Capítulo 3

20 1 0
                                    

Quando John apareceu com o olho todo negro na escola, as pessoas só exclamavam que não admirava ele ter-se metido em encrencas. Não só aparecera com o olho negro como também com o nariz todo arrebentado. Talvez esteja a exagerar, o nariz não estava assim muito arrebentado, apenas um bocadinho.

Durante um mês inteiro, ele não voltou a falar-me e ao fim de duas semanas depois do incidente, as pessoas lá da escola já tinham descoberto que tinha sido eu a dar-lhe um murro. Pois alguém vira um vídeo do incidente no café e espalhara pela escola inteira. E as pessoas começaram a chamar-  -me doida e maluca.

A Silver também viu e segundo ela, foi a melhor coisa que alguém poderia ter feito nos últimos séculos naquela escola. Talvez tenha sido, com o medo que as pessoas têm dele. Ainda não percebi bem isso. Qual é o problema dele? Na minha escola anterior havia um rapaz que se vestia da mesma forma que ele e andava sempre sozinho. E a única coisa que as pessoas comentavam era que ele era um esquisito. Por isso pus de lado o visual, decerto que não era isso que incomodava as pessoas.

Como mencionei atrás, ele não me falou durante um mês inteiro o que quer dizer que ao fim desse mês ainda dirigiu-me algumas palavras, ou seja, as primeiras palavras depois do incidente.

Estava na aula de Química e o professor falou:

-Vamos fazer uma experiência, a pares como estão agora. Está tudo na página 47 do vosso manual.Se tiverem alguma dúvida chamem- -me.

E ainda fez questão de perguntar-me uns segundos depois, quando já abrira o manual.

-Ah, Elizabeth. Se quiseres podes juntar-te à mesa da frente ou não fazer a experiência, como preferires.

-Então e o John, professor?

-Duvido que ele queira fazer com alguém a experiência.

Olhei para John e perguntei-lhe sem que o professor ouvisse se não se importava que eu ficasse com ele, ao que ele respondeu afirmativamente.

Voltei-me para o professor e disse-lhe que estava bem com ele.

Começámos a fazer a experiência com o material que já estava em cima da bancada.

-Sabes... O murro que me deste doeu bastante...

-Pois, da próxima vez esquiva-te. -disse ironicamente, ao lembrar-me que o gelado caiu ao chão, por ele ter-se esquivado.

Ele riu-se e depois perguntou:

-Então, mas fazemos as pazes ou não?

Ele estendeu-me a mão dele, com a ideia de dar um aperto de mãos.

Dei-lhe a minha mão e quando apertámos as nossas mãos, eu virei-lhe o pulso que lhe provocou uma dor agonizante. Ele deu um grito de dor e a turma toda ficou a olhar. Comecei a rir-me para mim própria para não chamar atenções. Ninguém disse nada, nem mesmo o professor.

-És má. - sussurrou-me em tom de brincadeira.

Não respondi e ele voltou a perguntar:

-Agora a sério, amigos?

Estendeu-me a mão outra vez. E eu fiz-lhe o mesmo, achei que já lhe tinha feito o suficiente. Por isso, sim amigos. 

Continuámos o trabalho enquanto falávamos e mandávamos piadas.

Quando acabámos a experiência, o professor ficou espantado por não haver nem um erro. E ainda teve a lata de perguntar se o John tinha colaborado no trabalho. Eu respondi cínica que ele havia dado toda a sua devoção, exagerando um pouco.

Saí da sala com o John e não dissemos mais nada. Ele segui numa direcção fazendo um "adeus" com a mão. E eu segui noutra direcção fazendo-lhe o mesmo. Íamos ter disciplinas diferentes e foi por isso que seguimos rumos diferentes.

A Carolina da minha turma ainda me disse que eu era maluca e quando lhe perguntei porquê, ela não respondeu. A Silver estava à minha espera sentada num banco a mexer no telemóvel. Cumprimentei-a e perguntei-lhe por que estava ela à minha espera.

-Queria perguntar-te se querias vir à minha festa de anos. - explicou-me estendendo-me um convite com o dia, a hora e o local da festa.

-Claro, eu vou. Quantas pessoas convidaste?

-Umas duzentas ou mais não sei.

Ri-me, ela era mesmo maluca. 

Continuámos a conversar sobre a festa de anos dela, até dar o toque para a entrada.

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Tive tarde livre e fui passear até um parque onde se encontravam várias crianças a brincar. Sentei-me num banco e pus os fones nos ouvidos. E fiquei ali durante uma hora a ouvir Red Hot Chili Peppers.

Uma criança nos seus 8 anos chega- -se ao pé de mim. Era uma rapariga, com a pele escura, uns olhos azuis e com o cabelo entrançado. Estendeu-me umas flores, rosas vermelhas misturadas com malmequeres brancas. Sorri e murmurei um "obrigada" para ela.

-Podes brincar comigo? - ela perguntou-me.

-Onde estão os teus pais? - perguntei-lhe preocupada se ela estaria perdida ou não.

Ela acenou um não pondo uma cara triste e arrisquei a perguntar-lhe:

-Não tens pais?

Ela voltou a acenar um não ainda com uma cara triste.

-Onde vives?

Ela apontou para uma casa perto do parque para crianças órfãs e decidi não fazer-lhe mais perguntas visto que ela estava triste.

-O que é que queres brincar? - perguntei-lhe tentado animar-lhe, o que fez efeito.

Já muito contente e animada, pediu- -me para lhe empurrar no baloiço que estava a uns quilómetros ao nosso lado.

Fiquei mais duas horas a brincar com a Anne, como ela disse que se chamava, e a apanhar flores. Até que uma mulher velha e carrancuda chama-a. Ela vira-se para mim e pergunta-me:

-Voltas cá para brincar comigo?

-Claro Anne. Queres que eu volte cá amanhã? - perguntei-lhe fazendo-lhe uma festa na cabeça.

Ela acenou que sim e correu em direcção à mulher.

Já faziam seis da tarde e fui para casa estudar.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 13, 2013 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

ViverOnde histórias criam vida. Descubra agora