Terceira Página

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(Dica de música para escutar lendo: Take Me To Church - Hozier )

Caro Amigo.

Comecei as pesquisas sobre o assassino no dia seguinte em que decidi ajudar Lucy. Como ela não conseguia me dizer seu nome, pensei em começar a pesquisa por minha conta, separando algumas pessoas as quais sei que não tinham empatia por ela, e por mais estranho que isto possa parecer, consegui pensar em algumas delas como assassinas.
Só não sei como não havia reparado nisto antes.
Talvez algumas coisas precisem ser feitas para que possamos abrir nossos olhos para o mundo real e perceber que nem tudo é o que parece ser.
Abri o computador as oito da manhã e quando percebi, já eram onze horas. Esfreguei os olhos e olhei ao redor da casa, porém Lucy não estava ali. Ela não estava em lugar algum.
Passei meus dedos finos pelo cabelo e levantei-me para preparar algo para beber. Se pretendia entrar realmente de cabeça disso, não poderia ficar sóbrio o tempo todo.
Abri a geladeira e encontrei uma garrafa de vodca, e derramei seu conteúdo sobre um copo. Após tomar um belo gole e sentir a bebida amarga queimar a minha garganta, ouvi uma tossida atrás de mim. Quando me virei, Lucy estava me encarando com os braços cruzados.
- Ainda continua com este hábito? - Ela pergunta, claramente irritada. Solto um suspiro. Ás vezes me esqueço de como ela era controladora.
-E o que tem de mais em manter hábitos? - Minha voz ainda está rouca pelo fato de não ter falado muito desde que acordei.
-Sabe que eu não gosto disso - Sua voz vai baixando, tal qual seus olhos. Decido me render e despejo o resto de vodca na pia, a fazendo sorrir. Não que eu realmente quisesse fazer isso. Só quero deixa-la feliz.
Talvez eu ainda me sinta culpado. Por tudo.
-Já comecei a pesquisa - Solto um pigarro, tentando inutilmente fazer com que minha voz volte ao normal, e ela parece extremamente feliz ao se aproximar do computador e ver os nomes que anotei. - Pensei que, já que você não consegue pronunciar o nome dele, podia tentar falar algum desses nomes, assim quando for o assassino, eu saberei.
Ela faz um sinal positivo para mim, e começa a pronunciar. São tantos nomes que minha cabeça começa a girar, não sei se pelo fato de eu ainda estar sonolento ou pela vodca que acabei de tomar.
Estou quase adormecendo quando a voz de Lucy se transforma num grito fino, e abro meus olhos rapidamente, vendo o nome em que ela havia parado.
Trevor Young.
O rosto dele vem direto em minha mente, e sei que nunca conseguirei esquece-lo, pois já soquei o rosto deste homem. Ele trabalhava na mesma empresa que Lucy, e um dia quando fui fazer uma visita a ela, o vi dar encima de minha namorada. Não pude conter a raiva que subiu por meu sangue, o fazendo ferver. Bem, de fato, eu não quis conte-la. Ainda sinto a sensação das juntas de meus dedos endurecendo, da minha visão ficando turva quando acertei o primeiro soco, e do sangue quente escorrendo por meus dedos.
Se eu admitir que gostei da sensação, talvez eu pareça um louco para você. Mas não posso mentir, eu realmente apreciei aquele momento.
Sabe quando você está repleto de raiva, tanto que a sente esquentar seu sangue, e você soca algo na tentativa de expeli-la? Não é uma sensação extremamente boa?
Bem, para mim foi.
Porém, admito que ele foi o último em que pensei como assassino. Ele ficou tão amedrontado quando eu o soquei, que toda vez que eu ia até a empresa ele tentava me evitar ao máximo. Uma vez ficamos presos no elevador juntos, e eu pude ver o medo em seus olhos azuis.
Ele parecia tão indefeso quanto um pássaro em meio a tiros.
Mas com a minha frequente experiência de julgar as pessoas antes de conhece-las realmente e acabar percebendo que ela é o contrário de tudo que eu pensei que fosse já me deixou preparado para momentos como este.
Olho para Lucy e notei que seus olhos estavam arregalados, como se ela tivesse se dado conta de algo realmente importante.
Ela me olha, e sinto meu mundo todo tomar finalmente algum rumo.
Fora Trevor, posso notar isto nos traços de seu rosto.
E nos ombros encolhidos de minha amada, como se o simples fato do nome dele estar nesta lista a fizesse tremer de medo.
Levanto-me, na tentativa de passar a mão em seus ombros e dizer que está tudo bem, mas lembro-me de que minhas mãos passariam por seus braços e eu me frustraria por não conseguir abraça-la, então eu apenas me aproximo o suficiente dela, na esperança de que ela consiga sentir meu calor e se acalmar com isto.
-Foi ele. - Sua voz sai mais baixa do que o normal, e meus músculos se enrijecem. Ouço minha própria voz prometer a ela que eu acabaria com este Trevor, mas não a reconheço. É a voz de alguém rancoroso, e eu não sou assim. Eu não prometo coisas deste tipo.
Lucy diz que vai se retirar um pouco para tentar dissolver esta informação, e em segundos desaparece.
Sei que não deveria, mas levanto-me e vou em direção a cozinha, pegando o resto de vodca que tinha na garrafa e o despejando em minha boca, gostando da queimação que ela proporciona em minha garganta.
Eu nasci doente. E gosto disso
Como já havia dito anteriormente, não há mal algum em manter velhos hábitos.
E se vou começar a perseguir um assassino, eu definitivamente não devo ficar sóbrio, meu caro amigo.
Com amor, Harry.

Com Amor, HarryOnde histórias criam vida. Descubra agora