis mas nada de perfeito.

— Lilith, vem cá! – uma voz masculina vinda do piso de baixo chama-me e apresso-me a descer e a procurar em todas as divisões encontrando-o na sala. A minha oportunidade de ser feliz com ele se encontrava e esvanecera há algum tempo.

Ele estava sentado no meu sofá de pele preta a ver televisão no seu típico canal de séries criminais no qual ele é tão viciado que nem sei como se lembrou de me chamar. Estava com um ar sereno, mas relaxado ao mesmo tempo, o que me fez questionar sobre o seu temperamento.

— Diz Sam, não te podias levantar idiota? – solto uma risada para aliviar o ambiente entre nós.

Jake, diminutivo de Jacob, é o meu melhor amigo desde os nossos 10 anos. Desde que começámos a namorar com outras pessoas, a nossa relação complicou um pouco... Ele é alto, um pouco musculado, cabelo castanho curto e olhos verdes.

— Hmmm... não. – Faz aquele seu ar sarcástico – Só queria saber se estás bem. Senta-te aqui, não te quero sozinha por favor – sento me lentamente ao seu lado e dou-lhe a mão.

— Eu sei que fiz merda e que estás preocupado, mas não vai puder estar sempre comigo.

— Pois não, mas a Emma pode. Parece que ainda não entendeste a gravidade da situação.

— Eu não quero falar sobre isso Jake... – baixo a cabeça.

— Lilith, tu cortaste-te toda! Tentaste matar-te e tiveste internada! Enfrenta a realidade, sê forte, olha para os teus braços e diz me se gostas do que vês. – Uma lágrima escorre-lhe pela cara, eu limpo-a e abraço-o com carinho. – Eu não te quero perder Lil.

— Eu prometo que não me vais perder.

— Já prometeste isso antes não foi? – Afasta-se mostrando-se magoado – E depois foste embora de Portugal sem sequer te despedires.

— Desculpa Jake, um dia vais entender...

— Quando me contares sobre aquele dia, não é? – Desvio o olhar e as memórias sobem-me à cabeça.

— Acho que vou tomar um duche – dou-lhe um beijo na testa a medo e subo.

A dor é muita, na alma. Não sinto orgulho das cicatrizes que tenho nos braços, mas não consigo parar de as fazer.... Pego na lâmina escondida no estojo de primeiros socorros e corto-me no braço esquerdo escrevendo "DESCULPA". Mas a dor não quer passar, não desta vez. Sento-me contra a porta, deixando a água do chuveiro a correr, na esperança de tudo acabar.

— Eu sei que não estas no banho. – Ouço Emma, a minha melhor amiga, a bater à porta. – Deixa-me entrar. – Apenas desvio-me deixando-a abrir a porta – Que se passa princesa? – pega-me no braço – Não é assim que vais ter o perdão dele. Tens de lhe contar a verdade Lil. – Tenta me transmitir a sua calma.

Emma é calma, às vezes calma demais. Para mim é bom. Ao invés de gritar comigo por todos os meus erros, apoia-me tentando com que eu não ponha o pé em falso. Nem sempre resulta, porém.

Ela é alta, tem cabelo castanho e olhos azuis como os meus. Ela é bonita.

— Ele não precisa de saber! – levanto-me num sobressalto.

— Não é correto achares isso. Ele não sabe o que fez de errado! Ele está a tentar te recuperar – levanta-se também – pensa bem, sim Lilith?

— Vou sair. Não contem comigo para o jantar. – Ignoro tudo o que ela me diz.

Corro, corro e corro. Por estes caminhos onde nunca passei e que não me trazem recordação alguma. Porém, dou por mim a sentir como soubesse exatamente onde estou. Em casa. Os meus pensamentos estão cada vez mais confusos e negros a cada dia que passa...

Em que raio de mundo vivo, repleto de mentiras e traições??

Eu amo-te Lilith aquela frase invade o meu pensamento juntamente com todas as memórias daquele dia.

Menina estúpida que eu era ao acreditar que poderia ser feliz um dia que fosse. Como é que o melhor da minha vida se tornou no pior e mais sofrido?

Eu nunca voltarei a ser aquela menina dominadora e destemida que era. E a minha alma nunca vai curar. Tudo o que aconteceu tornou-me numa melhor fraca e deprimente.

Paro exausta no meio de um parque desconhecido. Não conseguia aguentar mais. Mandei-me para o chão de joelhos e comecei a chorar.

Sinto uma mão no meu ombro procurando me levantar.


Gone Too SoonOnde histórias criam vida. Descubra agora