Eu olho diretamente para o meu pai, como se meus irmãos não estivessem no mesmo ambiente que nós dois. Meu pai me ensinou isso quando eu tinha uns 12 anos, quando você quer que alguém fale, deve focar na pessoa.
- Eu sei que não falo muito sobre minha família.
- Você nunca fala sobre sua família - falei friamente mas ainda sim com um tom de respeito.
- Você precisa entender Helena, que isso tudo é parte de uma briga antiga - meus irmãos se entreolham - e que nem eu sei direito o que aconteceu, só sei que a família do meu pai sempre teve problemas com a família da sua mãe.
Quando eu FINALMENTE tenho a brecha para perguntar tudo o que guardo em minha cabeça desde os 13 anos, o portão se abre e o carro da minha mãe entra.
Me viro e vejo que a expressão de meu pai mudou.
Eu ia ter respostas.
Mas nãããão.
Como se o universo interferisse.
Minha mãe sai do carro com uma pequena caixa nas mãos e vem até a mesa.
- Eu preciso de ajuda com o bolo e as bebidas que trouxe - ela aponta para o carro que está aberto.
- Eu faço isso - diz Miguel.
- Eu te ajudo - Arthur se levanta.
Os dois vão para o carro e minha
mãe senta na mesa.
Eu estou tão brava/puta/magoada/estressado com essa situação!
Finalmente ela não estava aqui para monopolizar o assunto, e finalmente eu ia falar com meu pai e meus irmãos sem ela por perto, mas nãããoo, agora não dá.
- Eu achei que a tia Melanie estava doente - estou com a cabeça baixa olhando para a caixinha na sua mão.
- Era só uma gripe. - minha mãe fala no tom de voz alegre/irritante que ela usa em "dias comemorativos" - Seus avós estão com ela.
- É bom saber que ela está bem.- fala meu pai.
- É mesmo - minha mãe já notou minha mudança de humor - do que estavam falando ?
No momento que ela fez essa pergunta meus irmãos chegam e param atrás dela. Os dois tem olhos verdes e cabelos escuros e lisos. O mais velho é mais branco e tem o rosto meio avermelhado, enquanto o outro é mais moreno e tem várias tatuagens. Toda vez que o assunto é a família do meu pai, e meus irmãos estão presentes, minha mãe faz um longo discurso sobre tudo o quê sofreu enquanto ela , meu pai e meus irmãos moraram perto dos meus avós paternos, e faz meus irmãos confirmarem as histórias, mas ela nunca fala dos momentos bons, que foram raros mais existiram.
Eles dois se olham e correm para dentro de casa como dois adolescentes burros.
Eles podiam ficar e me ajudar nessa conversa.
Mas eles nem sempre aparentam ter a idade que tem.
Eu me viro para ela e respiro fundo.
- Já que perguntou, o assunto era a família Manuelo, mas acho melhor mudar antes que você comece sua palestra de sofrimento.
Minha mãe muda a expressão. Faz a careta que sempre faz quando o assunto é esse.
- Como assim palestra de sofrimento !?- ela gospe as palavras na mesa.
- Não se faça de boba mãe - agora estamos falando num tom de briga - , sempre que falamos dessa família você que fala e faz o mesmo discurso sobre tudo o que passou, eu escuto e o pai e os meninos concordam com o quê você fala, menos quando você passa dos limites.
- Limites ?! - ela fala nervosa - Eu já contei, e sempre que posso reconto para você sim, o que aquela família fez de ruim para mim, seus irmãos e você, e eles não tiveram Limites.
Epa! Eu? Mas eu achei que não tivesse conhecido a família do meu pai nem convivido com essa gente.
Minha mãe percebe a pérola que soltou.
- Como assim eu ? - alterno o olhar entre eles.
- Você visitou sua avó e sua tia até os quatro ou cinco anos, - meu pai fala enquanto abre uma cerveja - conheceu seus primos, e então nos afastamos de vez.
- Mas como eu não lembro?
- Você não teve boas lembranças lá, nem eu , nem seus irmãos. - minha mãe pega um copo e coloca um pouco de cerveja nele- Aquela gente sempre destratou e zombou da gente.
