Segunda Página

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(Dica de música para escutar lendo: Ghost Town- Adam Lambert)

Caro Amigo.

Sinto-me um tolo e um covarde por dizer isso, mas no momento em que vi Lucy, eu corri gritando, apavorado. Contei a todos que a vi.
Obviamente ninguém acreditou em mim.
Porém, eu não mentira.
Lucy não só virou um fantasma, como alega para mim que ela não se suicidou. Ela foi assassinada.
Estou tentando acreditar nesta verdade á dias, mas simplesmente não consigo aceitar. Quando perguntei a ela quem era seu assassino para que eu pudesse encontrar pistas sobre ele, sua voz ficou estranha, e ela não conseguiu emitir nada mais que gritos e gemidos. Enfim, parou de tentar falar o nome dele, e suspirou, desviando o olhar de meu rosto.
-Não posso falar o nome dele, e eu não sei o devido motivo. Mas você precisa acha-lo por mim Harry, você precisa me vingar.
Tais palavras ainda ecoam em minha mente. "Você precisa me vingar".
Há anos tento acreditar em Deus, e talvez até em James Dean, mas simplesmente não consigo, são coisas supérfluas as que nos dizem, e somente tem sentindo se houver um aprofundamento no assunto.
Fui á centros espiritas, igrejas católicas e evangélicas, e até me aprofundei na teoria de Buda, e fui em tantos outros lugares, conheci tantas culturas diferentes, e recebi promessas de que sairia do lugar cheio de fé, mas nada me convenceu, definitivamente. E se você puder notar, todas as religiões que falam de Jesus e Deus são somente uma parte de um grande todo. Nós só temos dogmas de Deus, e julgamos outras religiões, sendo que elas não são nem melhores nem piores, são iguais.
Juntando-as, temos um todo. Mas ninguém nunca parou para pensar nisso.
Porém, uma coisa que dizem é verdade: Para acreditar em Deus, é preciso que algo aconteça, que algo mude dentro de você.
E algo definitivamente mudou dentro de mim desde que eu vi o fantasma de Lucy.
É como se minha cabeça tivesse virado um total e completo desastre, e agora eu vejo Lucy em todo e qualquer lugar.
Uma vez, cheguei a rezar dentro de uma igreja, pedindo para que Lucy encontra-se a luz, mas ela simplesmente apareceu de meu lado e disse:
-Sabe que isso não vai funcionar, Harry, você nem tem fé.
Ela diz que, para "ir para a luz", precisa solucionar o mistério de seu assassinato, mas ela não pode fazer isso, pois é somente um fantasma.
Mas eu posso.
Porém, por um tempo, achei que estava enlouquecendo. Que isso tudo simplesmente não podia ser verdade, parecia aquelas histórias de filmes de terror em que o fantasma volta a assombrar o lugar em que foi morto.
Então fui a um psicólogo, que disse que eu só estava com saudades dela, mas o resto era fruto de minha imaginação. Fantasmas não são reais.
Porém Lucy ainda continuava a aparecer: Quando eu estava comendo, vendo televisão, dormindo e até tomando banho. Ela gritava em meus ouvidos que eu precisava vinga-la, que era meu trabalho já que não estava aqui e não pude protege-la quando o assassino tirou sua vida. Era o máximo que eu podia fazer.
Hoje, enquanto eu estava escovando os dentes, resolvi dar ouvidos a Lucy. Afinal, se eu estivesse ficando louco, que ficasse de uma vez.
A vi pelo espelho, de braços cruzados, bufando, exatamente como ela fazia quando estava com raiva de mim.
-Se eu acreditar em você... - Deixei a escova na pia, e me virei a olhando. - O que acontece?
-Por acaso você acha que eu tenho bola de cristal para saber, Harry? Sou um fantasma, não uma advinha. - Sua voz saiu raivosa, e suspirei, sabendo que mesmo morta ela ainda era a mesma Lucy de sempre, com seu velho humor sarcástico. - Mas eu juro que fui assassinada. Harry, eu não me mataria.
- Eu não sei, Lucy. Você tinha muitos problemas na empresa...
-Mas eu tinha você! - Ela bravejou, se aproximando de mim e tentando tocar meu rosto, mas sua mão somente passou reto por ele. Ela bufou, irritada e ao mesmo tempo magoada, se virando de costas para mim - Eu não teria motivos para me matar se eu tinha você, Harry. Você era tudo que eu precisava.
- Passei meses pensando que você tinha me deixado, Lucy - minha voz sai baixa, e a olho deixando algumas lágrimas caírem - Achei que tinha desistido de nós. De mim. De você.
-Eu nunca desistira. - Lucy afirma, me olhando com aqueles olhos verdes que me deixaram apaixonado no primeiro momento em que eu a vi. - E eu não te deixei, eu só fiquei meses tentando me materializar. Fiquei aqui com você, só que você não podia me ver. Só consegui fazer com que você me visse alguns dias atrás. Foi quando eu te chamei.
- Lucy - a olho com carinho, me aproximando dela e tocando seu rosto, mas minha mão passa direto por ele, e deixo lágrimas caírem.
- Mas como você pode ver, não consegui fazer tudo ainda. Não posso tocar nada, e ninguém pode me tocar. - Ela suspira, baixando o olhar.
- Você foi mesmo assassinada Lucy? - Ela assentiu antes que eu pudesse sequer terminar a pergunta. Suspiro, tomando uma decisão - Então eu vou te ajudar a procurar o assassino. E vou entrega-lo.
-Jura? - Ela abriu um sorriso de orelha a orelha, e notei que eu senti falta deste sorriso durante meses. - Harry obrigada! Obrigada mesmo!
Lucy disse que começaríamos a busca por pistas amanhã, pois já estava ficando de noite e eu precisava dormir.
Ela se foi, mas não consegui dormir então estou aqui escrevendo.
Acho que ainda estou ligado emocionalmente com Lucy, por isso somente eu posso vê-la.
Eu ainda não consegui esquece-la. Sabe, não é fácil esquecer alguém pelo qual você foi completamente apaixonado.
Eu daria tudo somente para conseguir toca-la novamente. Beija-la novamente. Ainda não acredito que alguém teve coragem de matá-la. Tudo bem, Lucy não era flor alguma, era irritada com a vida e os palavrões saiam frequentemente de sua boca, mas fora isso ela era boa, normal. Não sei porque alguém a mataria, mas se a matou vou procura-lo.
Até os confins da Terra.
E vou entrega-lo. Vou fazer ele se sentir do jeito que eu me senti quando minha Lucy foi roubada de mim.
Vou fazê-lo sofrer. Como eu sofri por todos esses meses.
"Você precisa me vingar". A voz ecoa em minha cabeça agora, e estou sendo tomado por um espirito louco de vingança que nem eu sabia que existia dentro de mim.
Meu coração, posso sentir, está se transformando em uma cidade fantasma. E há somente uma pessoa que pode concerta-lo.
Acho que estou ficando insano, caro amigo. Mas também acho que é necessário um pouco de insanidade, até para as pessoas mais sãs.
Com amor, Harry.

Com Amor, HarryOnde histórias criam vida. Descubra agora