DNA

362 30 2
                                    

- Clarisse Evans? - Pergunta a secretária olhando pra mim parecendo surpresa.

- Sim. - Respondo calmamente. - Algum problema?

- Nenhum. É que... A Agatha já me falou de você, mas não imaginei que você fosse assim. - Disse gesticulando na minha direção.

- Assim como? - Pergunto franzindo as sobrancelhas.

- É que eu... Soube pelo que você passou e... Não me parece que você tenha algum trauma emocional por causa da sua mãe... Você é tão bonita... E sua voz é tão doce... Imaginei que uma garota como você teria uma "vida perfeita". - Diz fazendo aspas com os dedos. - Sabe como é, muitos amigos, namorado perfeito, boas notas, família exemplar...

- As pessoas são muito mais do que aparentam ser. - Digo dando um rápido sorriso de canto.

- Desculpe eu não queria ofender...

- Tudo bem, não ofendeu. Será que a senhora pode...

- Ah sim, claro. Agatha! - Uma senhora se aproxima de nós sorrindo pra mim. Agatha era como uma tia pra mim, desde pequena quando eu vinha aqui ela me tratava com muito carinho e ficou comigo nas primeiras vezes, quando eu chorava por causa dela.

- Bom tarde Clary. Tudo bem? - Pergunta sorrindo pra mim, forço um sorriso.

- Tudo. Vamos? - Ela afirma com a cabeça e me guia pelos corredores, durante todo o trajeto permaneço olhando para as costas da Agatha, eu tinha medo de olhar para os lados.

Paramos em frente a uma porta com o número 137, ela se virou pra mim e me deu um sorriso encorajador, fechei os olhos e respirei fundo, Agatha pegou na maçaneta e abriu a porta. Eu entrei e a porta se fechou atrás de mim, encarei a mulher que estava sentada na cama sorrindo pra mim, ela tinha cabelos loiros curtos e os olhos eram castanho claros.

- Oi mãe. - Sinto uma lágrima escorrer pelo canto do meu olho.

- Oi minha filha. Vem aqui. - Ela sorria pra mim e quando me aproximei ela estendeu os braços. Me sentei na cama ao seu lado e a abracei apoiando a minha cabeça no seu ombro, ela acariciou o meu cabelo e eu fechei os olhos. - Você se atrasou. - Falou depois de um tempo quando eu me afastei.

- É, eu sei, desculpe. - Falo abaixando a cabeça constrangida, afinal, o motivo de eu ter me atrasado era um par de olhos azuis muito lindo... MAS POR QUE QUE EU TO PENSANDO NISSO?!?! - Então... Tudo bem com você?

- Você não consegue enganar a sua mãe Clarisse. Quem é o garoto? Ele pelo menos é bonito? - Pergunta sorrindo maliciosa. Eu agarro o travesseiro e bato nela com ele. Minha mãe se afasta rindo que nem uma doida. - Aha! Então tem mesmo um garoto! Você não teria ficado zangada se não tivesse um garoto!

- Mãe! Sua doida! Grita mais alto que eu acho que não te ouviram da muralha da China! - Falo jogando o travesseiro nela.

- Ohh chineses! Eu sabia que tinha um garoto na jogada! - Grita minha mãe. Eu simplesmente olho pra ela com uma cara de "O que você esta fazendo criatura?". - Que foi? Eu sou doida mesmo. Esqueceu onde estamos? Em um hospício!

- Hospital psiquiátrico mãe. - Ela pula na cama.

- É a mesma coisa. - Engraçado que agora ela nem lembra do tal "garoto". - Então como vai a Lynn? Esta cuidando bem dela? E o curso de artes quando começa?

- Sim estou cuidando da Lynn. E o curso de artes começa semana que vem. - Me sento ao seu lado na cama e nós duas nos deitamos encarando o teto que eu e minha mãe havíamos pintado pra parecer o céu estrelado.

- Sabe, acho que ficou bem melhor assim. - Diz minha mãe encarando o teto.

- Também acho. Tirou um pouco o clima de quarto de hospital, deu um pouco de personalidade. - Foi divertido pintar o teto, apesar de ter sido um pouco difícil, afinal, é o teto né.

- Então como vai minha maluquinha? - Diz pegando a minha mão. - E o seu pai?

- Meu pai esta bem. E eu... Sinto que nada dá certo. - Suspiro. - E... Tinha mesmo um garoto. Ele é novato na minha escola. Da minha sala. E... Sei lá, de alguma forma ele parece ser diferente.

- Diferente ruim ou diferente bom?

- Diferente bom, eu acho. Ele me fez umas perguntas estranhas no final da aula, por isso que eu demorei. - Minha mãe pareceu pensativa.

- Perguntas estranhas tipo vamos fazer sexo? Ou tipo a sua casa por acaso é assombrada por espíritos malignos? - Olhei pra ela, e ela olhou pra mim. Desatamos a rir.

- Sua maluca! Nenhuma nem outra. Ele perguntou porque eu ajudei a professora quando ela deixou cair as suas coisas. - Ela franziu a sobrancelha.

- É estranho mesmo, o que mais? - Pergunta se apoiando nos cotovelos e apoiando o rosto nas mãos. Ela estava sentada de barriga pra baixo com as pernas balançando. Parecia até uma adolescente ansiosa por uma fofoca. Dei um pequeno riso e voltei a encarar o teto.

- Ele perguntou se eu não tinha medo. Medo dos outros me julgarem por eu não ser igual a eles. E eu disse que não me importava porque as pessoas já me achavam estranha...

- E ele perguntou porque.

- Sim, acabei comentando de você desculpa...

- Tudo bem. Ai ele perguntou porque. - Ela fez uma cara engraçada. - Que menino curioso meu Deus.

- Eu falei que não era nada mas acabou escorrendo uma lágrima e ele a enxugou. Depois ficou acariciando o meu rosto, e seus dedos tocaram a minha boca.

- Que climão!

- Adivinha o que aconteceu depois!

- O celular tocou. - Disse com uma cara de "Pelo o amor de Deus isso é um complô do universo". - Sempre o celular.

- Falei que tinha que ir. Me despedi e ele não falou nada. Agora estou aqui. - Disse abrindo os braços indicando quarto. Minha mãe se sentou e encarou a porta com uma expressão pensativa.

- Tem alguma coisa com esse menino... Um garoto normal não faria esse tipo de pergunta. - Ela se deitou ao meu lado.

- E que tipo de pergunta um garoto normal faria? - Pergunto olhando pra ela.

- Um garoto normal faria perguntas tipo... Você tem namorado? Me passa seu número? Quer ir em um encontro comigo? - Disse minha mãe imitando, ou melhor tentando imitar, a voz de um menino, nós duas desatamos a rir.

- Ai mãe você não muda nunca. - Digo recuperando o fôlego.

- Isso é que bom em mim. Então, qual o nome do Crush? - Diz com voz maliciosa. Bato tão forte nela com o travesseiro que ela cai no chão. - Que violência jovem! - Diz rindo.

- Boba. Ele não é Crush, pelo menos não meu. E nome dele é Ethan Collins. - Ela fez uma cara pensativa. - Que foi? - Pergunto confusa.

- Esse nome não me é estranho... - Olha as horas no celular e vejo que já são quase duas e meia.

- Bom quando você lembrar você me diz. Tenho que ir. - Pulo da cama e me agacho ao seu lado lhe dando um beijo na bochecha. - Tchau mãe.

- Tchau filha. - Ela sorri, me levanto e ando até a porta, minha mãe acena pra mim. Fecho a porta e saio do edifício, pego o caminho até a minha casa.



Meu Anjo Da GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora