A visita - PARTE II

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Ao perceber que não fazia sentido permanecer ali, Sherman começou a se retirar, deixando para trás a garota assustadora com suas mãos em seus jeans enquanto encarava a sepultura.

- Onde você vai? - Ela perguntou chegando mais perto - Ainda temos outra visita a fazer!

- Quer parar? Isso tá me chateando! Para de dar uma de fantasma do natal passado, presente e futuro, para de querer me confundir! Você não é legal, eu sei disso porque eu sinto medo de você, por quê eu teria se você fosse boa? Só quero que se afaste, estava melhor sem você.

- Melhor sem mim? Tudo bem. Mas você vem comigo de uma forma ou de outra.

De repente brotou uma flor de um dos túmulos, a flor era de coloração violeta, amarelo e vinho. Ela se abriu bem em frente ao rosto do garoto e espirrou um pó, ele desviou, mas de qualquer maneira foi surpreendido pelas folhas planta. As folhas o agarraram e suspenderam no ar, depois de tê-lo deixado imóvel, a planta borrifou mais uma vez. Agora nosso querido protagonista está desmaiado no colo de uma planta.

Horas depois Sherman desperta, agora preso à um banco de igreja. Olhou para suas mãos à procura de uma forma de soltá - las, mas não havia nada ali.

Ruth estava sentada em um banco de madeira de frente para uma janela, perdida em seus pensamentos, demorou a perceber que Sherman a chamava.

- Ruth, sua bruxa desgraçada, me tira daqui!

- Já acordou? - Disse e logo depois desfez a hipótese que o prendia ao banco.

Depois de liberto, Sherman se aproximou e a segurou pelo pescoço com toda a força que lhe restava.

- Nunca mais faça isso!- gritou no rosto da garota.

- Se você fizer isso toda vez que eu quiser te levar a algum lugar, eu dou um jeito de te levar contra sua vontade. Agora solta meu pescoço.

Ele então a soltou e a encarou.

- Onde estamos?

- Em uma igreja.

- Por quê queria me trazer aqui?

- Está quase na hora. Daqui a... Agora! - disse com entusiasmo.

- Veio me trazer para um culto?

- Cala a boca! E não tem culto hoje, é quarta.

Uma garota de olhos escuros e cabelos da mesma cor, usando um vestido solto meio desbotado apareceu no meio do grande e quase vazio salão da igreja.

Sherman a encarava curioso. Ruth viu o olhar do rapaz mudar instantaneamente ao ouvir o som das primeiras notas do piano serem tocadas, os olhos dele se arregalaram e se encheram de lágrimas ao ouvir a doce voz da garota.

Além do rio azul
As ruas são de ouro
e de cristais
Ali tudo é vida, ali tudo é paz
Morte e choro,
Nunca mais...

A vontade de Sherman era sair correndo, chorar até não poder mais. Esse coração humano é frágil de mais. Porém, tudo o que ele fez foi olhar para Ruth que estava parada ao seu lado.

- O que você pretende me mostrando essa garota?

- Você precisa parar de se culpar e parar de procurar um culpado pela morte de Madeleine. Então te trouxe para ver a culpada.

- Ela?

Sherman estava confuso, como poderia uma jovem tão linda e frágil, ter assassinado Madeleine?

- Sim, não acredita?

- Eu só não intendo como...

- Ela teria assassinado Madeleine? Fácil, não foi ela. Foi por causa dela.

- Como assim?

- Vamos lá para fora.

Saíram da igreja sem que a garota os visse, afinal, estavam enfeitiçados. Já do lado de fora, ainda ouviam o som do piano sendo tocado pelas ágeis mãos da garota. Sentaram - se em um banco de praça que havia no jardim.

- Por onde quer começar?

- Não enrola!

- Ok. Bem, Sherman, essa garota que você viu é cristã. Todos sabem da ligação que eles tem com Deus. O que é algo realmente invejável. Tudo o que eles pedem, o Pai deles dá.

- E...

- Sherman, ela pediu você.-Sherman não entendeu nada, principalmente o tom de tristeza na voz da bruxa.

- Ok, bruxa. Seja útil e explique direito.

- Eles são assim, pedem para Deus preparar alguém do jeito que eles querem. Ela descreveu você. Tecnicamente, Madeleine nem deveria existir, ela estava com você e os espíritos viram que isso iria interferir na vida dessa garota. Mas ainda assim, permitiram que você conhecesse Madeleine para tornar você humano outra vez.

A essa altura da conversa Sherman já estava transbordando em lágrimas. Como poderiam ser tão cruéis? Ele nunca amaria essa garota! Ela foi a culpada da morte de Madeleine, nunca mereceria amor nenhum da parte dele.

- Você foi trazido de volta pelas orações dela. Deus deve amar a ela de uma forma infinita...- Esta última frase era mais para si do que para ele. Estava maravilhada com o que o Criador é capaz de fazer.

Ruth desejava esse amor para ela também, mas sempre pensou que por ser bruxa, Deus nunca a amaria. Mas sempre fez o que pôde para estar perto dos cristãos, gostava de aprender sobre esse Deus de amor.

Já Sherman desejava distância desse Deus. Quer dizer que tudo o que ele viveu era por ela? Por essa garota desconhecida? Ele não ficaria com ela jamais.

- Como faço para voltar a ser vampiro? - ele nunca imaginou dizer isso, mas talvez esta fosse a única saída.

- Você não pode fazer isso! Tem que seguir o " roteiro". Os espíritos vão ficar bravos.

- Que fiquem. A vida é minha, faço dela o que eu quiser.

- Mas e Madeleine? Morreu por nada? Os espíritos só podiam deixar um viver, poderia ter sido ela, mas foi você!

- "Porque em todos os
momentos de nossa vida existem coisas que podiam ter acontecido, e terminaram não
acontecendo." Não é assim?

- Tudo bem, Sherman, eu te ajudo com isso...

- Não quero sua ajuda, bruxa. Você vai se complicar com os espíritos. Só preciso saber o que fazer.

- Ok. Então agora nós voltamos pra casa e amanhã eu te conto.

A volta para casa tinha tudo para dar certo mas, antes que virassem a próxima esquina, um nevoeiro se fez presente no táxi amarelo.

A verdadeira luz após a morteOnde histórias criam vida. Descubra agora