MEU MENINO - Série 1994 LIVRO 1 (Privilegiados)

Capitulo 8

Driving in your car
I never, never want to go home
Because I haven't got one anymore

•The Smiths – There is a light that never goes out

Milhas de distância.

ANGEL

    Dorian Leduc dirigia o carro de Denise. Parecia tão tenso, isso era óbvio nas contrações intermitentes de sua mandíbula, na brancura dos nós dos dedos no volante.

Procurei identificar todos os desenhos em seu braço, embora fosse difícil pelas formas abstratas. Gostei do barco à vela e a pequena caricatura do Edgar Allan Poe. Porém o que me chamou mais atenção foi A Noite Estrelada de Van Gogh dentro de um triangulo, sendo essa a única tatuagem feita com cores berrantes no meio da escuridão das outras.

— Ei, bonequinha do mal.

— Hum?

— Posso te fazer uma pergunta? — sussurrou, alternando sua atenção entre a direção e eu.

— Força.

— Por que faz tanto esforço por esse... cara?

Olhei para ele.

— O quê?

— Isso tudo é só por causa dele?

— Não exatamente...

— Você deveria chutar a bunda do idiota.

— Por que idiota?

— Me diz que eu estou errado. Nunca vi esse seu namorado fazer um esforço para te ver...

Eu ri.

— Ele foi até lá ontem.

— Exatamente. Ontem, e não sempre.

— Você nem namora, Dorian. O que entende sobre isso?

— Tudo bem, não namoro. Na verdade, corro desse tipo de compromisso. Mas se eu tivesse uma namorada, lembrando que estou sendo hipotético aqui, pode ter certeza que eu não ficaria longe dela por muito tempo.

— É mesmo?

— Eu me certificaria que ela soubesse que eu me importo com ela. Por Deus! Estaríamos transando o tempo todo, e eu faria com que ela se sentisse bonita o tempo todo. Por que ela é.

 Ele me olhou no fundo dos olhos, de maneira tão intensa que meu coração pulou em resposta.

— É só uma fase. — Eu me recompus, desviando o olhar. — É complicada essa coisa de distância...

— Tudo bem, você que sabe.

— Sim, eu sei!

Pensando que um pouco de música terminaria de vez com o assunto, apertei o botão do rádio. Mudei de estação repetidamente, nunca satisfeita com o que ouvia, deixando Dorian louco. Ele apertou o volante com força e bufou.

— Droga, Angel! Apenas deixe em uma música qualquer!

— Calma!

— Essas mudanças abruptas estão me desconcentrando.

— Tá bom, tá bom! Na próxima eu deixo.

Então uma familiar guitarra cintilante costurada numa batida dançante transbordou no carro. There is light that never goes out estava a tocar entre nós... outra vez. Olhamos um para o outro e rimos.