Primeira Página

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(Dica de música para escutar lendo: Stranger - Secondhand Serenade.)

Caro amigo.

Vou começar escrevendo sobre minha amada: Lucy.
Tudo aconteceu quando eu resolvi, numa manhã chuvosa em Londres, tomar um café na Starbucks mais próxima.
Ajeitei meu cabelo no espelho e peguei a chave, saindo e trancando o apartamento. Caminhei calmamente, balançando a chave em minha mão, até a esquina de casa, onde tinha uma pequena cafeteria. Não era uma Starbucks, mas me contentei em ficar ali mesmo. Entrei no lugar, indo até a recepção e pedindo um café preto e sem açúcar. Após receber meu pedido, fui me sentar e provei do amargo café. Não pude deixar de fazer uma careta, mas o preferia assim. A vida, meu amigo, só é doce para os que desejam que ela seja. Eu só queria provar do café amargo que ela me oferecia.
Foi então que a vi.
Não saberei, hoje, descrever a sensação de estar olhando para Lucy, mas naquele dia a comparei com um anjo.
Seus cabelos pretos estavam caídos desajeitadamente por seus ombros, e seus olhos verdes procuravam algo dentro da bolsa marrom que ela trazia nos ombros. Suas mãos, aparentemente habilidosas, tiraram de lá uma carteira bege, e ela finalmente ergueu os olhos, me fazendo soltar um suspiro. Era tão linda. Usava uma blusa branca, e por cima dela a jaqueta preta, completando com a calça jeans e as botas de cano curto também pretas. Nunca esquecerei esta roupa, pois a considerei rebelde para uma garota com aquele rosto angelical.
Ela foi até a recepção e pediu o mesmo que eu: Um café preto e sem açúcar. Naquele momento eu soube que tinha de conversar com ela.
Levantei-me, e fui até ela, pois estava cansado de ficar enrolando. Lembro-me de pensar que se eu fosse direto, talvez conseguisse algo diferente do que se eu fosse charmoso e enrolado.
É, eu realmente consegui.
-Reparei que você pediu um café sem açúcar - fui direto ao ponto, e ela voltou seus olhos verdes para mim. - Consequentemente foi o mesmo que eu pedi.
-E? - Ela soltou, pouco interessada.
-E eu só usei isso porque quero me sentar com você - disse, diretamente, e esperei um "não". Mas ela sorriu, com aqueles dentes brancos. Jurei, naquele momento, que este sorriso poderia quebrar todos os meus males, concertar todas as minhas partes.
-Claro. - Sentei-me, e começamos a conversar.
Não sei exatamente que rumo a conversa tomou, mas em alguns minutos ela já estava rindo. Descobri que seu nome era Lucy Montessori, ela tinha 20 anos e ela era irlandesa. Também descobri isso devido a seu sotaque. Veio para cá trabalhar numa empresa de publicitários, porque a empresa que ela trabalhava na Irlanda havia falido. Morava num apartamento não tão longe daqui, e adorava cachorros.
Quando a conversa acabou, e consequentemente o café também, ela se levantou.
-Tenho que ir - disse, com os olhos voltados para o relógio - Foi bom te conhecer, Harry.
-Podemos nos ver outra vez? - Perguntei, e ela sorriu.
-Creio que não. Você é só um estranho, como posso saber se não é perigoso? - Ela apontou para o café - E eu só fiquei aqui mesmo por causa do café. Adeus, Harry. - Me deixando boquiaberto, ela saiu, rebolando, o que fez meus olhos se voltarem (sem querer querendo) para sua bunda. Após alguns segundos, olhei para o café dela. E ali tinha um pequeno cartão. O peguei.
Só então percebi como aquela menina era esperta.
No cartão estava escrito seu telefone, com um pequeno coração na ponta.
Sorri.
Lucy, desde aquele dia, havia se transformado no amor de minha vida.
Saímos muitas outras vezes, tomamos cafés pretos juntos e depois de um ano ela veio morar comigo. Compramos um cachorro, um labrador, chamado Spike, que detonou nosso apartamento no primeiro dia (risos).
Também com o amor, o carinho e a esperteza de Lucy, descobri seus problemas. Ela não estava indo muito bem na empresa, e as vezes eu chegava em casa do trabalho e a encontrava chorando.
Acalentava aquela garota, que era tão forte, mas também tinha seus momentos de fraqueza, em meus braços, e cantava para que ela dormisse.
Depois de dois anos juntos, eu queria pedir ela em casamento. Mas um belo dia (ironicamente), cheguei em casa e a encontrei morta, no chão da sala, com um tiro de bala. E a arma estava em seu lado.
Os médicos legistas disseram que foi suicídio. Mas eu não linguei na hora, estava muito abalado para ligar para qualquer outra coisa que não fosse minha amada Lucy. Eu já não sabia mais como viver sem ela. Era minha pequena garota, meu porto seguro, minha. E agora, era só eu contra o mundo.
Minha Lucy havia partido sem nem ao menos me deixar uma lembrança de seu beijo com sabor de hortelã.
Eu sabia que ela tinha seus problemas, mas não queria acreditar que ela havia se matado por eles.
E então, meses depois, eu recebi uma carta, com um endereço estranho, me mandando ir para lá.
Fui, com olheiras, pois não dormia direito desde que Lucy se fora, e nem comia direito, só bebia.
Bebia para esquecer a dor. Queria tanto minha garota de volta.
Quando cheguei no endereço, paralisei.
Lá estava ela, com a mesma roupa do dia que nos conhecemos, e os mesmos olhos verdes me encarando, me analisando.
-Olá Harry - Lucy disse, e eu congelei ainda mais, aquilo não podia estar acontecendo eu a vi morta, eu a peguei em meus braços e senti seu corpo gelado e agora ela estava ali, me olhando.
Viva.
Bem, não completamente.
Um fantasma.
Foi a partir daí meu caro amigo, que eu decidi que a vida era bem mais que um café amargo.

Com amor, Harry.

Com Amor, HarryOnde histórias criam vida. Descubra agora