04| Eu não posso estar casada de verdade

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"Oh eu não preciso de uma mão para segurar

Mesmo quando a noite está fria

Eu tenho aquele fogo na minha alma"

Eu ligo o meu celular e imediatamente me arrependo quando vejo o nome da minha mãe chamando depois de ver que ela tentou me ligas mais de cem vezes. Respiro fundo tentando criar coragem pra ouvir o que está por vir, tenho certeza absoluta que a dona Melissa já sabe o que aconteceu e não deve estar nenhum pouco satisfeita em saber a burrice que sua filha perfeita fez.

- Até que enfim você atendeu! - escuto a voz do meu irmão do outro lado da linha e fico aliviada - Eu estou tentando falar com você a horas!

- Hey, eu estava no voo e só liguei o celular agora. Onde está a mamãe?

- A mamãe tomou um calmante pra cavalo e está apagada no andar de cima - ele diz e eu me sinto super mal pois tenho certeza que ela só fez isso por minha causa - Eu liguei pra te dizer que não venha pra casa. Tem vários fotógrafos e reportes acampados no gramado. Quando a mamãe acordou e foi pegar o jornal na porta quase teve um troço quando foi bombardeada pelos flashs. Eu não sei se ela está mais infeliz pelo seu casamento ou por estar em vários sites de robe e sem maquiagem.

- Oh Deus, ela deve está querendo me matar! - minha mãe é a pessoa mais vaidosa que já conheci, acho que meu pai nunca a viu sem maquiagem. Me matar vai ser pouco! - Ele não pode ser assim tão famoso pra precisar desse alvoroço todo...

- Você está brincando né? - ele ri sarcástico - O cara é mais conhecido no mundo que Jesus. Ele ta invicto nessa temporada e todo mundo ta seguindo ele esperando a vitória dele contra Antony Mcgregor que é o dono do cinturão a três anos já. Eu nem acredito que eu sou o cunhado do cara.

- Você não é cunhado de ninguém! - digo - Isso foi um erro e eu vou conserta-lo o mais rápido possível.

- O papai está te esperando no escritório dele - o Caio me avisa - Ele já está com um representante do seu marido e quer que você se divorcie o quanto antes. Um lutador não é bom o suficiente pra sua princesinha. Ele queria abrir uma queixa de aliciamento de menores acredita? Ainda bem o advogado dele lembrou que com 21 você não é mais menor de idade.

- Ele deve estar muito decepcionado comigo né? - pergunto chorosa.

- Eu não vou mentir.. - ele suspira - Mas vocês vão resolver isso ainda hoje e logo logo o seu marido vai fazer algo ainda mais idiota e a mídia vai esquecer de você, e nossos pais vão te perdoar. Não que casar com você seja idiota... hum.. bem, o cara de conheceu e em menos de 24 horas tinha uma tatuagem com seu nome na bunda. Ele no mínimo não foi discreto.

- Eu sei.. - limpo meus olhos - Bom, eu acabei de deixar a Amanda em casa, já que não posso passar aí vou direto pro escritório do papai.

- Boa sorte maninha, acho que você vai precisar - ele se despede e deisliga.

Eu digo ao motorista o endereço e pego meu óculos escuro na bolsa. Vários números desconhecidos me ligam e quando atendo um é de um jornal querendo uma declaração sobre 'os últimos acontecimentos'. Ignoro as chamadas depois disso. Olho alguns sites e vejo que as notícias associadas ao nome do "Aranha". Vários sites trazem a foto da tatuagem e alguns mostram uma foto minha na festa de aniversário da Amanda no ano passado, eu estou só de biquíni e estou com um copo na mão. O mundo agora acha que eu sou uma vadia bêbada e interesseira.

Várias matérias falam como os assessores do maior lutador de MMA do Brasil estão numa disputa milionária com a caça fortuna mais esperta do ano. Chego no escritório do meu pai já totalmente transtornada por essas noticias. Pago o taxista e corro pro prédio pois não me sinto mais segura na rua. Um dos fã clubes do Aranha começou uma campanha de odeio contra mim. Eu nunca fui de julgar ninguém pela aparência, inclusive a mim mesma, mas aquelas mulheres me fizeram querer ser outra pessoa no todo. Nunca vi comentários tão agressivos e maldosos. Muitas diziam que queriam que eu sofresse, que era muito feia, muito gorda, muito burra... Hoje definitivamente é o pior dia da minha vida! Eu odeio ser eu.

