Capítulo 1

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-Elizabeth, venha apresentar-se à turma.

Acordei dos meus pensamentos quando apercebi que me haviam chamado. Pedi à professora que repetisse o que dissera e, quando esta o fez impacientemente, eu dirigi-me preguiçosamente para a frente da minha turma. Comecei por analisá-la antes de começar a falar. Era o primeiro dia de aulas, por isso não se encontravam lá todos os alunos. Uns estavam a conversar, outros a mexer no lápis, outros nervosos pela sua vez de apresentarem-se e outros simplesmente a prestarem atenção.

A professora deu sinal para eu começar a falar e limitei-me a dizer o que todos já haviam dito.

-Eu sou a Elizabeth, tenho 16 anos e mudei-me recentemente para esta cidade.

As aulas continuaram lentamente e, como sempre, não fiz amigos. E isso não me incomodava, bastava-me ser simpática para os meus colegas e ficar sozinha. E quando desse para fazer amigos, não teria problemas em fazê-los.

Quando as aulas acabaram, saí da escola e fui caminhando para casa pelo caminho mais comprido. Queria passear, sozinha.

As ruas encontravam-se cheias de gente, mas o seu número foi diminuindo à medida que eu caminhava.

Dei por mim a entrar numa pequena floresta com uns grandes pinheiros-bravos, uma montanha relativamente grande e no meio um pequeno caminho de terra por onde eu estava a passar.

Estava a caminhar calmamente e, mais uma vez, fui interrompida dos meus pensamentos quando, inesperadamente, uma figura sombreada surgiu no chão. Detectei a origem da sombra no cimo da montanha e vi um rapaz com os seus cabelos loiros suspensos no ar.

Agora, eu estava sobre a sombra a contemplar a beleza de um rapaz moreno a formar uma espécie de eclipse à sua volta. De olhos fechados e braços abertos, o rapaz parecia estar a despedir-se do mundo. Por este pensamento, desatei-me a gritar freneticamente mas foi em vão, a montanha era demasiado alta e ele não me ouvia.

Ele saltou e eu desesperei-me. Ele estava a segundos de morrer e, indubitavelmente, eu estava a assistir a um suícidio.

O meu estado de espírito mudou repentinamente e fiquei surpreendida ao ver o mesmo rapaz a voar. Sim, a voar. Inutilmente, esfreguei os meus olhos com esperanças de que tivesse a ter um sonho. Mas eu voltei-os a abrir e continuava a ver um homem-voador no céu.

Ele aterrou desajeitadamente, e eu corri até ele.

-Estás bem? - perguntei descaradamente, é claro que ele não estava bem.

Ele agora já estava com os olhos abertos e surpreendido. Estava claro que ele não entendia o que acontecera e que, pelos vistos, tencionava mesmo suicidar-se.

Ele não respondeu. E ainda com cara de surpresa, olhou para cima e depois olhou para mim. E eu fiz o mesmo, olhei para cima e depois para ele.

-Ãã... Sim, eu estou bem. - respondeu enquanto se levantava desajeitadamente e desatou a correr por entre as árvores confuso.

Fiquei a olhar para ele a correr estupefacta.

Deixei passar este momento inesperado e decidi não pensar mais nisso. Não havia mais nada que eu pudesse fazer e a minha curiosidade só me ia matar.

A tarde arrastava-se, ensolarada e sem pressas, ao encontro da noite. E, lentamente, fui para casa.

-Olá filha! Como foi a escola?

-Normal.

A minha mãe é dona de uma loja de roupa e o meu pai é cientista de genética. Ele iria adorar saber o que aconteceu hoje... No entanto, não lhe disse nada, pois duvido que ele fosse acreditar. Nem mesmo eu acredito, neste pequeno prodígio.

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-Pai, como explicarias cientificamente se visses alguém a voar? - perguntei, ao jantar, na esperança de entender o que acontecera hoje. Apesar de eu querer deixar passar, as perguntas pairavam na minha cabeça como moscas e criar ao menos uma teoria poderia acalmar-me.

-Bem, podiam ter mudado a genética dessa pessoa associando-lhe à de um animal voador. Mas por que perguntas isso Elizabeth?

-Por nada pai, lembrei-me agora.

A conversa foi decorrendo e o meu pai e a minha mãe conversavam. E eu fiquei a pensar na "teoria" do meu pai e achei interessante. Agora que tinha ao menos um pouco da minha curiosidade morta, perguntei-me por que queria o rapaz suicidar-se.

Como a minha curiosidade me mata..

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