Capítulo 1 - Uma breve apresentação

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Me chamo Boni, Helena Boni Manuelo, mas esse último nome só faz parte do meu nome por uma forte insistência do meu pai em colocar o sobrenome do meu avô no meu nome e no nome dos meus irmãos, mas na verdade eu gosto do nome, mesmo quando não deveria gostar, que contraditório não?, minha mãe sempre me achou teimosa e contraditória aos fatos, mas eu não sou, só gosto de ter minha opinião formada por minha conta, e não pelo que escuto dos outros.

Bem, eu acabei de fazer 17 anos, o que significa também que faz 17 anos e um mês que meu avô paterno morreu. Esse homem eu precisava ter conhecido, meus dois irmão, sempre falaram bem do velho Edgar Manuelo, tanto o mais velho quanto o outro, mas eu não o conheci. Infelizmente, meu avô era um italiano marrento e cabeça dura que adorava fumar, e contando com o maravilhoso histórico de casos de câncer na sua família, ele tinha câncer nos pulmões, e quando ele descobriu teve de escolher em viver seis meses no hospital, ou provavelmente um em casa sem tratamento. É, ele tava acho que no último estágio da doença, a doença que nunca se manifestou. Bom, ele escolheu ficar no hospital e viver os seis meses porque na época minha mãe já estava gravida de mim e todos sabiam que seria uma menina, e tudo o que Edgar queria, era uma neta, já que meu pai já tivera dois filhos e minha tia, Roselie tivera quatro filhos homens. Ele topou o tratamento porque achou que iria sobreviver para pelo menos conhecer sua neta, mas não rolou. Ele morreu dia 27 de setembro as 14:00 da tarde, e eu nasci dia 27 de outubro as 14:00 da tarde, exatamente um mês depois que ele morreu. Resultado? Minha avó maravilhosa que desde meus oito anos nem me liga para me dar feliz aniversário ou feliz qualquer coisa não foi no hospital quando eu nasci porque estava de luto com seu suposto amante da época, e minha tia tinha resolvido viajar com os filhos para "Trocar os ares" segundo ela.

Hoje de manhã minha mãe foi visitar a irmã dela, que parece estar doente. Ela não ia ir por causa do meu aniversário, mas eu achei melhor ela ir e passar o fim de semana lá, vai que a mulher morre e minha mãe não teve chance de dizer adeus pra irmã, eu nunca ia me perdoar. Isso significa que vou passar meu aniversário essa noite com três homens, meu pai Path, meu irmão de 30 anos Arthur, e meu irmão de 28 anos Miguel, e graças a Deus eles não trouxeram as mulheres, porque sempre tenho a sensação de que elas não gostam de ver nós três juntos e ver eles não dando atenção à elas.

Estamos no salão de festas, moramos numa chácara desde meus 14 anos porque esse lugar é especial pros meus pais, e eles preferiram alugar a nossa casa na cidade do que esse lugar, e eu admito que amo esse lugar, fica num condomínio perto da cidade e é tudo perfeito aqui. Meu pai está assando carne na churrasqueira, sabe, nós somos italianos mas ainda somos do sul do Brasil, e isso é bom, eu acho. Meu irmão Miguel chega de moto, ele é tatuador (sem julgamentos porque na família sempre houveram artistas) e está com a mochila nas costas. Arthur já estava aqui desde a manhã. Miguel vem até a mesa de madeira gigante que ocupa o espaço do salão e coloca um whisky Jack Daniels sobre a mesa.

-Feliz Aniversário princesa cachorro quente - ele joga a mochila no canto e eu olho para o whisky - achei que já estava na hora de você tomar uma bebida mais forte.

-Eu concordo - fala Arthur trazendo quatro copos e colocando na mesa, copos com gelo.

Quando fiz 15 meu pai me fez experimentar cerveja, na minha família é assim, primeiro contato com qualquer bebida deve ser em casa, e viu que eu respeitava meu limite de tolerância ao alcool, no Natal me deixou beber. Quando fiz 16 ele me fizeram provar vodca, e eu não cai.Agora um whisky ? o próximo será o que, cachaça ? Meu pai serve os copos eu admito que é bem gostoso, então começamos a conversar sobre faculdade, e do nada o assunto vira o meu avô.

- Seu avô odiava whisky - fala meu pai - o negócio dele era cerveja e as vezes um vinho.

- Me lembro de uma vez - diz Miguel - que estávamos plantando bananeira da sala da casa dele, com os primos, e ele decidiu que não sabíamos fazer direito, aí começou a plantar uma bananeira toda torta com a carveja na mão - meus irmão soltam algumas risadas - e ao envés de ajudar ele ficamos olhando e rindo.

-Ele estava bêbado esse dia - diz Arthur num tom sério - ele quase sempre estava, era um alcolatra.

- Não fale assim dele - retruca Miguel.

- Poque não se é verdade - ele tome o seu whisky com um único gole.

-Porque seu avô tentou ser o melhor para vocês e seus primos na miséria dele - fala meu pai num tom que ele só usa quando está bravo - e ele errou várias vezes, mas nunca afetou vocês dois.

- Mas afetou nossa mãe - fala Miguel bem baixo.

- Isso é o que ela fala, só teve um evento em que seu avô foi ruim com sua mãe, e só aconteceu por causa...

- Da minha avó - as palavras escapam e quando percebo é tarde.

Meu pai me olha, eu nunca falei com ele sobre isso, mas acho que hoje é minha chance de esclarecer algumas coisas, já que minha mãe não está para só contar sobre seu ponto de vista, e meus irmãos estão bêbados o suficiente para não mentir, já meu pai, ele nunca fica bêbado.Sempre sóbrio. Mas ele nunca mente, ao envés prefere não se envolver, a menos que ele ache preciso.

Linhagem IndeterminadanadaOnde histórias criam vida. Descubra agora