Minha vida de universitária era estudar de noite e de dia trabalhar, não gosto muito de ficar dependendo do dinheiro da minha mãe. E um dos meus trabalhos foi ser secretária de uma advocacia. O lugar era imenso, tinha seis salas, cada advogado com sua sala particular, além da copa, os banheiros e claro a biblioteca. Meu trabalho era dar os recados, atender os clientes a limpeza era com a diarista que ia 3 vezes na semana, eu só era encarregada de organizar os livros e eu amava tudo aquilo. No horário do meu almoço, ficava por lá mesmo, almoçava em restaurante perto dali e voltava; às vezes estudava ,outrora assistia algum episódio de seriado. Não nego que o lugar era sinistro quando sozinho, era imenso demais, gélido e silencioso.
Na última semana da quinta-feira de julho, o dia amanheceu estranho começando pelo tempo. No Pantanal é difícil fechar o tempo, ficar frio ou chover lá é muito calor boa parte do tempo. A segunda grande coisa estranha do dia foi dois de seis advogados irem trabalhar, de seis meses trabalhando no escritório, era muito difícil eles faltarem, e naquele dia coincidiu ainda quatro faltarem no mesmo dia. E o terceiro fato estranho foi meu chefe chegar na minha mesa e falar que não viria na parte da tarde e caso o Dr. Antônio não fosse na parte da tarde eu poderia trancar e ir embora.
Passei a manhã toda feliz só de pensar que podia pegar a tarde pra descansar e estudar. Quando era cinco pra onze horas o Dr. Antônio foi a minha mesa e disse: - Amada, pode ir pro seu almoço. Ficarei o almoço todo aqui, só te peço que tranque tudo antes de sair e apague as luzes, deixe só a do corredor ligado.
Obedeci aos pedidos, fechei as janelas, portas, apaguei as luzes e deixei a do corredor acessa, e quando me certifiquei que fiz tudo o que me pediu, fui pro meu almoço. Quando voltei tudo estava acesso, entrei e tranquei a porta, ignorei minha mesa e passei direto na cozinha beber água. Enquanto bebia água, escutava os passos do Dr. Antônio, certamente ele estava nervoso, pois era um tico nervoso dele de andar para um lado e para o outro quando algo dava errado em seus casos.
Escutei um barulho vindo da biblioteca, som de livros caindo, fiquei meia desconfiada daquilo, mas talvez poderia ser o Dr. esmurrando a parede e fazendo os livros caírem da prateleira. Arrumei-os no lugar novamente, fechei a porta e lembrei que tinha comprado duas barras de chocolate, um pra mim e outro pro Dr. já que era um amante de chocolate.
Pensei em esperar ele lá na minha mesa, e passei novamente de frente a sala dele, seus passos haviam aumentado, o negócio talvez estivesse realmente complicado para tal. Ao chegar na minha mesa, relate um bombom e em baixo um bilhete informal:
" Querida, não precisei ficar no horário de almoço aqui, vou ter que viajar para a cidade vizinha numa audiência, como o Dr. Fernando disse, pode ir descansar. Deixei pra você um docinho, pra combinar com você. Até mais, amada secretária."
Um frio na minha barriga correu para minhas pernas, deixando-as bambas. Como era boba, fui certificar se realmente tinha alguém lá, poderia ser uma pegadinha sem graça do Dr. Antônio. Vagarosamente percorri o corredor até a quarta sala, para minha surpresa sua porta estava aberta agora e com a luz apagada. Fiquei em transe sem saber o que fazer, então dei mais alguns passos e chamei pelo nome do Dr. Antônio, querendo saber de fato se estava lá, mas não, eu estava sozinha.
Enquanto tentava enganar minha cabeça para não deixar o medo me dominar, escutei última porta do corredor se abrir, a porta da biblioteca e as luzes apagando-se uma por uma, na segunda lâmpada apagada, sai correndo como um tiro, passei pela minha mesa, peguei minha bolsa e tranquei a porta, se algo estava ali iria ficar trancado lá até o outro dia.
Ao chegar em casa, liguei para o Dr. Antônio para saber se não era nenhuma pegadinha sem graça dele, e negou. Desligando o telefonema, peguei o próximo ônibus pra casa da minha mãe. Avisei ao chefe que estava doente e só voltaria na segunda.
Depois daquele dia, nunca mais fiquei sozinha, porém, mesmo assim, coisas estranhas naquele escritório aconteceram e isso eu conto para vocês nos próximos relatos!
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Sonata do Medo
TerrorSonata do Medo apresenta: Contos para não dormir. A obra visa aprofundar-se com a riqueza em detalhes os melhores contos de terror e suspense. Se você, assim como eu, adora o gênero está no lugar certo. O livro faz jus ao nome, e não irá decepciona...