Capítulo 03 - Vertigem

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O som dos passos ecoando no cômodo vindo da escada começam a ser mais perturbadores do que já eram, como o tick tack de um relógio em câmera lenta contando os segundos que restam da minha vida. Sinto meu coração bater intensamente, minha barriga dói. Quase não consigo me mover, provavelmente pela quantidade de sangue que perdi após meu braço ser arrancado do meu corpo. Tento me acostumar. Não escuto mais o homem que se dizia ser um demônio, deve ter desaparecido, afinal se ele realmente for o que diz ser, isso seria fácil. Me questiono se aquilo não foi somente um delírio, mas então vejo um dos meus braços inteiramente de aço, e isso não parece ser uma coisa da minha mente. Acho que estou entrando em pânico. Começo a me debater euforicamente na cadeira em que estou sentado. Caio bruscamente no chão, sinto minhas costas impactarem no piso da cozinha, passo pro uma breve dificuldade de respirar. Sou um coelho indefeso para uma raposa extremamente faminta.

_ Por favor, cara, não pretendo participar desse jogo, idiota. Seja lá o que falaram pra você, me deixe em paz!!_ Suplico em voz alta, com a esperança que ele ouça e mude de ideia. Parece que a escada não tem fim, cada passo do psicopata, é uma sensação maior de Pânico. O suor em excesso se misturou com minhas lágrimas, antes que ele me mate, acho que irei morrer desidratado. Tento me concentrar em cada parte de meu corpo para que ele possa se mexer para que eu possa sobreviver, mas só consigo me rastejar um pouco até a porta que leva o quintal. Esse braço de ferro deixado pelo "demônio", só foi útil para parar o sangramento, pois está muito pesado pra mim e não consigo move-lo. Finalmente vejo suas botas descendo os degraus, são sociais, a calça combina com as botas mole e marrom. Na medida em que desce consigo notar seu estilo sério, usa um terno marrom, e um camisa social por baixo. Ele me é familiar, seu rosto vai se tornando nítido na escuridão a cada passo. Finalmente consigo ver claramente sua forma, é meu professor Daniel.

_Senshin, confesso que você foi meu aluno preferido, sempre com notas boas, mas uma coisa me chamou a atenção nesses anos, eu nunca te vi sorrir. Tinha conhecimento da morte de sua mãe, porem não imaginava que sofria até hoje_ Ele fala com um tom de deboche. Voz nenhuma sai da minha boca. Não consigo aceitar que meu professor irá me matar. Meu estomago embrulha, minha dor de barriga aumenta. Uma lembrança vaga minha mente de repente, como se já tivesse passado em uma situação semelhante. Tenho aparentemente 10 anos, encostado com as mãos ao rosto no sofá estou contando em voz alta até 10, quando termino tiro as mão do rosto e me viro, atrás de mim está minha mãe, que logo me recebe com um beijo surpresa no rosto. O beijo dela era diferente, sempre inflava suas bochechas, depois de encostar seus lábios.

_Ah mãe, isso é trapaça, você deveria ter escondido. Falo em tom de discordância cruzando os braços... _HAHA! Me desculpe, meu bem, não resisti, você estava tão bonitinho... _Pode deixar, farei certo dessa vez. Você pode contar de novo?

_Sim!_ Retruco_ Mas se esconda bem, mamãe. Viro para a mesma posição de antes. _10. Pronto ou não aqui vou eu.Dessa vez ela não está atrás de mim. Me recordando disso, preferiria que ela estivesse. Reviro a sala e cozinha e não obtenho resultados em encontra-la, não há sinal dela. Subo as escadas em que levam ao primeiro andar. O corredor existe duas portas, a mais próxima das escadas é o quarto da minha mãe a do meu pai, está aberta e com a luz dentro do cômodo apagada. Vou-me adentrando no quarto dela, quando tenho a total visão do quarto, vejo o que nunca saiu de minha mente, a visão que venho sucumbindo em meu ser. A luz do que se esgueira da janela feita pelo poste de luz, revela minha mãe pendurada no ventilado de teto com uma gravata do meu pai enrolada de em seu pescoço. Ela se suicidou.

_M-(...)Mãeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee! _Não me olhe assim, me dá pena! Meu professor fala, como se estivesse me puxando da lembrança e me trazendo ao mundo real.

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