Capítulo 01 - Ilusão

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Me irrito por causa do sol suave da manhã saindo de minha janela e batendo em meu rosto. Me inclino e pego meu celular no criado mudo ao lado da minha cama. É aproximadamente as seis horas. Sempre levanto antes do aparelho despertar. Não tenho a mínima vontade de pisar fora da minha cama, não é sensação de preguiça, é mais por eu não querer ver ninguém da minha escola. Na verdade queria poder ficar o tempo todo de baixo das cobertas, é meu porto seguro. Mas, infelizmente eu sou obrigado a me levantar.

Escovo os dentes e desço até o térreo de casa. Meu pai está preparando o café, como de costume. Ele faz isso todas as manhãs antes de ir trabalhar. Veste seu avental do Pikachu amarelo com o rosto dele no centro, coloca de uma forma desajeitada e começa faze-lo. É um exagero enorme, mas ele coloca mesmo assim. Sempre quando eu o vejo, sinto vontade de rir. Isso se tornou rotineiro desde que minha mãe morreu. Antes ela fazia uma porção de ovos batidos com vários legumes, e ao me servir me dava uma beijo na testa e falava bem baixinho, só pra eu ouvir "Eu te amo". Sinto saudade, muita saudade! Se passou 5 anos e eu ainda não consigo superar! Quase toda noite á vejo em meus sonhos. Seria tão fácil se isso não acontecesse.

Pego uma xicara que meu pai preparou especialmente pra mim e dou um gole. Está razoavelmente quente. Fez um café forte, do jeito que eu gosto, do jeito que minha mãe fazia. Olho pro meu pai, e faço um gesto com a cabeça em afirmação, ele revida com um leve sorriso tímido. Nos falamos só o necessário, não por nos odiarmos, mas sempre que começamos a falar voltamos ao mesmo assunto, então evitamos. Mas dessa vez quando giro a maçaneta da porta que dá de entrada a rua, ele fala:

_Boa sorte, Senshin.

Aquilo me agradou muito. Pode parecer simples palavras, mas pra mim foi como um abraço, ou até melhor que isso.

_Obrigado, pai. Bom trabalho_ São as únicas coisas que consegui falar. Apesar de ser meu pai, me sinto muito retraído, preciso mudar isso.

Chego na entrada da minha escola, é um prédio com quatro andares e um pátio enorme do lado de fora, para abrigar os estudantes. Há várias arvore, é aparentemente agradável o lugar, bem diferente de muitas outras escola aqui da região. Entro no pátio e sou recebido com uma bola de basquete na cabeça, é Deen. Eu o considero o melhor e único amigo, apesar de ser bem diferente de mim. É muito extrovertido, aparentemente feliz. Eu sou calado e aparentemente triste. Ele sempre usa regata estereótipos de basquete, com um short molenga de esporte, tem cabelo grande e usa boné. Apesar de tudo existe uma coisa que nos igualamos. Isso de alguma forma nos aproximou.

_Cara, você não sabe quem veio falar comigo hoje _ Ele fala com um semblante agitado.

_Espero que seja alguém importante, tipo a Dilma.

_Cala boca, cara. Foi a Jude!!! E cara!!! Estou muito feliz, poderia chorar agora.

Eu entendo a felicidade de Deen, apesar de eu não me importar com relacionamentos com garotas. Prefiro ficar "na minha". Até porque não sou um cara atraente. Mas concordo que Jude é uma garota bonita, tem um corpo cheio de curvas, e um cabelo curto e loiro. Já ouvi um boato que ela era lésbica, mas não me importei, até porque isso é assunto dela. Ela senta ao meu lado na sala de aula, é muito quieta, só fala o necessário. Já peguei ela olhando pra mim algumas vezes, deveria estar se perguntando por que eu parecia tão triste.

_Ta bom, Deen. E o que ela falou?

_Me perguntou as horas, disse que tinha esquecido o celular. E CARAAAA, ESTOU TREMENDO ATÉ AGORA.

Aula de história com o professor Daniel. Ele está explicando como o clero no passado, eram muitos superficiais achavam que tudo e todos fossem demoníacos. Penso se essas coisas realmente existem, se estavam certos e em como seriam os demônios de verdade, será que teriam chifres ou coisas assim? Calda? Enfim, se existissem não se importaria comigo.

A última aula antes do intervalo, fico olhando pela janela. Minha sala fica no quarto andar e dá pra ver claramente o pátio e algumas arvores. Fico observando, a aula não está tão interessante, ninguém está prestando atenção, ouço barulho dos outros estudantes atrás de mim falando sobre coisas que eu particularmente não me interesso. Olho cada arvore plantada no pátio, elas estão plantadas enfileiradas no centro. Na ultima arvore vejo uma mulher com os cabelos negros encima de seu rosto. Fico me questionando se não é a faxineira, ou a diretora, mas ela está descalça e usando um vestido branco longo. Depois de alguns segundos olhando aquela figura, o cabelo sai de cima de seu rosto e consigo ver que é a minha mãe. Ou parece bastante!

Não pode ser!

Estou tão apavorado e sem reação que dou um impulso pra trás da cadeira e caio de costa no chão gritando, estou totalmente em pânico. Todos parecem parar o que estavam fazendo para me olhar, mas eu não me importo. Eu acabei de ver minha mãe! Ela está morta! 





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