Vou na mesa da patrícia, secretária do meu pai a anos, e quando ela me olha vejo seu olhar de pena e tenho vontade de me jugar em seus braços e chorar. Se controle Sophia, você tem que enfrentar a situação como uma adulta que você é.

- Hey Soph - ela me diz simpática - Seu pai disse pra você entrar imediatamente. Você quer que eu te leve um café ou um chá?

- Eu aceito o chá - tento deixar minha voz firme mas é impossível - Eu vou entrar, não quero fazer meu pai esperar mais.

Bato na porta do escritório do seu Otaviano, meu pai, ele tem uma construtora que é uma empresa da nossa família a gerações como ele lembra constantemente. Não somos ricos, mas temos o necessário pra minha mãe achar que somos. Nunca abri uma porta tão pesada na vida, o que é engraçado porque já vim aqui milhões de vezes antes, mas acho que o peso é na minha consciência.

- Finalmente - meu pai fala - Senhor Matos, essa é minha filha Sophia. Filha, esse é Gregório Matos o empresário do seu... do tal Aranha.

Vejo pelo tom de voz do meu pai que eu estou aqui mais pra ouvir do que pra falar então comprimento o tal Gregório e me sento na cadeira ao seu lado em frente a mesa do meu pai.

- Eu sou empresário e amigo do Felipe, Sophia - ele me diz depois de apertar minha mão - Ele queria vir até você pra resolver tudo mas ele tem uma luta amanhã em Santa Catarina e tem treino hoje, então me pediu pra vir te levar até ele.

- Levar até ele? - meu pai pergunta antes de eu poder abrir a boca pra perguntar o mesmo - Meu senhor, nós estamos aqui pra assinar os papeis de anulação dessa palhaçada. Minha filha não tem nada que resolver com seu patrão. Eles não precisam nem se ver. De agora em diante o seu patrão só falará com ela através de advogados.

- Bom, o Felipe não falou nada sobre anulação - o tal empresário se mantem calmo - Eu cumpro ordens senhor Fontes e dessa vez vim levar a sua filha até o marido dela, só isso.

- Eu vou - digo e até eu mesmo me espanto. Mas eu tenho que resolver isso logo e é melhor resolver diretamente com a fonte.

- Você o quê? - meu pai se vira pra mim como se só agora visse que eu estava lá - Você não vai pra canto nenhum Sophia Fontes!

- Pai, eu tenho que resolver isso - respondo mais calma do que realmente estou - Se ir falar com ele vai fazer ele assinar o divórcio então ótimo!

- Mas eu tenho que me assegurar dos seus direitos...

- Papai! Eu não quero nada desse homem, isso foi um erro e eu tenho que consertar isso mais rápido possível - me levanto.

- Você quer pegar algo em casa senhora Matarazzo? - o tal empresário me pergunta.

- Eu tenho uma mala na recepção e mesmo que quisesse ir em casa não posso, tem um batalhão de paparazzis acampados lá - falo cada vez com mais raiva dessa maldita noite em Las Vegas - E me chame de Sophia, eu não sou senhora Matarazzo coisa nenhuma.

- Okay.. - ele suspira - Bom, o jatinho do senhor Matarazzo nos espera então se não tiver mais nada a ser resolvido aqui podemos ir.

- Então vamos - me viro pra porta mas meu pai segura meu braço enquanto o Gregório sai.

- Filha, não é melhor eu ir com você... ou até o seu irmão?

- Não pai, eu me meti nessa encrenca sozinha e tenho que sair dela sozinha. Quando eu voltar tudo estará resolvido e poderemos fingir que nada disso aconteceu.

Beijo o rosto do meu pai e meu coração aperta quando tenho a sensação que nunca mais o verei. Não posso chorar agora, tenho que enfrentar uma maldita Aranha.


Na Teia do Aranha (AMAZON)Onde histórias criam vida. Descubra agora