Mais uma vez, meu braço endurecido e formigando pelo peso do meu corpo suado por cima dele durante a noite toda. Não consigo movê-lo, apenas observo meus dedos darem alguns sinais de vida e a sensação se espalhar pelo meu corpo. Sentir todo o sangue e seu fluxo escorrendo por minhas rodovias e tornando-se novamente vivo.
É estranha a visão dos outros sobre tudo, o mundo tinha que observar as pequenas coisas das mais consideráveis inúteis e apreciá-las. Como faço, com meu braço, agora neste meu paraíso chamado cama.
Tudo pode começar aqui mesmo, deitado; O mundo lá fora parece ser assustador, eu tenho o brilho nos meus olhos, eu tenho o sorriso que as moças e os rapazes querem ver a noite, no meio de uma... Festa. Bem, acho que nunca fui a uma para pessoas da minha idade. Aliás, tenho dezoito anos e finalmente estou indo para a faculdade.
Continuando, a cama é um bom exemplo de futuro, aqui eu posso viajar para qualquer paraíso artificial, conhecer um amor imaginário, chorar por lembrar de algo, me sentir seguro, me sentir livre, imortal, impenetrável...
...Ás vezes, eu gosto de me imaginar voando. Deitado nem sempre é tudo, não preenche os meus espaços, não suporta as minhas lacunas. E ninguém faz nada para mudar o sentimento de vazio. É realmente assim, aqui nesta cama eu já vivi mais que qualquer um lá do lado de fora. Talvez, não sei. Talvez eu nunca tenha saído. E se já, prefiro esquecer-me.
Exatamente, esquecer-me. Deixo-me partido em conjunções, em colapsos, em capsulas, em caos, em momentos. Me apego e pego todos eles, levando-os a um êxtase dentro de mim. Eternizo cada momento em que penso, em que vivo, em que sinto, em que respiro, para ver se me ressuscito. As notícias correm rápido, os rumores também, são homônimos, são fenômenos nada naturais. Eu me desconheço, quem afinal sou eu?!
Levanto, coço a cabeça, as costas, a perna, por cima da cueca... Sinto tudo. Somos frágeis, delicados, emotivos, ligeiramente solitários e tem alguns que desenvolvem essa técnica de forma sublime. É surpreendente ser assim, porém, o que é ser assim? Tenho diversas dúvidas, que nunca sei responder e que mesmo lendo milhares de livros por meses, ainda não sei dizer o que é amor ou o que é a dor.
Frio, calculista, psicopata, sociopata, serial killer, viciado, assassino, monstro, bandido, bom rapaz, singelo... Em quais desses termos ou nomes eu me encaixo? Como será que alguém me vê? E será que é possível não ser invisível?
Tolice. Minha avó consegue me ver, ela está agora defronte a mim, com sua bíblia na mão, rogando para que eu fosse à Igreja com ela. E claro, disse não. Ela deu os ombros, juntou seus braços magros ao corpo minúsculo e andou em minha direção, beijou-me a testa e disse: "-Faz parte da vida ser a gente, um dia você vai sair e ver que o céu é azul, do mais claro azul. E lembre-se de que até mesmo o céu, que é imenso e poderoso, muda de cor".
Bela metáfora, Vó. Eu entendo que tudo muda e se transforma em quem somos ou o que são de verdade. É a vida, creio eu, que somos assim para alguém nos segurar quando perdermos o equilíbrio. E no caso do céu, talvez as nuvens sejam suas irmãs e o escondam quando ele estiver bravo ou passando por algo ruim. Até mesmo o sol se esconde e retorna para brilhar cada vez mais, então porquê um dia eu não poderia sair e ser o novo sol?
Ser visto, observado, estudado e amado. Ser o mais quente dos rapazes, ser o novo planeta onde meus habitantes terão bons sentimentos e irão sorrir ao me verem reluzir. Um dia, talvez, eu me torne um pássaro e voe por entre o céu e sua família, infinitamente.
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SOMETIMES
Teen Fiction"Em suma importância, Simon Erllie viveu infinitamente. E seus dias de glória e sangue sempre serão lembrados por todos ao seu redor e talvez até mesmo por aqueles que nunca o viram. Simon, era um rapaz dedicado a vida, as noites e a poesia. Incrive...