Não consegui mais pregar o olho. Decidi tomar um banho. Entrei no pequeno banheiro e comecei a me despir. O espelho sujo e quadrado refletia um ser pálido e esquelético, mas ainda sim bonito. Sempre me disseram que eu era lindo. Às vezes eu concordava, às vezes não. Meus olhos tão castanhos quanto meus cabelos eram muito comuns. Meu rosto era sem graça e meus olhos fundos demais. Talvez houvesse algum charme nisso tudo.
Quando liguei o chuveiro a água fria caiu sobre meu corpo. Por um momento eu me senti em choque, mas logo depois veio uma sensação prazerosa. Era como se meu corpo estivesse em chamas e a água afastasse aquele sentimento pra longe. Fiquei mais uns 6 minutos ali.
Assim que me enrolei na toalha o meu celular, que estava em cima da cama, apitou. Era uma mensagem da minha mãe. Dizia que ela só chegaria depois das 22:00h. Me sentei no sofá e mais uma vez caí no sono.
Acordei com pancadas na porta. Já passavam das 23:30h, só podia ser minha mãe. Levantei ainda zonzo e me dirigi a porta. Abri. Pisquei três vezes pra poder distinguir as feições da pessoa que estava ali parada no corredor, e não era minha mãe.
- Tobias? - um homem baixo, roliço e com três fios de cabelo na cabeça, trajando um paletó marrom me encarava.
- Sim, sou eu.
- Sou o Greg. Sua mãe me pediu para te entregar isso - ele estendeu um envelope amarelo e saiu às pressas.
- Ei! - eu gritei, mas ele já havia dobrado o corredor. E eu estava sonolento demais pra correr atrás dele.
Um homem que eu nunca havia visto, vem até minha casa entregar algo para mim, supostamente da minha mãe e depois sai correndo. Oque foi isso? E cadê ela?
Sentei no chão do meu quarto e abri o envelope. Havia uma foto de mim e minha mãe na praia quando eu tinha dois anos. Atrás estava um pequeno bilhete com a letra dela.
"Querido toby,
sei que você deve estar totalmente confuso. Mas tenho que ser breve. Eu te amo, não importa oque digam, não importa que todos os fatores apotem o contrário. Saiba que oque eu estou fazendo é por amor, para te proteger.
Com amor, Mamãe."
Era isso. Não havia mais nada. Oque aquilo significava? Minha mãe não havia chegado ainda e um homem tinha entregue uma carta dela. Era isso! Ela fugiu. Me deixou sozinho aqui. E ainda disse que era por amor?
Que mãe deixa o filho menor de idade sozinho em um país estranho? Será que ela havia voltado a beber e conhecido um cafajeste? Só pode ter sido aquele Greg. Eu devia ter ido atrás dele. Eu devo ir atrás dele.Peguei minha jaqueta em cima da escrivaninha e corri para à porta. Desci as escadas dois degraus por vez e voei pela entrada do prédio. A rua estava escura e úmida. Não havia sinal do tal do Greg. Corri pela calçada vasculhando os becos e restaurantes daquele lado. Não havia muito movimento.
Meia-noite, era hora de desistir. Me virei e fui em direção ao apartamento. Não dei cinco passos e parei. Uma sensação de pânico me preencheu. Era como se eu estivesse nu e vários olhos estivessem vidrados em mim. Alguém me observava. Me virei e não vi ninguém. Quando estava prestes a começar a correr algo me impediu. Senti uma pressão no meu braço direito e um vento quente em meu cangote. Depois, tudo ficou preto.
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Love's Kitchen
RomanceTobias ramos é um garoto de 17 que se muda do Brasil com sua mãe, Laura, para morar em Hell's Kitchen, um bairro de Nova York. Deixando a vida difícil para trás, eles esperam recomeçar em um novo país. Porém nem tudo ocorre como planejado e Tobias s...