Eu me levanto e começo a pensar.
Mas não consigo.
Isso é novo.
Por essa e não esperava, e eu nem me lembro de nada.
- Nós achamos que você poderia aproximar as famílias novamente, mas não deu certo - afirma meu pai - sua avó se agarrou à uma briga que não era dela, e obcecou sua tia ainda criança nessa bobagem também.
- Você era a única neta nas duas famílias - minha mãe dá um gole na cerveja- e pensamos que poderiam se reexonciliar, mas depois que seu avô morreu, meu pai achou que quem devia se desculpar era a sua tia. - minha mãe suspira - Mas sua tia não aceitou se desculpar por alguma coisa que ninguém sabe direito o que foi.
- O que você têm que saber filha, é que seus avós , o Edgar e o Alan, se aproximaram por um tempo, e foi o período em que as famílias ficaram de "bem" ,sem brigas sobre quem devia as desculpas e conseguiamos nos reunir,mas sua avó Teresa fazia um inferno na cabeça de seu avô Edgar, e logo em seguida ele morreu.
É oficial, eu não sei de nada sobre essa treta de família, nem de nada que aconteceu uns 10 anos antes de eu nascer.
- Depois que ele morreu - fala minha mãe- sua avó e sua tia começaram a nos tratar mal denovo , menos seu pai, e ai um tempo depois, decidimos nos afastar totalmente.
- Podemoa conversar amanhã ? É tudo tão confuso, como se não soubesse nada. - olho para eles dois e ambos acenam positivamente com a cabeça.
- Esse é o presente do seu avô Alan, ele falou que se gostar, deve ir vê-lo - minha mãe me entrega a caixinha, que é retangular e grossa.
Eu pego e entro para dentro. Eu preciso dormir. Passo pela sala e meus irmãos estão jogando GTA, ou seja, algumas coisas nunca mudam. Me sento na poltrona e fico vendo. Eles trocam para Assassin's Creed e Miguel me olha.
- Quer jogar?
Normalmente eu diria sim sem pensar. Adoro video-games, mas hoje não. Faço que não com a cabeça e eles dois sabem que há algo errado.
Quando eu tinha uns 14 anos, começei a namorar um menino da minha sala
que era loiro, com olhos verdes e tinha fala de galinha. Ele me pediu em namoro de um jeito bem fofo, me deu flores, mas eu era eu, cabelos lisos e compridos castanho-avermelhados dependendo do sol e olhos castanhos-escuros que as vezes ficavam mais claros. Sempre fui assim, muito branco com olhos que mudam de cor e, bem , quanto ao meu corpo, eu sempre tive coxas meio grossas mais nunca tive barriga, e tenho uma cintura fina. Tipo o corpo da Katy Perry com uma cintura um pouco mais fina.
Bem , como o menino tinha uma "fama" eu decidi enrolar um mês até deixar ele me beijar, porque eu achava que ele aó queria poder falar que tinha ficado com a gaúcha, e eu tava certa. Faltando uma semana pra mim ficar com ele, ele foi numa festa que achou que eu não estava e ficou com uma menina nela. Eu vi e acabei com ele.
Meus irmãos e meus pais já sabiam que eu estava " namorando" e quando ficaram sabendo disso, bem, eles quiseram pegar o menino e sabe, dar uma "lição" nele, e descobriram que algo estava errado assim, pq eu não quis jogar video-game. O que me magoou foi a menina que ele escolheu para me trair.
Eles me olham.
- Você está bem?- pergunta Arthur.
Eles me olham esperando que eu responda, mas eu me levanto e vou pro meu quarto.
Abro a porta e jogo a caixinha na minha penteadeira. Nem abro. Só me jogo na cama e durmo.
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Linhagem Indeterminadanada
Kurgu OlmayanVivendo numa família cheia de intrigas do passado, a curiosidade de Helena Boni Manuelo explode dentro de si para saber mais sobre sua família. Em casa, seus irmãos sempre falaram como seu avô paterno era , o mesmo havia falecido um mês antes de Hel...